Desmatamento pode custar US$ 279 bi às empresas

Relatório do CDP revela que companhias seguem subestimando riscos florestais e podem enfrentar impactos quatro vezes maiores que os reportados

Foto: Polícia Federal.

O desmatamento saiu definitivamente da esfera ambiental e entrou no centro do risco financeiro global. É o que mostra o Forest Risk Brief 2025, apresentado pelo CDP durante a COP30. Segundo a plataforma internacional de divulgação ambiental, as empresas podem enfrentar até US$ 279 bilhões em perdas associadas ao desmatamento, um valor quase quatro vezes superior ao que elas mesmas reportam hoje.

O diagnóstico expõe uma distorção estrutural, companhias diretamente expostas a commodities de risco florestal — como soja, carne, óleo de palma, borracha e madeira — ainda não conseguem mensurar o tamanho real da ameaça econômica que correm. 

De acordo com o CDP, metade dessas empresas sequer quantifica financeiramente sua exposição, apesar de anos de compromissos públicos de sustentabilidade e metas de desmatamento zero.

A lacuna também se estende ao sistema financeiro. O relatório aponta que 129 grandes instituições financeiras, responsáveis pela gestão de trilhões de dólares, afirmam não ter clareza sobre se financiam ou não empresas ligadas a cadeias produtivas associadas ao desmatamento. Na prática, operam às cegas, sem ferramentas adequadas para identificar riscos socioambientais que podem comprometer retorno, reputação e solvência.

Reguladores apertam o cerco 

A entrada em vigor de normas mais rígidas, como o Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), transforma rapidamente essa falta de transparência em um risco palpável de mercado. Empresas que não comprovarem que seus produtos são livres de desmatamento podem perder acesso a mercados estratégicos, sofrer rebaixamentos de classificação de crédito e enfrentar maior desconfiança de investidores.

Em setores como alimentos, bebidas e agronegócio, a vulnerabilidade é ainda mais evidente, 76% da receita média dessas empresas depende diretamente de commodities vinculadas a risco florestal, aponta o CDP. Ou seja, não se trata de um problema periférico, mas de um risco material que pode redefinir modelos de negócios inteiros.

Números acendem o alerta

Entre os principais dados do Forest Risk Brief 2025, destacam-se:

  • US$ 279 bilhões em potenciais impactos financeiros — 3,6 vezes o que as empresas reportam hoje;
  • Média de US$ 227 milhões em risco por empresa;
  • Metade das companhias expostas não quantifica financeiramente seus riscos florestais;
  • Instituições financeiras seguem sem dados suficientes para avaliar sua própria exposição ao desmatamento.

A conta da natureza chegou

A análise reforça como o mercado global segue subprecificando o custo econômico da perda de natureza. Se o carbono foi o risco invisível da última década, o desmatamento tende a ocupar esse papel agora, mas com impactos potencialmente mais amplos sobre cadeias produtivas inteiras.

Para o CDP, empresas que investirem desde já em rastreabilidade, transparência e cadeias produtivas livres de desmatamento não apenas reduzirão riscos regulatórios e financeiros, como estarão melhor posicionadas para liderar a próxima fase das finanças sustentáveis e do comércio global.

A mensagem que emerge da COP30 é inequívoca: ignorar o desmatamento custa caro, e o mercado começa a cobrar.