Enquanto o escândalo de corrupção no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ganha proporções cada vez mais expressivas, e integrantes do governo ainda não sabem dizer ao certo qual é o tamanho dos desvios bilionários das contas de aposentados e pensionistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu fazer duas viagens ao exterior que estão dando o que falar.
Apesar da distância, a confusão no sistema de aposentadorias o petista não conseguiu descolar sua imagem do escândalo. E, além de não ajudar no resgate da popularidade declinante do petista — que o imbróglio do INSS que já tem pedidos de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), protocolados na Câmara e no Senado –, a viagem para a Rússia, principalmente, poderia ter sido evitada para evitar mais danos à imagem do governo, segundo fontes que apontam um verdadeiro tiro no pé de Lula.
Na chancelaria do governo Lula, a ida dele para a Rússia não era um consenso, e fontes próximas do Executivo contam que havia um grupo que considerava que ela deveria ser evitada. No entanto, o que prevaleceu foi a palavra do assessor de assuntos internacionais e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que parece que não abandonou o cargo.
Mas uma das saias justas de Lula dessa viagem é o fato de que a guerra entre Rússia e Ucrânia se estende por três anos e três meses, e como o petista nem incluiu uma rápida escala em Kiev, revelou de qual lado do conflito ele está no momento — algo desnecessário para quem quer ser lembrado como um estadista democrata e pacificador.
O chefe do Executivo também precisará conviver com as críticas por estar, na Praça Vermelha, na comemoração do 80º Dia da Vitória contra a Alemanha nazista, ao lado de ditadores da esquerda, como Putin, Nicolás Maduro, da Venezuela, e o general Min Aung Hlaing, de Mianmar, líder da junta militar que deu um golpe de Estado em 2021. E, para piorar, ainda tem um prato cheio de questionamentos de políticos da oposição junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a viagem antecipada da primeira dama, Rosângela Janja da Silva, que embarcou para Moscou cinco dias antes da comitiva presidencial.
Imagem negativa
Vale lembrar que, conforme dados da pesquisa da Quaest, divulgada nesta segunda-feira (12/5), as mensagens capturadas na internet sobre o escândalo do INSS apresentam tom altamente negativo. Metade (50%) das falas críticas são acompanhadas de notícias, em sua maioria 47%. Apenas 3% do conteúdo coletado defendem o governo. O levantamento revela que o estrago na imagem do governo é grande. Ao comparar os primeiros 15 dias de repercussão dos escândalos do INSS com a repercussão da suposta taxação do Pix, os resultados mostram que o caso do INSS gerou um volume de mensagens 2,6 vezes maior nos grupos de mensageria monitorados pelo Q-Insider.
“Na comparação com temas de discussão nacional, as mensagens sobre o escândalo do INSS têm mantido repercussão superior a outros temas, e, nesta última semana, passaram a ganhar o espaço antes ocupado por mensagens relacionadas à saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)”, de acordo com a pesquisa. “A relevância das notícias e conteúdos sobre o escândalo do INSS ficam ainda mais claras quando comparados à pauta da anistia aos presos das invasões do 8 de janeiro, pouco compartilhadas nos grupos, inclusive nos grupos públicos de direita, nos últimos dias”, acrescentou o estudo.
Alento chinês
A ida de Lula à China, ao menos, parece mais um alento, porque está se mostrando mais proveitosa. O fato de o presidente brasileiro estar em Pequim no mesmo dia do anúncio da trégua por 90 dias da guerra comercial entre os norte-americanos e os chineses, é visto como bastante positivo por especialistas em relações internacionais.
Apesar das incertezas sobre os impactos desse acordo entre China e Estados Unidos para o Brasil, Lula pode colher alguns frutos da visita de Estado ao país asiático, como o anúncio de US$ 27 bilhões de investimentos de empresas do país asiático no Brasil, em áreas como indústria automotiva, energia renovável, tecnologia, mineração, saúde, logística e alimentos.
Em encontro com Lula, nesta segunda-feira (12/5), o fundador e chairman da montadora chinesa GWM, Jack Wey, aos novos modelos que serão produzidos no país, conversou sobre três novos modelos que serão produzidos no país, incluindo o SUV híbrido Haval H6, devendo gerar 800 empregos na fábrica no interior de São Paulo. Outra justificativa para a viagem foi o Fórum China-Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) em Pequim.