Brasília é cheia de confusões e aberrações. Uma delas é o ponto facultativo que só acontece na capital federal, mas acaba sendo incorporado como feriado entre os servidores da administração pública, prejudicando não somente o atendimento de quem tenta marcar uma simples consulta, como aconteceu, nesta segunda-feira (27/10), com uma moradora de São Sebastião, que saiu frustrada do posto de saúde pela manhã, ou mesmo pega jornalistas de surpresa que são barrados na Esplanada dos Ministérios.
Em dia de folga do funcionalismo, jornalistas foram impedidos de trabalharem normalmente para seus veículos no prédio sede do Ministério da Fazenda. Seguranças da pasta expulsaram repórteres que estavam no comitê e a pasta disse que o impedimento foi ocorrido por falta de comunicação com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).
Lista sem valor
Por causa do dia do servidor público que é comemorado na terça-feira, o ministério estava fechado, nesta segunda, assim como os demais órgãos da Esplanada, como se fosse um domingo devido ao ponto facultativo antecipado. Mas, na semana passada, como de praxe, uma lista com todos os nomes de jornalistas que trabalham no comitê foi encaminhada para a administração da pasta para liberarem a entrada nesta segunda.
A mesma lista foi encaminhada, posteriormente, ao MGI, de acordo com o jornalista responsável por encaminhar a listagem. A liberação, infelizmente, não ocorreu e dois repórteres que estavam trabalhando no comitê foram retirados pelos seguranças da Fazenda de forma pouco amigável.
O primeiro caso, de uma setorista de uma rádio, quando ela deixou o prédio para um link externo, no retorno, foi barrada na catraca e abordada com certa truculência pelo segurança. O segurança não queria deixar a repórter entrar novamente no prédio para pegar os pertences pessoais no comitê. E, depois de muita discussão, ela foi escoltada para pegar as coisas e expulsa do ministério. Horas mais tarde, uma repórter de um site de notícias também foi retirada do comitê pelos seguranças, mas com mais educação do que no primeiro caso.
“A segurança da Fazenda alegou que o MGI não repassou a autorização para a liberação da entrada do comitê e que tinha ordens para barrar a entrada de todo visitante. Isso porque a imprensa, no esquema de catracas eletrônicas, é uma espécie de visitante privilegiada. Passa pela catraca, mas não tem crachá funcional”, informou a fonte que conversou com os jornalistas barrados.
De acordo com o relato da fonte, a assessoria Ministério da Fazenda “alegou ter sido pega de surpresa” e ainda disse que não conseguia falar com ninguém no MGI para liberar a entrada. “O MGI não autorizou o acesso ao prédio hoje por isso eles não estão liberando a entrada dos jornalistas no comitê”, informou a pasta em mensagem para o jornalista.
Procurada, a assessoria do MGI disse que os ministérios estavam fechados por conta do ponto facultativo e informou que ia apurar o assunto. Posteriormente, em nota, informou que “não foi identificado qualquer impedimento ao acesso de profissionais de imprensa”.
“Constatou-se a entrada de uma jornalista, que solicitou acesso à sala de imprensa e foi autorizada pela equipe de vigilância a entrar para retirada de pertences pessoais, mesmo sem prévia autorização. Esclarecemos que, em dias de ponto facultativo, feriados, finais de semana ou fora do horário regular de expediente, o ingresso em prédios sob gestão do MGI ocorre exclusivamente mediante autorização prévia das unidades dos órgãos, conforme os procedimentos usuais de controle e proteção das instalações, sobretudo quando se trata de pessoas externas ao quadro de servidores”, informou a nota conjunta do MGI e do Ministério da Fazenda.
De acordo com a nota, o e-mail encaminhado pelo Ministério da Fazenda ao MGI com a solicitação de acesso continha erro no endereço eletrônico, uma vez que o domínio “gestão” foi digitado com acento, “o que impediu o recebimento da mensagem que pedia liberação de acesso dos jornalistas cadastrados no comitê de imprensa pela equipe responsável pela autorização de acesso”.
“Os ministérios reafirmam seu compromisso com a transparência, o respeito ao trabalho da imprensa e a cooperação institucional entre os órgãos, mantendo-se à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais”, acrescentou a nota conjunta.
Problema recorrente
Esse episódio escancara, mais uma vez, um problema recorrente nas portarias dos ministérios que acontece com os setoristas. Antigamente, eles nunca eram barrados para acessarem os comitês. Mas, agora, depois que o governo passou a utilizar catracas eletrônicas com identificação facial para os servidores, os problemas de acesso são comuns.
Da forma antiga, bastava um crachá e o cartão de acesso na catraca para os jornalistas acessarem o comitê da Fazenda, que fica no andar térreo do órgão, sem problemas. Nele, repórteres dos principais veículos de comunicação do país trabalham diariamente acompanhando o dia a dia do ministério. Mas, com a modernização e reconhecimento facial nas catracas — um gasto questionável de um governo que precisa economizar para cumprir as metas fiscais –, é preciso atualização diária somente para atrapalhar o trabalho de jornalistas, ou seja, mais burocracia com a “ajuda” da tecnologia.
*A matéria foi atualizada com informações de nota do MGI e do Ministério da Fazenda