As indústrias automobilísticas sediadas no Brasil não têm relação importante de comércio – tanto importação como exportação – com os Estados Unidos. Mas as altas tarifas globais impostas ao comércio internacional pelo governo Donald Trump vão afetar negativamente os investimentos planejados até o fim da década. “Sim, vamos ter impacto. E será relevante”, explica o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite.
De que forma os produtores brasileiros serão impactados? “Peguemos o México, por exemplo”, diz Lima Leite. “Ele exporta para os EUA 3,2 milhões de carros por ano, ou 76% de toda sua produção. Então, os fabricantes de lá terão que ir produzir nos EUA”, explica ele. Com isso, suas plantas fabris ficarão ociosas. “Obviamente, por que as empresas irão investir na América do Sul se podem apenas usar essa capacidade ociosa?”, analisa.
Em suma: parte do que está previsto como investimentos no Brasil pode ser prosseguimento abortado ou mesmo deslocado para o próprio México – e tanto aqueles destinados a veículos quanto ao setor de autopeças. O país da presidente Claudia Sheinbaum tem 37 plantas de veículos e mais de 1.000 fábricas de autopeças. E, vale lembrar, um acordo de livre comércio no Brasil.
O raciocínio de mudança de foco sobre o local para investimentos vale para países como Canadá. Ele exporta para os EUA cerca de 900 mil unidades, o equivalente a 69% de sua produção. A Coreia do Sul, por sua vez, manda 1,6 milhão de veículos ao país de Trump – ou 38% do que fabrica. “As empresas destes países vão refazer todo o planejamento. E isso vai ameaçar o Brasil”, reforçou o dirigente da Anfavea.
Com novos aportes de fabricantes anunciados no último mês, o ciclo atual já supera R$ 123 bilhões de investimentos ativos desde 2021, sem contar os do restante da cadeia automotiva. Até o fim da década, serão algo em torno dos R$ 180 bilhões no Brasil
Os diretores da Anfavea, reunidos em Brasília, também comentaram sobre outros fatores de preocupação. O mais premente diz respeito à maciça importação de carros chineses. A entidade quer a antecipação da elevação das tarifas para carros eletrificados importados. “Não somos contra a vinda dos chineses, mas eles têm que produzir e gerar empregos aqui”, ressaltou o dirigente.
Por sua vez, os chineses que a redução de tarifas para a produção em CDK (que chegam totalmente desmontados) ou SKD (que chegam semidesmontados). “Isso não pode passar. O impacto nos investimentos das montadoras com produção local será afetado”, reforçou.
A Anfavea também prevê, com as tarifas de Trump, que a produção dos Estados Unidos perderá 1 milhão de veículos (de 15,9 milhões para 14,9 milhões). Os preços subirão entre US$ 3 mil e US$ 12 mil. Por fim, alerta que a inflação vai subir e reduzir o nível de emprego, da produção e das vendas.
Outros efeitos globais
- Queda da demanda global, afetando o PIB mundial e o mercado de autoveículos
- Alteração da cadeia logística global e seus custos associados
- Redirecionamento das exportações para outros mercados
- Falta de previsibilidade ocasionará atrasos e indefinições nos investimentos
- Aumento da capacidade ociosa no mundo
- Insegurança e falta de previsibilidade de acordos comerciais