Não só de Amazônia que se vive o Brasil

Ao celebrar o Dia do Cerrado, lembramos que o Brasil não vive só da Amazônia. Outros biomas são vitais para água, biodiversidade e economia

Área desmatada no Cerrado. Foto: Adriano Gambarini/ WWF Brasil/ Divulgação
Área desmatada no Cerrado. Foto: Adriano Gambarini/ WWF Brasil/ Divulgação

*Vitoria Junqueira, head de mobilização e relações institucionais da Aliança pelo Impacto

Quando a mídia e a política mundial olham para o Brasil, a Amazônia domina o cenário. Essa concentração de holofotes, embora compreensível, ofusca a realidade de que a força e a diversidade do nosso país residem em todos os seus biomas. O Dia do Cerrado, em 11 de setembro, não é apenas uma data ambiental, mas um lembrete político de que a agenda nacional precisa dar voz e vez a outros ecossistemas. O Brasil precisa de mais do que apenas a Amazônia.

O Cerrado, muitas vezes negligenciado, é o coração hídrico do Brasil, e por isso, o berço de grande parte da vida e da economia da América do Sul. Vários estudos e pesquisas científicas, de instituições como a Embrapa e a UnB, comprovam sua importância: o Cerrado é a origem de oito das doze grandes bacias hidrográficas do Brasil, funcionando como uma “esponja” que absorve e distribui a água. Valorizar o Cerrado não é apenas uma pauta ambiental, é uma estratégia crucial de segurança nacional e econômica. A mudança de narrativa já está em curso, impulsionada por iniciativas locais que mostram a verdadeira face do impacto e da inovação.

Do Campo à Tecnologia: O Poder das Soluções Locais

A força do nosso desenvolvimento sustentável está nas soluções que nascem em diferentes cantos do Brasil, redefinindo o que é ser um país de vanguarda. Três exemplos se destacam nessa nova narrativa:

  • VerdeNovo: Este negócio de impacto ambiental é a prova de que a conservação pode ser economicamente viável. Ao fortalecer a cadeia de coletores de sementes nativas do Cerrado, a VerdeNovo não só promove a restauração de áreas degradadas, mas também gera renda e capacitação para as comunidades locais. Essa abordagem mostra que a biodiversidade pode ser a base de uma economia regenerativa.
  • UNICAFES: A União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária demonstra a importância do setor cooperativo na inclusão social e na sustentabilidade. A UNICAFES atua na articulação de iniciativas econômicas que empoderam cooperados e cooperadas, comprovando que o desenvolvimento sustentável é inseparável da justiça social.
  • Bruaca: Esta plataforma digital é um exemplo perfeito de como a tecnologia pode ser usada para dar visibilidade a narrativas que fogem dos clichês. O Bruaca mostra que o Pantanal não se resume a “homem a cavalo”, mas é um ecossistema vibrante de soluções inovadoras, muitas delas lideradas por mulheres. O projeto demonstra a urgência de valorizar a identidade regional e a capacidade da cultura local de impulsionar a sustentabilidade.

Ainda há outros casos que demonstram o mesmo poder, como a FITOS ELOVERDE, que transforma a biodiversidade em bioeconomia, e o Projeto ABC Cerrado, que apoia produtores rurais na transição para práticas sustentáveis. Juntos, eles formam um ecossistema de impacto que já contribui de maneira significativa para o Brasil.

A narrativa de que o Brasil é apenas um “país-floresta” limita nosso potencial no cenário global. Precisamos de uma visão política mais ampla que reconheça a importância estratégica de todos os nossos biomas. Ao valorizar as soluções que nascem do Cerrado, do Pantanal e de outros ecossistemas, estamos construindo um Brasil mais resiliente, mais equitativo e, de fato, mais poderoso. A Amazônia é vital, mas é hora de lembrar que o Brasil respira por muitos outros pulmões.

Sobre Vitória Junqueira
Head de Mobilização e Relações Institucionais da Aliança pelo Impacto, Vitória é entusiasta do empreendedorismo e da capacitação de pessoas por meio do trabalho e da promoção da igualdade de oportunidades. Acredita no potencial econômico das mulheres, na equidade de gênero e raça no mercado de trabalho, e na construção de um setor público mais responsável, eficiente e tecnologicamente avançado.

Formada em Administração de Empresas pela FEA-USP, com foco em marketing e gerenciamento de projetos e novos modelos de negócios, é especialista em Gestão de Políticas Públicas pelo Insper.