Acompanhando o novo ciclo de revisão das projeções do mercado para os indicadores macroeconômicos após a surpresa com a alta de 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, o Itaú Unibanco também elevou a previsão de expansão da atividade econômica deste ano e do próximo, e alerta para a volta da alta dos juros básicos, que deverão chegar a 12% “no fim do novo ciclo de aperto monetário” que deverá se estender até 2025.
Pelas novas projeções da equipe econômica do Itaú Unibanco, o PIB deverá avançar 3%, neste ano, e 2%, em 2025. Antes, as estimativas estavam em 2,5% e 1,8%, respectivamente. De acordo com o banco, o consumo das famílias deve continuar impulsionando o crescimento da economia, em meio à resiliência do mercado de trabalho. Amanhã será a vez de o Ministério da Fazenda anunciar mais uma revisão para o crescimento do PIB brasileiro neste ano. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, ontem, que a atividade econômica deverá crescer mais de 3%.
Novo ciclo de alta dos juros
Uma das consequências desse crescimento acima das expectativas, contraditoriamente, é a certeza de que, como a demanda está aquecida e o governo não consegue zerar o rombo das contas públicas, a volta de um ciclo de alta dos juros será inevitável e deverá começar na próxima semana. O time de analistas liderado pelo economista-chefe Mário Mesquita também elevou a previsão para a taxa básica da economia (Selic), neste ano e no próximo. Com isso, os economistas do Itaú preveem que a taxa Selic, atualmente em 10,50% ao ano, subirá para 11,75% até dezembro. Antes, a previsão era de estabilidade nos juros. E, para 2025, a perspectiva para os juros básicos no fim de dezembro passou de 10,50% para 11%.
A expectativa do mercado indica que o Banco Central deverá começar a aumentar a taxa Selic na próxima reunião do Copom, que ocorrerá nos dias 17 e 18 deste mês. “O ciclo de alta (da Selic), a princípio, não deve ser grande, totalizando 150 pontos-base. Simulando o modelo utilizado pelo Copom, com o câmbio em 5,60 e considerando a deterioração de expectativas 12 meses à frente desde a última reunião, além de alguma revisão do hiato do produto – que não deve ser grande, dados os sinais ainda incipientes do contágio da atividade mais forte para a inflação de serviços – encontramos uma projeção de inflação no horizonte relevante acima da meta, em 3,4%. Com tal projeção, estimamos que a taxa de juros necessária para trazer o IPCA de volta à meta seria de, pelo menos, 12%”, destacou o relatório da instituição enviado aos clientes nesta quinta-feira (12/9).
“O real seguiu pressionado, próximo das máximas recentes, refletindo os ruídos na comunicação do Banco Central e as contínuas incertezas sobre os rumos das contas públicas. Além disso, os dados mais recentes de atividade indicam que a economia se encontra mais aquecida do que o BC esperava na última reunião e as expectativas de inflação seguem desancoradas”, acrescentou o documento.
O Itaú Unibanco manteve em 4,2% a previsão para a inflação oficial deste ano, dado acima do centro da meta, de 3%, mas abaixo do limite superior, de 4,5%. Para 2025, a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passou de 4,2% para 4,1%. Já a previsão para o dólar no fim do ano passou de R$ 5,50, neste ano e no próximo, para R$ 5,40 e R$ 5,20, respectivamente.
Quadro fiscal
Economistas do Itaú Unibanco reconhecem que, apesar da perspectiva de um crescimento maior do PIB a arrecadação deverá aumentar e melhorar o resultado fiscal deste ano, mas, em 2025, a tendência é de que o rombo fiscal seja maior do que o previsto para este ano. As estimativas para o deficit primário das contas públicas, apesar das revisões, continuam acima do limite inferior da meta fiscal, de 0,25% do PIB.
Pelas novas estimativas da instituição financeira, a projeção do rombo fiscal deste ano passou de 0,6% para 0,4% do PIB. E, para 2025, o saldo negativo das contas públicas deve continuar piorando, apesar da revisão que passou de -0,9% para -0,8% do PIB.
Analistas do banco demonstraram preocupação com a dependência do governo em fechar as contas de 2024 com receitas extraordinárias, que não devem se repetir com a mesma intensidade no próximo ano. “Consideramos que uma estratégia de ajuste fiscal com foco maior no aumento de receitas, caso não seja acompanhada de uma agenda de controle de gastos obrigatórios, não deve ser capaz de produzir uma perspectiva de estabilização da dívida pública de forma sustentável”, destacou o documento.
De acordo com Mario Mesquita, a dívida pública bruta vem crescendo em ritmo de três pontos percentuais ao ano e, em breve, ultrapassará 80% do PIB — patamar considerado insustentável para países emergentes. Conforme as projeções da instituição, a dívida pública bruta passará de 77,5% do PIB, no fim deste ano, para 81% do PIB no fim de 2025.