Da floresta ao mercado: a guinada da sociobioeconomia

Relatórios do Conexsus mostram avanço em financiamento, gestão e acesso a mercados, impactando 24 mil pessoas em diferentes biomas

No total, 107 negócios comunitários receberam assessoria direta ao longo do ano Foto: Divulgação/ Conexsus.

O Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) encerrou 2024 com uma inflexão importante na consolidação da sociobioeconomia brasileira. Os relatórios mostram que no ano passado houve um aumento no crédito, métodos de trabalho aprimorados e maior ligação entre negócios comunitários e mercados responsáveis.

No total, 107 negócios comunitários receberam assessoria direta da Conexsus ao longo do ano, envolvendo populações extrativistas, agricultores familiares e organizações de base em biomas como Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa. 

O trabalho abrangeu formação em gestão, comercialização, organização produtiva e acesso a soluções financeiras. Estima-se que mais de 24 mil pessoas tenham sido impactadas apenas em 2024.

A expansão do crédito rural orientado é um dos destaques do relatório. A Conexsus desembolsou R$ 7 milhões em financiamentos próprios para 23 negócios comunitários e duas empresas de impacto. Paralelamente, o Programa CrediAmbiental destravou R$ 11,16 milhões em crédito do Pronaf, via 910 contratos — 99% deles de agricultores e extrativistas que nunca haviam acessado financiamento público.

A capilaridade do programa ganhou fôlego com 57 ativadores de crédito socioambiental atuando em campo, garantindo orientação técnica e documentação necessária para que famílias de áreas remotas fossem incorporadas ao sistema financeiro formal.

A estratégia de crédito, segundo o diretor de programas e inovação financeira, Pedro Frizo, responde a uma lacuna estrutural. “A sociobioeconomia ainda carece de dados amplos e metodologias consolidadas que apoiem políticas públicas e engajem atores-chave. Nosso compromisso é fortalecer mecanismos de avaliação e ampliar a transparência, criando condições reais de acesso a mercados e financiamento”, disse. 

Monitoramento 

A consolidação do sistema Impact@ permitiu, pela primeira vez, análises comparativas de uma série histórica iniciada em 2020. Entre os 46 negócios monitorados, o faturamento médio cresceu 22%, enquanto a área manejada de forma sustentável avançou 10%.

Esses resultados reforçam um ponto central da agenda socioambiental, com o fortalecimento econômico de organizações comunitárias aumentando sua capacidade de conservar a biodiversidade e manter a floresta em pé.

Em 2024, empresas apoiadas comercializaram 8,8 mil toneladas de produtos da sociobiodiversidade — açaí, cacau, pirarucu, castanhas, mel, borracha, frutas e hortaliças — movimentando R$ 109,7 milhões em faturamento bruto.

Os arranjos de financiamento coletivo, desenvolvidos pela Conexsus com parceiros públicos e privados, foram ampliados e se consolidaram como modelo inovador para cadeias estratégicas.

Entre os avanços:

  • Borracha nativa (AM): R$ 3,1 milhões financiados, com compra garantida pela Michelin e apoio do WWF-Brasil e Memorial Chico Mendes, beneficiando 1.726 seringueiros.
  • Açaí (PA): R$ 215 mil para a cooperativa Copavem, em parceria com a Oakberry, viabilizando certificação Fair for Life e ampliação de mercado.
  • Pirarucu manejado (AM): R$ 420 mil antecipados para colônias de pescadores em Tefé e Alvarães, com participação da Juruá Pescados e capital catalítico do Imaflora.
  • Castanha-do-Brasil (PA): Operação inédita com a cooperativa Coobay garantiu R$ 100 mil em crédito e renda para quase 200 famílias.

Esses arranjos combinam crédito, assistência técnica, garantia de compra e mecanismos de mitigação de risco, aproximando negócios comunitários de compradores nacionais e internacionais.

Outro eixo estratégico do ano foi a ativação de ecossistemas regionais de negócios na Amazônia – Tapajós, Tocantins, Marajó e Médio Xingu – com a construção de Planos de Ativação e criação de grupos de trabalho para destravar gargalos em políticas públicas, crédito e acesso a mercados.

A metodologia se expandiu para o Cerrado e ganhou projeção internacional com o lançamento do Projeto AmazonBeEco, financiado pelo BID-Lab e pelo Green Climate Fund. O programa prevê desenvolver 100 negócios comunitários na Pan-Amazônia até 2027, integrando Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.

Ciclo de maturidade 

Os relatórios mostram uma organização que, após seis anos, alcança um novo grau de maturidade institucional, com metodologias consolidadas, parceria com grandes compradores, ampliação de crédito e atuação transnacional.

Mais que números, os resultados indicam a construção de um ecossistema capaz de transformar potencial socioambiental em desenvolvimento real — especialmente em regiões onde políticas públicas ainda encontram dificuldade para chegar.

A meta, afirmam os diretores da Conexsus, é consolidar até 2030 uma sociobioeconomia forte, geradora de renda, promotora de inclusão e aliada da conservação dos biomas brasileiros.