Hospedagem cara força ONU a diminuir equipe na COP30

Secretário-executivo da UNFCCC recomendou que organismos multilaterais reduzam o tamanho de suas comitivas e anunciou a ampliação da participação virtual

Secretário Executivo da UNFCCC, Simon Stiell. Foto: AFP.
Secretário Executivo da UNFCCC, Simon Stiell. Foto: AFP.

A preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro em Belém, escancara um paradoxo que vai além da pauta climática: o custo da hospitalidade em grandes eventos internacionais. 

A escassez de leitos e a escalada dos preços de hotéis na capital paraense levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a recomendar a redução no tamanho das delegações, algo inédito em conferências do clima.

O problema não é apenas logístico. Ele toca em questões estruturais do Brasil e do próprio modelo de organização da cúpula. Em documento oficial, o secretário-executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança Climática (UNFCCC), Simon Stiell, pediu às agências e organismos multilaterais que revejam o tamanho de suas comitivas e anunciou que vai ampliar a participação virtual.

A medida sinaliza a preocupação da ONU com o impacto financeiro sobre países em desenvolvimento, muitos dos quais já enfrentam dificuldades em garantir presença robusta nas negociações climáticas.

O Brasil, por sua vez, tenta equilibrar a conta. Segundo a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, o governo já arca com custos expressivos para sediar a cúpula e não pode ampliar subsídios para hotéis. Ainda assim, ofereceu diárias em torno de US$ 200 para delegados de nações mais pobres — valor abaixo do mercado, mas ainda distante do teto de US$ 100 defendido pela ONU.

A equação é complexa. De um lado, a COP30 é vista como uma oportunidade histórica de projetar a Amazônia como palco central da transição climática e do debate sobre justiça ambiental. De outro, os altos preços podem restringir a participação justamente daqueles países mais vulneráveis à crise climática, enfraquecendo a representatividade do encontro.

O episódio revela um dilema recorrente nas conferências globais: como garantir inclusão e diversidade de vozes sem que barreiras econômicas minem a legitimidade do processo? 

Espera-se que novas rodadas de negociação entre a ONU e o governo brasileiro resultem em um acordo, mas a situação já projeta uma sombra sobre o evento, que deveria representar a união em torno de uma agenda global.