Para setor produtivo, aumento da Selic é “excessivo” e “equivocado”

Entidades do setor produtivo como CNI e Firjan criticam decisão do Banco Central, que elevou a taxa Selic para 11,25% ao ano

O setor produtivo voltou a criticar o atual patamar dos juros no Brasil e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que voltou a aumentar a taxa básica da economia (Selic). Para entidades do segmento, o aumento dos juros foi “excessivo” e “equivocado”.

No segundo dia de reunião do Comitê, os diretores do Banco Central decidiram, nesta quarta-feira (6/11), elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 11,25% ao ano. Foi a segunda alta consecutiva da Selic neste ano e a decisão foi unânime, como esperado pelo mercado. Na reunião anterior, os juros básicos haviam subido 0,25 ponto percentual. 

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) considerou o novo aumento da taxa Selic como “excessivo”, diante do atual cenário inflacionário. “Dados recentes da inflação oficial do país mostram que, no acumulado em 12 meses, tanto o índice geral quanto os itens mais sensíveis à taxa de juros estão dentro do intervalo da meta para 2024. Além disso, a inflação projetada para o médio prazo, que é o período mais relevante para a definição da Selic pelo Banco Central, também se encontra dentro da margem de tolerância da meta inflacionária”, afirmou a entidade, em nota divulgada após a decisão do Copom.

De acordo com a Firjan, o atual patamar da taxa de juros é elevado e “inviabiliza uma recuperação sustentável da indústria, em especial da indústria de transformação que há dois anos consecutivos registra queda na produção” e compromete os investimentos, “que continuam abaixo da média mundial”. “As incertezas relacionadas à condução da política comercial externa a ser adotada pelo novo governo americano tornam o cenário no médio prazo ainda mais desafiador”, acrescentou o comunicado. 

Contudo, a entidade defendeu medidas que reduzem o risco-país, como uma política fiscal comprometida com a sustentabilidade da dívida pública, que “Isso é essencial para uma redução sustentável das taxas de juros. Sem medidas estruturais de contenção de despesas para lidar com o desequilíbrio nas contas públicas, o país corre o risco de enfrentar uma combinação de juros altos, desaceleração econômica acentuada e um crescimento ainda mais elevado do endividamento público”, emendou.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também criticou a decisão do Banco Central e disse que recebeu “com indignação” o comunicado do Copom, que está na contramão de outros países que estão reduzindo os juros em vez de aumentá-los.  “Além de ser equivocado, o movimento de alta foi intensificado, já que o Banco Central subiu o ritmo de aumento em 0,25 ponto percentual frente à reunião anterior”, afirmou o texto da nota da CNI.

“Trata-se de mais uma decisão extremamente conservadora da autoridade monetária. Isso porque o nível em que a Selic se encontrava antes da reunião já era mais que suficiente para manter a inflação sob controle. É importante observar que a inflação tem sido impactada por fatores sobre os quais a política monetária não tem efeito. Por isso, a elevação na Selic apenas irá trazer prejuízos desnecessários à atividade econômica, com reflexos negativos em termos de criação de emprego e renda para a população”, completou a nota CNI.

Conforme o comunicado da entidade, um ponto que merece melhor avaliação pelo Banco Central é a questão das contas públicas. “Embora seja inegavelmente importante buscar a sustentabilidade da dívida, há um exagero na preocupação com o quadro fiscal. O impulso fiscal sobre a atividade econômica tem se reduzido significativamente ao longo de 2024, o que tende a frear a pressão sobre a inflação”, destacou a entidade. Segundo a instituição, “as despesas primárias federais apresentaram crescimento real de 10,5% no primeiro semestre de 2024, em relação ao mesmo período de 2023. Já no segundo semestre de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023, a estimativa da CNI é de queda real de 1,7% (desconsiderando o pagamento adicional de precatórios em 2023)”.

 “O menor ritmo de crescimento das despesas somado ao forte crescimento da arrecadação federal tem mostrado que o cumprimento do limite inferior da meta de resultado primário de 2024 é totalmente viável. O Banco Central precisa levar em conta as medidas de redução de despesas públicas em 2025 que devem ser anunciadas em breve pelo governo federal. Ação muito positiva para a melhor sincronia entre as políticas monetária e fiscal”, complementou a nota da CNI.