*Por Cristina Penteado, conselheira da Aliança pelo Impacto
As Conferências das Partes (COPs) representam o principal palco global para o avanço da agenda de clima e impacto, especialmente no que diz respeito à mobilização de capital internacional. Mais do que fóruns de negociação entre governos, as COPs propiciam o debate entre diferentes atores, como setor público, privado, sociedade civil e filantropia, que juntos moldam o futuro do financiamento climático. Esse movimento tem impulsionado a formação de um ecossistema mais maduro e conectado, capaz de alocar recursos em projetos com escala e sustentabilidade socioambiental.
A expectativa para a COP30 em Belém é particularmente elevada. Esta deve ser a COP da implementação, quando os compromissos firmados ao longo da última década precisam se traduzir em investimentos concretos. Afinal, a lacuna global de financiamento climático em países emergentes, estimada em mais de US$ 1 trilhão por ano até 2035, demanda novas estratégias de mobilização de recursos e integração entre capital público, privado e catalítico.
Nesse contexto, o Brasil emerge como um destino estratégico. Reconhecido internacionalmente como potência verde, o país combina atributos únicos: matriz energética limpa, liderança em biocombustíveis e produção de alimentos, vasto patrimônio de biodiversidade e ampla gama de oportunidades em setores-chave como agricultura, energias renováveis e nature-based solutions. Essas características posicionam o Brasil como um pólo natural para investimentos que conciliam rentabilidade e impacto socioambiental positivo.
Nos últimos anos, o país tem progredido em arcabouços regulatórios e institucionais que ampliam a confiança dos investidores. Iniciativas como a Taxonomia Sustentável Brasileira, o Eco Invest, que já mobilizou mais de R$ 24 bilhões em capital público catalítico, e a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP) são exemplos de avanços concretos para fomentar e fortalecer o ambiente de negócios verdes. O BNDES também lançou recentemente a Chamada de Clima para fundos com foco em mitigação climática, com aporte de até R$ 5 bilhões pelo BNDESPAR, um marco que combina fundos de equity e fundos de crédito.
Não obstante a vocação brasileira dentro da agenda climática, há barreiras estruturais relevantes. A volatilidade cambial e a limitação de projetos com maturidade e escala são fatores críticos para atrair capital estrangeiro de longo prazo. Além disso, a taxa de juros de 15% — maior patamar desde 2006 — e a oferta ainda restrita de mecanismos para mitigação de risco, como o blended finance, limitam a convergência entre investidores locais e internacionais e desestimulam o investimento em capital de risco. Sem uma estratégia coordenada de fortalecimento institucional, mecanismos de proteção cambial, redução do custo de capital e de visibilidade internacional, o país corre o risco de não capturar essa janela de oportunidades.
O desafio agora é converter esse potencial em narrativas consistentes e parcerias duradouras, projetando o Brasil como líder de uma nova economia verde global. Diferentemente de outros países, o Brasil não enfrentou retrocessos significativos na agenda ESG e o ecossistema local permanece comprometido com o clima. Empresas, instituições financeiras, reguladores e governos locais continuam ampliando compromissos climáticos e de impacto. Temos um contexto favorável aliado a aspectos intrínsecos do país que permitem alavancar o desenvolvimento econômico com sustentabilidade no longo prazo.
A Aliança pelo Impacto, parceira do GSG Impact no Brasil, tem atuado como articuladora e catalisadora desse processo, conectando investidores, reguladores e empreendedores para fomentar a economia de impacto e ampliar o acesso a capital internacional. O país tem condições para se tornar referência em soluções climáticas e inclusivas, desde que consiga alinhar propósito, escala e estabilidade.
Na COP30, o Brasil estará sob os holofotes. E mais do que atrair capital, o que estará em jogo é a capacidade de transformar investimento em impacto real, conciliando crescimento econômico, preservação ambiental e justiça social. A agenda climática requer um comprometimento contínuo e crescente global, onde o Brasil tem uma voz relevante, podendo ser um catalisador das mudanças necessárias. Essa trajetória não começa nem termina na COP.