Rio usa carretas movidas a biometano do próprio lixo

Parceria entre a Ciclus Rio e a Comlurb inaugura modelo de economia circular que reduz em até 99% as emissões no transporte de resíduos

Biometano reduz até 99% das emissões de gases de efeito estufa e economiza mais de 5,7 mil litros de diesel por carreta. Foto: Divulgação.

A cidade do Rio de Janeiro acaba de dar um passo simbólico e concreto rumo a uma gestão de resíduos mais sustentável. As primeiras carretas da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) movidas a biometano produzido a partir do próprio lixo começaram a circular esta semana.

O projeto é  desenvolvido pela Ciclus Rio, empresa responsável pelo tratamento e destinação dos resíduos sólidos urbanos da capital fluminense.

Os novos veículos, que transportam rejeitos das estações de transferência para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR Rio), são abastecidos com combustível gerado no próprio aterro sanitário de Seropédica, a partir do biogás extraído da decomposição da matéria orgânica. 

Segundo a Ciclus, o uso do biometano reduz em até 99% as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e evita o consumo de mais de 5,7 mil litros de diesel por carreta a cada mês.

Na prática, o modelo estabelece um ciclo fechado de valorização ambiental: o lixo coletado pela Comlurb é levado às estações de transferência e, em seguida, ao aterro sanitário. Lá, a decomposição da matéria orgânica gera biogás, que é purificado e transformado em biometano — combustível que abastece as próprias carretas que retornam à cidade para buscar novos resíduos, fechando o ciclo da economia circular.

“É muito gratificante e simbólico podermos abastecer as carretas com o biometano produzido a partir dos próprios resíduos que coletamos e tratamos”, afirmou Bruno Muehlbauer, diretor-presidente de Resíduos da Ciclus Ambiental. “Esse projeto mostra como os rejeitos podem se transformar em ativos que retornam à sociedade em forma de energia limpa, reduzindo o impacto ambiental e contribuindo para o combate às mudanças climáticas”, completou.

A Comlurb também celebra a iniciativa como um marco na estratégia de descarbonização da frota. “A adoção do biometano inaugura uma nova etapa para a companhia. É uma medida concreta de transição para um combustível renovável, que reforça nosso compromisso com um Rio de Janeiro mais verde e resiliente”, disse o presidente da empresa, Jorge Arraes.

Energia que vem do aterro

O CTR Rio, em Seropédica, recebe diariamente mais de 10 mil toneladas de resíduos da capital. Desse volume, a Ciclus é responsável por cerca de 10% de todo o biogás produzido no Brasil. O gás captado nos drenos verticais do aterro é processado em uma planta de purificação, que gera cerca de 130 mil metros cúbicos de biometano por dia — combustível que abastece tanto a indústria quanto veículos pesados.

Além disso, parte do biogás é direcionada a uma planta de geração de energia elétrica, ampliando o aproveitamento dos resíduos como fonte de energia limpa.

Ao converter rejeitos em combustível, o Rio de Janeiro reduz significativamente sua pegada de carbono e mostra como a economia circular pode gerar valor econômico e ambiental, um conceito que ainda engatinha em muitas cidades brasileiras.