Para Roberto Rodrigues, ex-ministro e agora enviado especial da agricultura à COP30, o Brasil pode transformar o Cerrado — antes visto como ‘terra inútil’ — em vitrine global da agricultura sustentável, oferecendo ciência, tecnologia e regeneração como respostas à crise climática.
“Queremos mostrar para o mundo inteiro que a agricultura, até 1980, era essencialmente temperada. Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão lideravam. Essa chave virou com a criação da Embrapa, em 1973-74, quando o Brasil passou a desenvolver rotas tecnológicas baseadas na agricultura tropical”, disse em conversa com jornalistas durante a Rio Climate Action Week.
“O Cerrado, antes considerado imprestável, transformou-se no Maracanã da Copa do Mundo da alimentação graças à ciência e tecnologia.”
Segundo ele, o objetivo do Brasil na conferência é mostrar que “a agricultura tropical regenerativa que o país desenvolveu é um aliado no combate ao aquecimento global, ajudando a mitigar os problemas climáticos”.
Para isso, está sendo elaborado um documento técnico que apresentará os resultados obtidos com grãos, carnes, frutas e outras culturas. “Nos últimos 35 anos, a área plantada de grãos no Brasil cresceu 116%, enquanto a produção aumentou 479%. Produzimos muito mais por hectare, usando menos terra. Esse é o tema central da sustentabilidade”, destacou.
Rodrigues acrescentou que a experiência brasileira pode ser replicada em outras regiões tropicais, como América Latina, África Subsaariana e partes da Ásia. “Nós somos o protagonismo central desse processo. É preciso mostrar ao mundo que é possível expandir produção com ciência e tecnologia, mas também reconhecer nossos pecados: desmatamento ilegal, invasão de terra, garimpo clandestino e incêndios criminosos, que não aceitamos e queremos resolver.”
Outro ponto defendido por ele é a necessidade de financiamento internacional para ampliar práticas como a recuperação de pastagens degradadas e o uso de inteligência artificial no campo. “Queremos convidar o mundo desenvolvido a financiar esse processo no cinturão tropical. O objetivo é enfrentar os quatro cavaleiros do apocalipse moderno: segurança alimentar, transição energética, mudanças climáticas e desigualdade social. O Brasil tem a vitrine e a alavanca para mostrar isso.”