O Banco Central revisou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano de 1,9% para 2,1%, conforme dados do Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado na manhã nesta quinta-feira (26/6), mas manteve a perspectiva de desaceleração da atividade ao longo do ano, apesar de a atividade ter registrado desempenho acima do esperado, em parte, devido aos estímulos do governo ao crédito.
“Apesar da revisão para cima na projeção de crescimento do PIB em 2025, permanece a expectativa de desaceleração da atividade econômica ao longo do trimestre corrente e do segundo semestre. A moderação esperada decorre da manutenção de uma política monetária restritiva, do reduzido grau de ociosidade dos fatores de produção, da perspectiva de moderação do crescimento global e da redução do impulso da agropecuária registrado no primeiro trimestre”, destacou o documento substituiu o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do Banco Central.
O BC reconheceu no relatório que, no cenário doméstico, os dados de atividade e de mercado de trabalho se apresentaram um pouco mais fortes que o esperado no primeiro trimestre do ano, quando o PIB avançou 1,4% devido ao bom desempenho de setores menos sensíveis ao ciclo econômico, em especial a agropecuária, mas ainda destacou que os estímulos ao crédito consignado ajudaram no aumento do consumo doméstico.
De acordo com o RPM, a mudança nas projeções “refletiu a surpresa ligeiramente positiva no resultado do primeiro trimestre” e também incorpora o aquecimento além do esperado do mercado de trabalho no início do segundo trimestre e – ainda que sob elevada incerteza – algum impacto sobre consumo e PIB das alterações no crédito consignado a trabalhadores do setor privado. Com a resiliência do mercado de crédito, o BC ainda elevou de 7,7% para 8,5% a projeção de crescimento do crédito em 2025.
Inflação desancorada
O Banco Central reconheceu que, apesar da continuidade do aperto monetário, o Banco Central reconheceu que a atividade mais forte contribuiu para que a inflação continue acima do centro da meta no acumulado em 12 meses, de 3%, até o horizonte relevante que é monitorado pela política monetária. Neste relatório, o horizonte relevante da política monetária considerando é o quarto trimestre de 2026, que tem o indicador do custo de vida projetado em 3,6%.
“A inflação se mantém acima da meta e as expectativas de inflação permanecem desancoradas”, afirmou o BC no RPM. O relatório ainda destacou que, no acumulado em 12 meses, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou de 5,06%, em fevereiro, para 5,32%, em maio, ficando levemente abaixo do projetado no relatório anterior, divulgado em março, mas ainda acima do teto da meta, de 4,50%.
“Considerando a série trimestral dessazonalizada, tanto a inflação cheia como a média dos núcleos foram ligeiramente menores que no trimestre anterior, mas continuam acima da meta”, destacou o texto, que ressaltou que, nos horizontes mais longos, não houve melhora para as estimativas do indicador do custo de vida, apesar do recuo das projeções para o IPCA acumulado em quatro trimestres, de 5,40% a 5,50%, para 4,9%, no fim deste ano; passando para 3,6%, em 2026, e para 3,2%, no quarto trimestre de 2027.
O relatório ainda reforçou o comunicado do Copom na última reunião, quando reconheceu que, “em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”. “O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, emendou.
Cenário externo
Assim como no comunicado e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da última semana, quando o Banco Central aumentou, por unanimidade, a taxa básica da economia (Selic) em 0,25 ponto percentual para 15% ao ano, o Relatório de Política Monetária demonstrou preocupação com o o aumento das incertezas no cenário internacional.
“O ambiente externo mantém-se adverso e segue exigindo cautela por parte de países emergentes. O cenário se mostra particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos”, destacou o documento. “O comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. O acirramento da tensão geopolítica adiciona ainda mais incerteza a esse quadro”, acrescentou o texto.
Contas públicas
De acordo com o BC, o quadro fiscal tem se caracterizado por expectativa, por parte dos analistas, de resultados primários deficitários e de dívida pública crescente e a evolução da situação fiscal piorou desde a última reunião do Copom. “A execução do orçamento continuará desafiadora nos anos seguintes”, informou o documento no qual o BC lembrou que o governo sinalizou no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) mais recente que perseguirá metas de superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) de 0,50%, 1% e 1,25% do PIB, de 2027 a 2029, respectivamente.
“Ao projetar as despesas primárias a partir de 2027, o governo deixou clara a dificuldade do retorno ao teto de despesas do Novo Regime Fiscal da parte dos precatórios que havia sido excluída deste limite por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)”, acrescentou o texto. Essa manobra contábil, embora permitida pelo STF, é que tem garantido o cumprimento da meta fiscal em 2024, neste ano e no próximo, provavelmente, de acordo com analistas.