Setor produtivo critica decisão do BC em elevar juros para 12,25% ao ano

Para entidades do setor produtivo, decisão do Banco Central foi "incompreensível" e terá efeitos negativos para a indústria e o mercado de crédito

Banco Central do Brasil/Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Logo após o Banco Central anunciar aumento de 100 pontos-base na taxa básica da economia (Selic), para 12,25% ao ano, na noite desta quarta-feira (11/12), entidades do setor produtivo emitiram notas criticando a decisão dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) e pedindo corte de juros em vez de aumento.

Nos últimos dias, devido à piora nas perspectivas em relação ao quadro fiscal — após o anúncio do pacote de corte de gastos que frustrou os investidores –, o mercado financeiro estava mais dividido entre as apostas, esperando alta entre 0,75 ponto percentual e 1,00 ponto percentual na Selic. O aumento dessa magnitude não era visto desde junho de 2022.

O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fieng), Flávio Roscoe, disse que a decisão é terá efeitos negativos sobre a indústria brasileira, porque ela vai perder a competitividade nos mercados interno e externo. Para ele, a decisão do Copom intensifica a postura contracionista da política monetária, na contramão da política fiscal.

“É uma situação de causa e consequência, se os juros sobem, a economia inteira entra em retração. As pessoas e as empresas veem o crédito sumir e quem ganha? Aquele que especula de olho no retorno no curto prazo, não quem produz e aposta no país”, afirmou Roscoe. Segundo a nota, a Fiemg manifestou “profunda preocupação com a decisão, pois os juros excessivamente altos podem gerar mais danos à economia do que oferecer soluções eficazes”.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) considerou, em nota, o aumento na taxa Selic, de 11,25% para 12,25% ao ano, “excessivo”, representando mais um obstáculo para a atividade da indústria nacional. A entidade, no entanto, reconheceu que o patamar elevado da taxa de juros “reflete, em grande parte, o cenário atual de desconfiança com relação à trajetória da dívida pública”.

“Nesse contexto, a Firjan reforça que o equilíbrio das contas públicas é o primeiro passo para tornar o Brasil mais competitivo. Estudo divulgado nesta quarta-feira pela federação revela que o país ocupa a 46ª posição em ranking de competitividade com 66 nações. Na comparação com os últimos 10 anos, o Brasil tornou-se ainda menos competitivo. A Firjan pontua que enquanto o grave problema da sustentabilidade das contas públicas não for resolvido, o país não terá espaço no orçamento para investir em bases essenciais para o aumento da produtividade e, assim, perpetuará um cenário de baixo crescimento, inflação elevada e juros altos”, acrescentou o comunicado.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por sua vez, considerou “incompreensível e totalmente injustificada” a decisão do Copom e reforçou que o atual ciclo de alta de juros, iniciado em setembro, “configuraria um erro do Banco Central”. “Intensificar esse ritmo, como a autoridade monetária escolheu, portanto, não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal. Além disso, a decisão do Banco Central ignora a desaceleração da atividade econômica, já observada no PIB do terceiro trimestre, e a tendência de redução de juros nas principais economias globais, como os Estados Unidos, que partem para o terceiro corte seguido nos juros na próxima semana”, informou a entidade, por meio de nota.

Na avaliação da instituição, a decisão de aumento mais forte de juros “custa caro para a economia e para a população, pois significa menos investimentos e, consequentemente, menos emprego e renda”, porque, “para investir, os empresários precisam estar confiantes, o que depende, entre outros elementos, de um ambiente econômico positivo, para o qual a política monetária não tem contribuído”.

Conforme dados da CNI, o nível de confiança dos empresários industriais tem piorado nos últimos meses. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), da CNI, caiu nos três últimos meses e, em dezembro, registrou 50,1 pontos, o que indica que os empresários estão deixando de lado o otimismo com a economia e rumando para uma situação de pessimismo.

Ao contrário do mercado financeiro, a CNI considera que as medidas de redução de despesas propostas pelo governo “contribuem para a sustentabilidade do novo arcabouço e melhoram a sintonia entre as políticas fiscal e monetária”. “Para a CNI, o ajuste sugerido pelo governo é positivo, embora ainda possa ser aperfeiçoado pelo Congresso, e deve ser efetivo na contenção das despesas”, informou a nota.

A CNI considera ainda que a reação do mercado financeiro em relação ao pacote fiscal, “com desvalorização da taxa de câmbio e alta nos juros futuros, foi exagerada e deve ser interpretada com cautela”, porque acredita que a proposta da isenção de imposto de renda de quem tem rendimento mensal de até R$ 5 mil, também anunciada com o pacote, será revertida pelo Congresso. ” É preciso priorizar a agenda de redução do custo do crédito. A CNI acredita que a decisão do Banco Central é impor um remédio exagerado para controlar a inflação, com efeitos indesejados sobre a economia”, frisou. Para a instituição, a atual política monetária precisa ser revista e deve levar em conta a necessidade que o Brasil tem de reduzir o custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. “Sem desatar o nó do custo do crédito, o Brasil continuará desperdiçando oportunidades valiosas, como assumir o protagonismo mundial da transição energética, agenda que pode trazer muitos ganhos à economia brasileira, mas que requer elevados investimentos elevados”, completou a CNI.