O Banco Mundial aprovou sua atuação como administrador e anfitrião interino do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF na sigla em inglês), mecanismo global criado sob liderança do Brasil para financiar de forma contínua a proteção das florestas tropicais. A decisão representa o primeiro passo institucional para transformar o fundo — anunciado na COP28 — em operação concreta de financiamento climático.
Com o novo arranjo, o Banco fornecerá estrutura de governança, supervisão fiduciária e relatórios de transparência, além de repassar os recursos do fundo aos países beneficiários. O modelo pretende garantir previsibilidade e credibilidade ao TFFF, concebido para ser o maior fundo florestal da história, com potencial de movimentar até US$ 4 bilhões anuais — quase três vezes o volume atual de financiamento internacional para florestas.
O TFFF marca uma virada estratégica na diplomacia ambiental brasileira. Diferente de mecanismos baseados em doações, o fundo será sustentado por investimentos de longo prazo de países, empresas e filantropias, aplicados em carteiras de ativos sustentáveis. Os rendimentos serão direcionados a nações que comprovarem resultados na conservação florestal, com ao menos 20% dos repasses destinados a povos indígenas e comunidades tradicionais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a aprovação marca o momento em que o fundo “deixa de ser uma ideia para se tornar uma realidade operacional”. Já a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressaltou que o mecanismo busca preencher a lacuna global de financiamento para a natureza, estimada em US$ 282 bilhões por ano.
Arquitetura global
Além de reforçar o protagonismo do Brasil, o TFFF simboliza o avanço de uma nova governança multipolar no financiamento climático. Segundo o chanceler Mauro Vieira, o fundo é “prova de que o multilateralismo pode se renovar” e será oficialmente lançado na COP30, em Belém. O Brasil já se comprometeu com um aporte de US$ 1 bilhão, condicionado à entrada de outros países.
Com a chancela do Banco Mundial, o TFFF ganha robustez institucional e se consolida como um modelo potencialmente replicável por outras nações tropicais. Mais do que um mecanismo financeiro, o fundo representa a aposta brasileira em colocar as florestas — e não apenas o carbono — no centro de uma nova economia verde global.
Se prosperar, poderá redefinir o equilíbrio de poder entre países do Sul Global e credores tradicionais, inaugurando uma nova fase do financiamento climático internacional, com o Brasil ocupando um papel de liderança nas negociações.