A menos de duas semanas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém a partir de 10 de novembro, um novo relatório da ONU acende o alerta sobre o ritmo insuficiente da adaptação global às mudanças climáticas.
Segundo o Relatório sobre a Lacuna de Adaptação de 2025 (Adaptation Gap Report), produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os países em desenvolvimento precisarão de mais de US$ 310 bilhões por ano até 2035 para lidar com impactos climáticos cada vez mais severos — um valor 12 vezes maior do que o financiamento internacional atualmente disponível.
O estudo revela que a velocidade da adaptação está longe de acompanhar a aceleração dos eventos extremos e o aumento das temperaturas globais. Para especialistas, os dados reforçam a urgência de decisões concretas durante as negociações da conferência do clima.
“Os impactos climáticos estão se acelerando, mas o financiamento para adaptação não acompanha esse ritmo, deixando os mais vulneráveis expostos a mares em elevação, tempestades mortais e calor extremo. Adaptação não é custo, é um investimento na sobrevivência”, alertou António Guterres, secretário-geral da ONU, em mensagem divulgada junto ao relatório.
Em 2023, os fluxos de financiamento internacional público para adaptação somaram apenas US$ 26 bilhões, queda em relação aos US$ 28 bilhões do ano anterior. A diferença entre os recursos disponíveis e as necessidades efetivas chega a US$ 284 a 339 bilhões por ano, valor que precisa ser preenchido até 2035 para evitar perdas humanas e econômicas catastróficas.
O compromisso assumido no Acordo de Glasgow, de duplicar o financiamento internacional para US$ 40 bilhões até 2025, está cada vez mais distante. Segundo Inger Andersen, diretora-executiva do Pnuma, “sem uma virada urgente, a promessa feita em Glasgow será mais um lembrete de como o mundo falha repetidamente em proteger os mais vulneráveis”.
Avanços tímidos
Apesar do abismo financeiro, o relatório identifica sinais positivos. Hoje, 172 países possuem ao menos uma política, estratégia ou plano nacional de adaptação, enquanto outros 21, entre os 25 que ainda não têm instrumentos desse tipo, estão em fase de desenvolvimento.
Um ponto central do documento é a necessidade de mobilizar o capital privado, atualmente responsável por apenas US$ 5 bilhões anuais em investimentos para adaptação. Segundo o Pnuma, o potencial desse setor poderia chegar a US$ 50 bilhões por ano, o equivalente a cerca de 15% das necessidades totais. Para viabilizar esse aporte, seriam necessários incentivos públicos e instrumentos financeiros que reduzam riscos, como fundos mistos e garantias de crédito.
O relatório deixa claro que a lacuna de adaptação não é apenas um desafio técnico ou econômico, mas um teste da capacidade política e da responsabilidade global. Com a COP30 prestes a começar, os olhos do mundo estarão sobre Belém, em busca de soluções capazes de transformar compromissos em ações efetivas.