Setor produtivo critica novo aumento dos juros e consideram “excessivo”

Apesar de o presidente Lula seguir evitando fazer críticas ao BC desde a troca de comando, entidades ligadas ao setor produtivo lamentam nova alta da taxa Selic

Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Homem olha engrenagens com cifrão.

Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não criticar o novo aumento da taxa básica da economia (Selic), para 14,75% ao ano, nesta quarta-feira (7/5), entidades ligadas ao setor produtivo lamentaram a continuidade do aperto monetário conduzido pelo Banco Central desde setembro de 2024 e fizeram alertas sobre os riscos para o setor e para as contas públicas do governo.

Com a decisão do BC, a taxa Selic atingiu o maior patamar desde 2006, último ano do primeiro mandato do petista que não poupava críticas ao presidente anterior da instituição Roberto Campos Neto. Mas, desde a troca de comando da instituição pelo economista Gabriel Galípolo, indicado por Lula, o petista tem evitado fazer comentários sobre as decisões da autoridade monetária.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), por exemplo, considerou o aumento de 0,50 ponto percentual nos juros básicos, anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, como “excessivo”, impondo patamares superiores aos registrados há uma década, “quando o país enfrentava inflação de dois dígitos”. 

“A Federação destaca que o cenário de juros elevados já restringe de forma significativa a atividade econômica, especialmente as relacionadas à indústria, que encerrou o primeiro trimestre do ano praticamente estável”, destacou a nota da entidade, reforçando que “a manutenção de juros elevados pode agravar ainda mais a já comprometida competitividade do Brasil”.  

Apesar das críticas ao aumento de juros, a Firjan reconheceu que o cenário atual é de incertezas globais, “caracterizado por conflitos geopolíticos e tensões comerciais que exigem uma “análise cuidadosa” e que “o problema fiscal impede uma redução consistente da taxa Selic”. A instituição, inclusive, enfatizou a urgência de uma reforma fiscal estrutural. “Políticas públicas orientadas para a inovação, infraestrutura, capital humano e redução dos custos de produção são essenciais para garantir um desenvolvimento socioeconômico sustentável no Brasil”, acrescentou.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), por sua vez, criticou a decisão do Copom e afirmou que os juros mais elevados devem restringir investimentos, a competitividade e elevar os custos de produção. A entidade também reconheceu o aumento das incertezas globais por conta da guerra comercial deflagrada pelos Estados Unidos. 

“Em momentos de elevada incerteza, torna-se ainda mais necessária que a política monetária seja conduzida com cautela, considerando os efeitos defasados das medidas já adotadas e o atual nível significativamente contracionista da taxa de juros, para evitar impactos desproporcionais sobre a atividade econômica e o mercado de trabalho”, ressaltou Flávio Roscoe, presidente da Fiemg, em nota da entidade.

Ao ver da Confederação Nacional da Indústria (CNI) o novo aumento na taxa Selic para o maior patamar em quase 20 anos, impõe um fardo fardo ainda mais pesado à economia, “com consequências negativas para o emprego, a renda e o bem-estar da população”

“Embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban, em comunicado da instituição, que prevê desaceleração na atividade do país, de 3,4%, em 2024, para 2,3%, neste ano. A entidade também prevê perda de ritmo da produção industrial, que deverá crescer 2%, neste ano, menos do que o previsto para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB).

Na avaliação da Confederação, com a Selic a 14,25% ao ano, a taxa de juros real – descontada a inflação – de 8,8% ao ano “seria suficiente para controlar a inflação”. “A CNI reitera que o parâmetro já superava em 3,8 pontos percentuais a taxa de juros neutra, estimada em 5% ao ano pelo Banco Central”, defendeu a entidade.

A instituição ressaltou que o Brasil tem uma das maiores taxas de juros reais do mundo, “o que é mais do que adequado para atrair investimentos e controlar a inflação a partir da valorização do câmbio”. “Os juros altos encarecem o crédito, desestimulam investimentos e dificultam o crescimento da economia”, frisou a nota da CNI, que apontou vários riscos da manutenção da Selic em patamares elevado, como o desestimulo ao investimento produtivo e o aumento do custo da dívida pública,.

“A elevação do custo da dívida pública amplia o deficit público e o risco fiscal. Estimativas do próprio Banco Central indicam que cada aumento de 1,0 ponto percentual na Selic eleva o custo da dívida bruta federal em cerca de R$ 50 bilhões. Essa dinâmica pode comprometer a sustentabilidade das contas públicas e contribuir, sob essa ótica, para instabilidade econômica”, alertou a CNI. Em 2024, a dívida pública bruta alcançou 76,5% do PIB e a entidade tem uma estimativa conservadora para essa taxa neste no fim deste ano, de 79,4% do PIB.