Sem bônus de Itaipu, alta de IPCA de agosto seria em torno de 0,25%

O IPCA recuou 0,11% em agosto, maior queda mensal desde setembro de 2022, mas, descontando bônus de Itaipu, inflação seria de até 0,25%

moeda 1 real e notas. crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da inflação oficial, teve queda de 0,11% em agosto, desacelerando em relação à alta de 0,26% de julho, devido ao bônus de Itaipu no mês passado que derrubou o custo da energia nas residências em 4,21%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. Sem esse crédito na conta dos consumidores, a alta do IPCA teria ficado em torno de 0,25%, pelos cálculos de Fábio Romão, economista sênior da 4Intelligence.

No acumulado em 12 meses, o IPCA acumulou alta de 5,13%, abaixo do registrado nos 12 meses até julho, de 5,23%, mas acima do teto da meta de inflação de 4,50%. Logo, analistas são unânimes em afirmar que, como essa queda é pontual e não deverá se repetir em setembro, o Banco Central deverá manter a taxa básica da economia (Selic) nos atuais 15% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana. Segundo eles, o ciclo de queda na taxa básica só deverá começar no primeiro trimestre do ano que vem. 

Conforme os dados do IBGE, cinco dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram queda de preços: Habitação, Alimentação e bebidas e Transporte, que registraram quedas de 0,90%, 0,46% e 0,27%, respectivamente. O maior impacto no IPCA dentre eles foi o do grupo Habitação, de -0,14%, devido ao crédito na conta de luz do bônus de Itaipu, que fez com que a energia elétrica residencial se destacasse como o principal impacto negativo do IPCA do mês passado, de -0,17%. Esse bônus na fatura neutralizou o impacto da bandeira vermelha patamar 2 – que implica em um adicional de R$ 7,87 a cada 100 Kwh consumidos. 

O resultado do IPCA de agosto ficou abaixo das expectativas do mercado, que previa um recuo de 0,15% no indicador, conforme a mediana das estimativas coletadas pelo Banco Central no boletim Focus. Contudo, a queda foi a maior registrada pelo IBGE desde setembro de 2022, quando o recuo foi de 0,29%. No acumulado do ano, a alta foi de 3,15%.

Analistas ressaltaram que essa queda é sazonal, e, portanto, o recuo no IPCA de agosto não é motivo de comemoração, pois o índice do custo de vida voltará a subir neste mês. Além disso, alertam que, apesar da queda do IPCA, houve aumento da disseminação do aumento de preços entre os itens pesquisados, que passou de 50% para 57%, sinalizando espalhamento da inflação, e, quando isso acontece fica mais difícil para uma convergência da inflação para o centro da meta, de 3%.

Fábio Romão, economista sênior da 4Intelligence, destacou que o resultado do IPCA de agosto foi sazonal e, assim como a prévia do mês, o IPCA-15, deram sinais de resiliência na inflação de serviços, que apresentaram alta de 0,39% em agosto, o que contribuiu para maior difusão da alta de preços. 

Pelas contas dele, sem o bônus de Itaipu, o IPCA de agosto teria registrado alta ao redor de 0,25%. Ele ressaltou que, além do bônus de Itaipu, o tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, ajudou a aumentar a oferta de alimentos no mercado doméstico, reduzindo os preços no atacado. Com isso, a queda de 0,83% na alimentação no domicílio, por conta da redução de preços de produtos in natura, ou seja, aqueles vendidos na feira, como tomate (-13,39%), manga (-18,40%), mamão (-10,90%), cebola (-8,69%) e batata (-8,59%).

“Nossa avaliação é de que, daqui pra frente, a alimentação pode subir, sobretudo, no último trimestre do ano. Essa queda de preços é algo sazonal e também e essa ajuda dos preços no atacado vai sair de cena. Em setembro já devemos ver alta de preços de carne bovina e de café”, alertou Romão. Segundo ele, a temporada de quedas consecutivas nas estimativas para o IPCA deste ano no boletim Focus acabou. “Agora, essas revisões vão estancar”, alertou. Romão revisou de 5%, para 4,9% a previsão para o IPCA de 2025 – dado acima da mediana do Focus, de 4,85%.

O economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), também reforçou que a deflação de agosto não vai se repetir neste mês. “O resultado do IPCA foi bom, mas é temporário. Essa queda não se sustenta, porque o bônus de Itaipu só valeu para agosto. Para setembro as tarifas de energia devem subir quase 10%. Então, isso já vai fazer o IPCA de deste mês vir na casa de 0,3% a 0,4%, um pouco absorvendo esse efeito que veio na forma de desconto em agosto”, alertou. Ele também reconheceu que, sem o bônus na conta de luz, a variação do IPCA de agosto estaria no campo positivo.

De acordo com o economista Ecio Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a redução de preços de agosto é momentânea e não vai contribuir para que o IPCA fique abaixo do teto da meta. “Eu ainda vejo com certa preocupação a inflação, porque o IPCA está no 11º mês consecutivo acima do teto da meta, de 4,5%, e, portanto, deverá encerrar o ano acima do teto da meta”, afirmou.

Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, ressaltou que, ao monitorar os dados do IPCA, o ponto sensível segue em serviços, porque há manutenção de alta de preços em patamares elevados ainda.  “Quando a gente faz aquele cálculo de inflação de serviços subjacentes, até desacelerou, mas muito por causa desses pontos mais específicos relacionados à queda de preços de ingressos de cinema, mas a inflação de serviços intensivos em mão de obra, acelerou”, disse ela, lembrando que a inflação segue acima de 5% no acumulado em 12 meses.