Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) evitou fazer críticas ao Banco Central pelo novo aumento da taxa básica da economia (Selic), nesta quarta-feira (18/6), de 14,75% para 15% ao ano, entidades do setor produtivo consideraram a decisão “inadmissível” e “injustificada”. Além disso, fizeram um alerta sobre o impacto negativo da decisão sobre os investimentos no país.
Sob o comando do economsita Gabriel Galípolo, indicado por Lula, a partir deste ano, o Banco Central tem a maioria dos diretores nomeados pelo petista. Apenas dois dos nove foram indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), por exemplo considerou “inadmissível” a decisão do Copom e afirmou que cada aumento dos juros “é um golpe adicional na capacidade de produção e de o país crescer de forma sustentável”. De acordo com a entidade, a falta de confiança do setor “é alarmante”, pois o Índice de Confiança do Empresário Industrial fechou o primeiro semestre de 2025 no campo pessimista,” sinalizando um risco claro para os investimentos no Brasil”.
A Firjan também reconheceu que o governo precisará resolver os problemas fiscais, para conter o retorno do aumento do risco-país. “Sem flexibilidade fiscal, o Estado continuará limitado a administrar emergências e impossibilitado de projetar soluções estruturantes para o futuro. Persistir nessa trajetória significa comprometer a estabilidade do Brasil, manter o risco-país elevado e dificultar a redução sólida da taxa de juros. É fundamental que o país adote medidas que priorizem o crescimento sustentável e a confiança no futuro”, completou.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) também criticou a decisão do Copom e a condução da política monetária, apesar dos sinais recentes de desaceleração da atividade econômica e do IPCA. Embora reconheça a importância do controle da inflação para a estabilidade econômica, a entidade fez um alerta de que “essa medida pode restringir ainda mais os investimentos produtivos, além de ampliar os custos de produção, reduzir a competitividade da indústria brasileira, e levar a impactos negativos sobre a geração de empregos e a renda das famílias”.
Na avaliação do presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, a medida pode restringir ainda mais os investimentos produtivos, ampliar os custos de produção, reduzir a competitividade da indústria brasileira, e levar a impactos negativos sobre a geração de empregos e a renda das famílias. Ele defendeu a adoção de medidas mais equilibradas pelo governo, “capazes de conciliar o controle da inflação com a necessidade de estimular o desenvolvimento econômico e a competitividade da indústria nacional”.
“É fundamental que as decisões de política monetária sejam pautadas pela cautela, levando em conta os efeitos defasados das medidas já adotadas e o elevado nível de restrição imposto pela atual taxa de juros, a fim de evitar impactos desproporcionais sobre a atividade econômica e o mercado de trabalho”, afirmou Roscoe, em nota.
A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) também não poupou críticas à decisão do Copom e classficou de “injustificada” e ainda fez um alerta de que a medida “vai agravar as condições de competitividade do setor produtivo”. “Não lidávamos com um patamar tão alto desde 2006. A irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos, que já lidam com um cenário conturbado e possibilidade de aumento de juros e custo de captação de crédito. É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide aumentar a taxa de juros. Aonde se quer chegar?”, questionou Ricardo Alban, presidente da CNI, e, nota da entidade.
Na avaliação da CNI, o aumento dos juros vai “sufocar a economia”, pois com a decisão do Copom, a taxa de juros real (descontada a inflação), subiu para 9,8% ao ano — 4,8 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a econômica, estimada em 5% anuais pelo Banco Central. “A Selic em 15% ao ano. implica, portanto, em uma política monetária ainda mais contracionista e que confirma o Brasil entre as maiores taxas de juros real do mundo. Não custa lembrar: a Selic está em campo contracionista há 41 meses”, destacou a entidade.
No comunicado após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central informou que a decisão de aumentar os juros foi unânime e sinalizou que, na próxima reunião, em julho, o ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro de 2024, será interrompido. Contudo, o BC deixou uma janela aberta para voltar a aumentar a Selic, se os cenários não se confirmarem e as projeções para a inflação seguirem desancoradas.