Até setembro de 2025, os desastres naturais custaram à economia global cerca de US$ 203 bilhões, segundo o relatório Global Catastrophe Recap: Third Quarter of 2025, divulgado pela Aon. Embora o valor esteja 29% abaixo da média do século XXI, o período ainda registrou eventos extremos, como terremotos e ondas de calor, que tiveram impacto devastador em várias regiões.
Entre os destaques do estudo, 36 eventos causaram perdas econômicas superiores a US$ 1 bilhão cada, sendo que 22 desses também tiveram mais de US$ 1 bilhão em perdas seguradas. O levantamento aponta uma lacuna global de proteção de seguros de 44%, a mais baixa já registrada para o período de janeiro a setembro, impulsionada principalmente pela elevada cobertura nos Estados Unidos, onde 88% das perdas econômicas foram seguradas.
No terceiro trimestre, as perdas econômicas globais somaram cerca de US$ 34 bilhões, 76% abaixo da média histórica, enquanto as perdas seguradas chegaram a US$ 12 bilhões, o menor valor desde 2006. A lacuna de proteção no período foi de 66%, ligeiramente abaixo da média do século XXI, que é de 71%. As avaliações de danos ainda estão em andamento, o que indica que os números finais podem ser maiores.
América do Sul
Na América do Sul, os desastres naturais geraram perdas econômicas de aproximadamente US$ 6,7 bilhões nos primeiros nove meses do ano. Entre os eventos mais significativos estão a seca no Brasil e no Paraguai, tempestades severas no Brasil e Bolívia, incêndios no Chile, inundações em Peru, Equador, Brasil, Bolívia e Argentina, além de terremotos em Guatemala e Peru e deslizamentos de terra na Colômbia.
No Brasil, a seca prolongada foi responsável por perdas estimadas em US$ 4,8 bilhões, mas apenas cerca de 10% dessas perdas estavam cobertas por seguros. O fenômeno afetou fortemente a produção agrícola e os reservatórios de água, sendo considerado um dos mais severos dos últimos anos.
“Os resultados reforçam a urgência de ampliar a cultura de gestão de riscos climáticos no Brasil. Enfrentamos perdas bilionárias associadas à seca e eventos extremos recorrentes, com cobertura ainda muito limitada. Investir em dados e modelagem catastrófica é essencial para reduzir o impacto econômico e social desses desastres”, afirma Beatriz Protásio, CEO de Resseguros para o Brasil na Aon.
Resiliência e prevenção
O relatório evidencia que, mesmo em anos com perdas globais abaixo da média histórica, os impactos regionais podem ser altamente concentrados e desiguais, especialmente em países da América do Sul com baixa cobertura de seguros. A falta de proteção não apenas expõe a economia a riscos financeiros bilionários, mas também aumenta a vulnerabilidade social, sobretudo entre agricultores, comunidades tradicionais e populações mais pobres.
Especialistas apontam que fortalecer políticas de resiliência climática, investir em seguros agrícolas e em modelagem de riscos são medidas fundamentais para mitigar os efeitos de secas, inundações e outros desastres naturais recorrentes. A experiência brasileira mostra que a lacuna de proteção de seguros ainda é significativa, deixando grande parte das perdas sob responsabilidade direta de produtores, empresas e governos.
No contexto das mudanças climáticas, que aumentam a frequência e intensidade de eventos extremos, os dados reforçam que prevenção e planejamento são mais eficientes e menos custosos do que lidar com perdas após o desastre.