Em meio ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a economia norte-americana dá sinais de resiliência ao apresentar um crescimento mais robusto do que o anteriormente previsto, conforme a segunda estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA. A atividade econômica dos EUA avançou 3,3%, no segundo trimestre de 2025, após queda de 0,5% no primeiro trimestre do ano, na comparação anualizada, conforme dados do dados do Departamento de Comércio dos EUA divulgados nesta quinta-feira (28/8) e que estão animando as bolsas internacionais e a brasileira, que apresentava alta perto de 2% por volta das 11h50.
Na estimativa anterior, o PIB da maior economia do planeta havia registrado alta de 3%, conforme dados do Bureau of Economic Analysis (BEA), órgão ligado ao Departamento de Comércio norte-americano. Segundo a entidade, o crescimento do consumo interno aumentou 0,7 ponto percentual em relação à estimativa anterior, para 1,9%.
“O PIB foi revisado para cima em 0,3 ponto porcentual em relação à estimativa preliminar, refletindo principalmente revisões para cima no investimento e nos gastos do consumidor, que foram parcialmente compensadas por uma revisão para baixo nos gastos do governo e uma revisão para cima nas importações”, destacou o comunicado.
Conforme os dados do BEA, as importações desabaram 29,8% após alta de 37,9% no primeiro trimestre. De acordo com analistas, muitas empresas anteciparam as compras no primeiro trimestre para evitar o início do tarifaço. Enquanto isso, as exportações encolheram 1,4% após registrarem variação de 0,4% nos primeiros três meses do ano.
“Muita empresa tentou fugir das tarifas no primeiro trimestre, só que a importação entra no cálculo do PIB como negativo. Então, tirando o efeito das importações, a economia segue bem semelhante”, avaliou o economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
O economista e consultor André Perfeito, também analisa com cautela os números do PIB norte-americano. “Me parece que as importações voltaram para o patamar normal e, no segundo, isso não aconteceu. A partir de agora é que vamos ver os efeitos do tarifaço a partir de agora, porque o primeiro trimestre foi muito ruim por conta das expectativas em relação ao aumento de tarifas”, afirmou.
Segundo ele, o PIB dos EUA se normaliza, em parte, depois do primeiro choque das tarifas do primeiro trimestre. “Se no começo do ano as importações dispararam 37,9% na esteira do tarifaço em relação ao 4ª trimestre de 2024 e isso fez o PIB cair, agora, a importação recua 29,8%”, destacou. Ele lembrou que o investimento, que inclui a formação de estoques, despencou 13,8% – o pior resultado desde a pandemia de covid-19. “Não foi dessa vez que o Maga (movimento Make America Great Again de Trump) aconteceu nos EUA. Na verdade, vemos ainda a ressaca do primeiro choque das tarifas e os efeitos dinâmicos ainda não estão completamente claros nos dados”, frisou.
Eduardo Velho, sócio e economista-chefe da Equador Investimentos, reconheceu que o dado do PIB do segundo trimestre é positivo, porque ficou levemente acima das expectativas, de 3,2%. Ele lembrou que o crescimento da atividade continua sólido e o mercado precifica que a recessão não deve acontecer, mas pode haver uma desaceleração suave ao longo do segundo semestre.
“O dado do PIB confirmou a primeira leitura e mostra que a economia dos EUA está bem distante da recessão, o que é positivo para o mercado de renda variável”, afirmou Velho, em referência às bolsas norte-americanas. De acordo com ele, a grande expectativa do mercado, agora, é com relação ao indicador de inflação ao consumidor mensal, o PCE, que tem mais peso no PIB e é mais observado pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), que deverá mostrar os primeiros impactos do tarifaço nos preços internos nos EUA.
“O mercado está de olho nesse indicador, que tem apresentado uma desaceleração no núcleo de 3,5%, no primeiro trimestre, para 2,5%, no segundo trimestre, anualizados”, lembrou Velho. Segundo ele, a expectativa do mercado para o PCE é que ele mantenha o mesmo ritmo de junho, que foi de 0,3%, no mês e de 2,6%, anualizado. As apostas para julho são de 0,2% e 2,6%, respectivamente.
Arnaldo Lima, relações institucionais da Polo Capital, também reconhece que o resultado positivo do PIB dos EUA pode ser transitório, uma vez que investimento e exportações apresentaram recuo. “Esse panorama pode levar o Fed a repensar a expectativa de redução dos juros na próxima reunião, em setembro, já que o avanço econômico no segundo trimestre pode justificar o adiamento do início do ciclo de queda das taxas, especialmente diante dos sinais mistos do mercado de trabalho e pressões inflacionárias”, comentou.