Falta de financiamento freia avanço da agricultura regenerativa

Às vésperas da COP30, estudo da KPMG aponta falta de crédito, capacitação e mercado como entraves à expansão da agricultura regenerativa

Levantamento elenca sete tipos de mecanismos de apoio considerados essenciais para destravar investimentos no setor. Foto: Freepik.

Às vésperas da  30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), a consultoria KPMG divulgou um estudo que detalha os principais desafios e lacunas de financiamento que ainda limitam a adoção da agricultura regenerativa — modelo que busca restaurar a saúde do solo, otimizar o uso de recursos naturais e ampliar a biodiversidade. O relatório propõe caminhos para viabilizar a transição de forma mais inclusiva e sustentável, sobretudo no contexto da agenda climática e alimentar global.

O estudo estrutura a discussão em quatro eixos centrais: os impactos das mudanças climáticas nas práticas agrícolas tradicionais, o fortalecimento dos produtores, a escassez de recursos financeiros e técnicos e as estratégias para ampliar a adoção de sistemas regenerativos.

O agro brasileiro, por sua vez, aposta na regeneração como uma das vitrines da COP30 — um conjunto de práticas que recuperam o solo, aumentam a captura de carbono e reduzem os impactos ambientais da produção.

“A transição para uma agricultura regenerativa não é mais uma opção, e sim uma necessidade, impulsionada pela urgência em lidar com as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a segurança alimentar. Para impulsionar esse processo, é crucial que o setor esteja preparado para superar as barreiras de acesso ao financiamento”, avalia Nelmara Arbex, sócia-líder de ESG da KPMG para as Américas.

Mecanismos financeiros e lacunas identificadas

O levantamento elenca sete tipos de mecanismos de apoio considerados essenciais para destravar investimentos no setor:

  • Empréstimos e subvenções com condições favoráveis, capazes de reduzir os custos de adoção de novas tecnologias agrícolas;
  • Produtos de seguro que incentivem a inovação e minimizem riscos financeiros;
  • Garantias de mercado, como contratos de compra antecipada, para dar previsibilidade da demanda;
  • Recompensas financeiras pela monetização das práticas regenerativas, criando incentivos econômicos;
  • Blended finance, que combina recursos públicos e privados para investimentos de risco;
  • Apoio técnico, com capacitação e treinamento para implementação e expansão das práticas;
  • Descentralização financeira, voltada à otimização de transações e criação de novas oportunidades de crédito.

Pequenos x grandes produtores

Segundo o estudo, os desafios variam conforme o porte e o perfil dos produtores. Pequenos agricultores enfrentam barreiras mais severas — como restrições de crédito, acesso limitado a mercados e falta de capacitação técnica. Já grandes produtores lidam com desafios distintos, relacionados à complexidade operacional, adequação regulatória e manutenção da rentabilidade em mercados competitivos.

“Os desafios da agricultura regenerativa não são uniformes dentro da porteira e dependem de fatores como o perfil do produtor, a escala da produção e o acesso a recursos. Entendê-los é fundamental para desenvolver estratégias eficazes de apoio e financiamento”, afirma Giovana Araújo, sócia-líder do setor de agronegócio da KPMG no Brasil.