Brasil inaugura nova fase da economia climática

País assume papel central na integração de mercados de carbono, no novo ciclo de financiamento climático e na consolidação da justiça climática

Tendências pressionam por ajustes rápidos na regulação e na atuação das empresas Foto: Adobe Stock.

A COP30 confirmou que a agenda climática deixou de ser periférica e passou a orientar decisões centrais do mundo dos negócios, consolidando o Brasil como um dos principais articuladores desse novo ciclo. As discussões em Belém expuseram três movimentos estruturais que podem redesenhar políticas públicas, destravar novos modelos de financiamento e redefinir a competitividade dos setores produtivos nos próximos anos.

No campo dos mercados de carbono, o país apresentou a Open Coalition for Carbon Market Integration, iniciativa apoiada pela União Europeia e pela China que busca harmonizar padrões e conectar sistemas regulados hoje fragmentados. Embora cerca de 80 países já precifiquem carbono, a ausência de regras convergentes limita o potencial de comércio e o acesso a financiamento internacional. 

A proposta brasileira tende a reduzir barreiras comerciais, ampliar a competitividade de produtos de menor intensidade de carbono e destravar fluxos internacionais de recursos, abrindo espaço para que setores exportadores se reposicionem diante das novas exigências globais.

O financiamento climático também entrou em uma nova fase com o lançamento do Roadmap Baku–Belém, que prevê mobilizar US$ 1,3 trilhão anuais até 2035. O objetivo é oferecer escala e previsibilidade ao apoio destinado a países em desenvolvimento, uma lacuna histórica das negociações. 

Paralelamente, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF na sigla em inglês) chamou atenção por seu desenho inovador, remuneração baseada em monitoramento por satélite e destinação de 20% dos recursos a povos indígenas e comunidades tradicionais. O modelo é visto como referência emergente para atrair capital privado e garantir resultados mensuráveis em conservação.

Justiça climática

Ao mesmo tempo, a filantropia e a justiça climática ganharam novo protagonismo na COP30, fortalecendo iniciativas que aproximam clima, direitos humanos e inclusão social. Organizações da sociedade civil e investidores sociais ressaltaram que adaptação, resiliência e cooperação com territórios vulneráveis precisam entrar no núcleo das estratégias corporativas, e não ser tratadas como anexos do ESG.

A convergência desses três vetores — integração de mercados, novos mecanismos de financiamento e fortalecimento da justiça climática — sinaliza mudanças aceleradas no ambiente regulatório e no posicionamento das empresas. 

Esse movimento reforça a aproximação entre agenda climática e agenda social, elevando o patamar de responsabilidade e transparência exigido das organizações que buscam se manter alinhadas aos novos padrões globais.