XP, que tinha uma das previsões mais otimistas, reduz estimativas do PIB

XP Investimentos revisa de 2,5% para 2,2% a previsão de crescimento do PIB brasileiro deste ano, devido ao aumento das incertezas no cenário geopolítico e ao aperto da política monetária

O pessimismo está rondando o mercado financeiro. Os impactos do tarifaço de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros ainda estão sendo medidos e que ajudam a acelerar o processo de desaceleração da economia brasileiro, que estava em curso por conta da política monetária do Banco Central, que tem sinalizado em manter os juros elevados por um período “bastante prolongado”. Uma das instituições com a mais otimista das estimativas, a XP Investimentos, divulgou, na manhã desta quinta-feira (07/08), a revisão para baixo da estimativas para a atividade econômica, após as projeções do mercado estarem estáveis por quatro semanas seguidas.

A expectativa da XP para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que estava acima das estimativas do mercado, recuou de 2,5% para 2,2% — em linha com a mediana das projeções do mercado coletadas pelo BC no boletim Focus, de 2,23%. Para 2026, a previsão de expansão do PIB brasileiro foi mantida em 1,7% enquanto a mediana das expectativas do mercado está em 1,88%, mas com viés de baixa.

“O ambiente global segue volátil, principalmente devido às tensões geopolíticas. Mas não necessariamente negativo para os mercados emergentes, especialmente se o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano)  retomar seu ciclo de corte de juros em setembro”, destacou o relatório mensal elaborado pela equipe do economista-chefe da XP, Caio Megale.

A XP não mudou as estimativas para a inflação oficial, apesar de reconhecer que houve melhora no cenário, com queda de preços ao atacado e da moderação nos grupos de serviços. As projeções da instituição financeira para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permaneceram em 5%, neste ano, e em 4,5% no ano que vem. Segundo o estudo, o quadro para a queda do custo de vida está mais favorável, especialmente se o dólar continuar mais desvalorizado frente ao real em meio a guerra tarifária dos EUA com o resto do mundo. 

A XP ainda manteve a previsão do início do ciclo de cortes na taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ao ano, em janeiro, com os juros básicos terminando em 2026 em 12% anuais, abaixo da projeção anterior, de 12% ao ano. “A perspectiva de inflação melhorou, sugerindo que a política monetária restritiva está funcionando. O cenário de juros mais baixos nos EUA também pode ajudar o Banco Central”, destacou o documento. 

Riscos fiscais no radar

O relatório da XP não deixou de citar o aumento da temperatura no cenário político de Brasília, com a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro em meio às tratativas do governo para mitigar os efeitos da sobretaxa imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump.  Na avaliação dos analistas, o início da vigência das tarifas adicionais norte-americanas, neste mês, aumenta as dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas, apesar de o governo sinalizar que deverá conseguir cumprir a meta fiscal pelo piso.

“O governo usou o anúncio (do tarifaço), no mês passado, para estimular a narrativa de defesa da soberania nacional, e, agora, se vê em meio a discussões sobre políticas públicas que possam mitigar os danos das tarifas extras”, destacou o documento. “A atenção recai sobre o risco de que, em nome dessa narrativa, os anúncios possam trazer políticas com impacto fiscal exagerado em dose ou prazo — algo contra o que o time econômico tem se manifestado”, acrescentou. 

Na avaliação dos analistas da XP, as medidas de aumento de receita em discussão, como aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o fim da isenção de títulos de crédito do agronegócio e do setor imobiliário (LCA e LCI), colocam o governo mais próximo da meta fiscal em 2026,  de superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) de R$ 34,1 bilhões ou 0,25% do PIB, mas algumas delas ainda precisam de aprovação do Legislativo .

A projeção da XP indica um rombo fiscal de R$ 82,7 bilhões no próximo ano, ou 0,6% do PIB, que descontando os R$ 55,1 bilhões de despesas com precatórios, passa para um deficit de R$ 27,6 bilhões (0,2% do PIB). Os dados ainda não incluem o impacto da aprovação do projeto de lei que pretende isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 7 mil — valor ampliado da proposta inicial, de R$ 5 mil.

Mas estão no radar dos analistas o uso de receitas extraordinárias de dividendos ou de leilões de petróleo, entre outras, para atingir o resultado primário, compensando alguma frustração na agenda legislativa. Eles citam, por exemplo, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 66/2023, a nova PEC dos Precatórios, também deve ajudar a ampliar o espaço para gastos do governo. 

A matéria tramita no Congresso e, ao recriar o calote nos precatórios (dívidas judiciais que não cabem recursos), deve permitir um aumento de R$ 12,4 bilhões no limite de gastos do ano que vem – o suficiente para acomodar grande parte das pressões de despesa decorrentes da redução da fila de pedidos de benefícios previdenciários e de assistência social (BPC/Loas), segundo os analistas. 

“No entanto, não vemos espaço para despesas adicionais, como aquelas relativas à ampliação dos programas ‘Pé-de-meia’ e ‘Auxílio-gás’, além do possível reajuste do ‘Bolsa família’ pela inflação do período. Caso implementadas, essas medidas demandariam um espaço adicional de R$ 26,5 bilhões – muito além da capacidade do limite de despesas para o próximo ano”, alertou o documento,.

Pelas projeções da XP,  a dívida pública bruta atingirá 78,9% do PIB, no fim deste ano, passando para 83,3% do PIB no fim de 2026. “Vemos que a tendência da dívida pública continua altista, refletindo o elevado prêmio de risco pago pelo governo”, pontuou o texto.