Moda fora da COP: o silêncio conveniente de uma das indústrias mais poluentes do planeta

A ONU lançou em 2018 a 'Carta da Indústria da Moda para a Ação Climática', mas os avanços desde então têm sido limitados

Indústria da moda é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e por 9% dos microplásticos que chegam aos oceanos. Foto: Shutterstock.

Apesar de ser uma das indústrias mais poluentes do mundo, a moda ainda ocupa um lugar periférico nas negociações internacionais sobre clima. Responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e por 9% dos microplásticos que chegam aos oceanos, o setor ainda é pouco lembrado em fóruns como a COP, conferência da ONU sobre mudanças climáticas.

Para Carol Rosignoli, fundadora do brechó Desapeguei Bonito, essa ausência tem múltiplas explicações. “A moda ainda é vista muito pelo viés da estética e do consumo, o que a coloca em um lugar de futilidade. Isso faz com que não haja tanta cobrança ou visibilidade sobre seus impactos ambientais”, observa.

Além da percepção pública, há também fatores estruturais. O setor é complexo e fragmentado, com uma cadeia longa que vai do cultivo de fibras ao descarte das peças. “Quando falamos em equilibrar moda e clima, precisamos pensar em responsabilidades compartilhadas: produtores, marcas, consumidores e setor público. Não é algo que dependa de um único ator”, explica Rosignoli.

Apesar da invisibilidade atual, já existem movimentos em busca de maior engajamento. Em 2018, a ONU lançou a Carta da Indústria da Moda para a Ação Climática, convidando marcas a assumir compromissos de redução de emissões. No entanto, segundo Rosignoli, os avanços desde então foram limitados. “Ainda não existe uma bancada de moda forte dentro da COP, que traga dados, compromissos e acompanhamento efetivo”, aponta.

Para ela, a expectativa em torno da COP30, que será realizada no Brasil, é de que o setor ganhe maior destaque na agenda oficial. “O que precisamos ver é transparência: marcas divulgando seus impactos, assumindo compromissos reais e sendo cobradas pelo setor público. O consumidor tem um papel, mas não é o responsável central por essa mudança”, afirma.

O desafio, portanto, é inserir a moda de forma consistente nas discussões sobre mitigação e adaptação climática, reconhecendo sua relevância global. Afinal, trata-se de um setor que movimenta trilhões de dólares por ano, emprega milhões de pessoas e tem peso significativo nas emissões. Sem trazer a moda para a mesa, qualquer pacto climático global seguirá incompleto.