O Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (10/12), manter a taxa básica da economia (Selic) em 15% ao ano, como esperado pelo mercado, mas deixou a porta aberta para aumento dos juros, se houver necessidade. Além disso, a autoridade monetária não deu sinalização de quando deverá iniciar a redução dos juros básicos a partir de 2026, frustrando os mais otimistas que esperavam queda da Selic a partir de janeiro.
A decisão desagradou o setor produtivo, que reconheceu que o governo tem sua parcela de culpa para que esses juros continuem no atual patamar, pois as contas públicas seguem desequilibradas e a dívida pública continua crescendo porque o governo passou a mirar o piso da meta fiscal. Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e integrantes da equipe econômica evitaram comentar sobre a decisão do do Comitê de Política Monetária (Copom) — que é liderado pelo presidente do BC, Gabriel Galípolo, indicado pelo petista, assim como a maioria dos diretores da instituição.
No comunicado, o BC reforçou o discurso de cautela e manteve a porta aberta para uma eventual alta da taxa básica, caso houver necessidade, sinalizando que a queda dos juros, se houver, só deverá ocorrer a partir de março. “Adiar o início da redução da Selic significa afastar ainda mais o país de suas potencialidades econômicas. Os juros elevados adicionam um entrave relevante a um ambiente de negócios já pressionado pela instabilidade internacional e por desafios estruturais de competitividade no mercado interno”, disse o economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Jonathas Goulart, em comunicado da entidade.
Na nota, Goulart ressaltou que a manutenção da Selic nesse patamar “ocorre justamente em um momento em que os indicadores econômicos já apontam desaceleração da atividade” e a “Firjan entende que as condições para iniciar um ciclo gradual de redução dos juros já estavam postas à mesa, sem risco ao processo de desinflação”.
“Bomba armada”
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), por sua vez, afirmou que a manutenção da taxa Selic em 15% “é consequência direta de uma política fiscal considerada desequilibrada, marcada por sucessivas expansões de gastos públicos”. Para a entidade, a política fiscal é equivocada mantém “bomba armada” que impede redução da Selic.
“Enquanto o governo não contiver suas despesas, o Banco Central permanece sem condições de reduzir os juros – situação que mantém o país em um ambiente econômico restritivo e altamente prejudicial ao setor produtivo”, destacou a nota da entidade.
Na avaliação do presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, o atual cenário configura uma ameaça ao crescimento. “Isso é consequência de uma política fiscal equivocada, em que há um ciclo contínuo de expansão de gastos. O governo precisa parar de gastar e fazer como fazemos na casa da gente: se está apertado, você aperta o cinto. Não expande o gasto. Essa conta não fecha desse jeito”, afirmou o executivo, no comunicado.
De acordo com a nota da Fiemg, com a Selic mantida em 15%, o país segue convivendo com crédito caro, alta inadimplência e retração do investimento produtivo, além de pressionar empresas que se endividaram para investir e famílias que financiaram casa, carro ou bens duráveis. “A taxa básica de juros deprime todos aqueles que estão endividados, porque faz o compromisso com o juro ficar muito mais alto. E, dessa maneira, falta dinheiro para outras finalidades”, complementou Roscoe.