Produtores de carne estão otimistas com viagem de Lula ao Japão

Petista deve assinar acordo histórico que vai abrir o mercado japonês para a carne brasileira. O Brasil, maior exportador global do produto, tem preços mais competitivos do que os atuais fornecedores, como EUA e Austrália, segundo Abiec

Crédito: Fabiola Testi/Secom-PR
Eduardo Saboia (C) em entrevista viagem do presidente Lula ao Japão

Em meio a queda da popularidade no ambiente doméstico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viaja para Tóquio, entre os dias 24 a 27 de março, na primeira grande viagem internacional do ano do petista — em 1º de fevereiro, ele participou, em Montevidéu, da cerimônia de posse de Yamandú Orsi, presidente do Uruguai. Na visita de Estado ao Japão, o chefe do Executivo busca negociar com autoridades japonesas a abertura do mercado do país asiático para a carne bovina brasileira, uma demanda histórica do setor que é comemorado pela indústria e dada como certa. 

“Confiamos que o presidente Lula envidará todos os seus esforços para que tenhamos sucesso nesse pleito”, informou a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) em nota divulgada à imprensa. A instituição tem trabalhado ativamente para viabilizar esse acordo, em conjunto com o governo brasileiro e o setor produtivo, e as negociações se estendem há quase 20 anos.

“A possível abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira representa um importante avanço para o setor. O Japão é o terceiro maior país importador de carne bovina do mundo, sendo 80% desse volume proveniente dos Estados Unidos e da Austrália. O Brasil, maior exportador mundial do produto, atende cerca de 160 países e busca essa habilitação há quase duas décadas”, acrescentou a entidade. 

Nos últimos dois anos, missões técnicas e diplomáticas registraram avanços expressivos, com inspeções sanitárias realizadas por autoridades japonesas. De acordo com a instituição, o presidente da Abiec, Roberto Perosa, esteve diversas vezes no Japão para tratar do tema e destacou que o Brasil tem um dos sistemas de controle sanitário mais avançados do mundo, cumprindo rigorosamente as exigências de mercados altamente criteriosos, como Estados Unidos, União Europeia e China. 

De acordo com a Abiec, a entrada no mercado japonês permitiria ao Brasil competir com os principais fornecedores do país asiático e fortalecer ainda mais sua posição como referência global em qualidade e sustentabilidade. Além disso, as exportações brasileiras de carne seriam complementares à produção local no Japão, garantindo maior oferta ao consumidor japonês sem impactar a cadeia produtiva do país. 

 A abertura em negociação contempla carnes in natura e congelada  De acordo com a Abiec, o Brasil só exporta carne bovina termoprocessada para o Japão, “em volumes muito pequenos”, mas ainda não há uma estimativa do volume de negócios e o potencial desse acordo de abertura do mercado japonês para a proteína brasileira.

Segundo a entidade, o Brasil tem uma forte competitividade, uma vez que, atualmente, 80% da carne bovina importada pelo Japão vem da Austrália e dos Estados Unidos, a um preço médio de US$ 8 mil por tonelada, enquanto o Brasil “vende carne de qualidade igual ou superior por cerca de US$ 5 mil”. Isso significa uma economia para os japoneses de 37,5% se começarem a comprar a carne brasileira.

Além disso, mais da metade do consumo de carne bovina no Japão depende de importações, e a demanda japonesa supera a marca de 700 mil toneladas por ano. “O Brasil tem grande capacidade de fornecimento e pode complementar a produção local sem competir com os produtores japoneses. Embora o país possa exportar qualquer tipo de carne para o mundo, o foco na Ásia está na carne para ingrediente, que atende à demanda específica do mercado japonês”, informou a Abiec ao Blog.

Laços antigos

Em 2025, Brasil e Japão completam 130 anos de relações bilaterais. As relações entre os países foram estabelecidas em 1895, com a assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação. O acordo permitiu abertura recíproca de representações diplomáticas em 1897 e abriu caminho para o início da imigração japonesa, em 1908.

O país conta com a maior população nipodescendente fora do Japão, estimada em mais de 2 milhões de pessoas, e a nação asiática abriga a 5ª maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 211 mil nacionais. Os dois países mantêm Parceria Estratégica e Global que completa uma década em agosto deste ano.

“O Japão é uma grande economia, nosso mais tradicional parceiro na Ásia e é a nona origem de investimentos estrangeiros no Brasil, com um estoque de US$35 bilhões de investimentos nos últimos três anos. O objetivo da visita é dar impulso a setores prioritários, além de novos setores na relação. A gente tem como base essa boa relação de vínculos humanos, econômicos, mas queremos avançar. Uma das nossas expectativas é a abertura do mercado japonês para produtos brasileiros, especialmente carne bovina e suína in natura”, destacou o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, em conversa com jornalistas na manhã de sexta-feira (14/3).

Segundo o diplomata, há expectativa de avançar na discussão das relações entre Mercosul e Japão, além de buscar atrair mais investimentos japoneses no país. “Existe uma complementaridade entre as economias, existem grandes oportunidades para investidores japoneses, que já conhecem o Brasil, para ampliar as parcerias público-privadas”, pontuou Saboia.

Após a visita à capital japonesa, Lula estenderá a viagem para Hanoi, no Vietnã, nos dias 27 a 29 de março.  De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, esta é a quinta vez que o presidente brasileiro visita o Japão e a segunda visita de Lula ao Vietnã — o segundo país do Sudeste Asiático a se formar parceiro estratégico do Brasil — com o intuito de estreitar a parceria estratégica, o diálogo político e a cooperação econômica bilateral.

Em 2024, Brasil e Japão registraram intercâmbio comercial de US$11 bilhões, com superavit brasileiro de US$ 146,8 milhões, de acordo com dados do Itamaraty. O Brasil exporta carne de aves (frescas ou congeladas), alumínio, carne suína, celulose, café não torrado e minério de ferro, entre outros produtos. As importações são compostas por partes e acessórios de veículos automotivos, instrumentos e aparelhos de medição, motores de pistão e demais produtos da indústria de transformação. No ano passado, Brasil e Vietnã, quinto maior destino global de exportações do agronegócio brasileiro, registraram intercâmbio comercial de US$ 7,7 bilhões, com superavit brasileiro de US$ 415 milhões. Segundo o MRE, a meta do governo brasileiro é que esse volume chegue a US$15 bilhões neste ano.