Intervenções do BC em apenas dois dias superam pacote fiscal do governo

Em apenas dois dias de intervenção no mercado de câmbio, Banco Central injeta R$ 91 bilhões, em valores do dólar no fechamento de hoje, mais do que os cerca de R$ 70 bilhões de corte de gastos prometido no pacote fiscal

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O Banco Central injetou US$ 7 bilhões no mercado, nesta sexta-feira (20/12), sendo US$ 3 bilhões no mercado à vista, ou seja, que não voltam para os cofres do BC. A medida, contudo, não conseguiu fazer o dólar voltar a ficar abaixo de R$ 6, mesmo com o presidente fazendo uma transmissão nas redes sociais com o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em uma clara tentativa de reduzir os ruídos no mercado.  

Na véspera, após a divisa norte-americana, a instituição irrigou o mercado com US$ 8 bilhões, após o dólar encostar em R$ 6,30 no dia anterior. Foi a maior intervenção no mercado à vista da história. Com isso, em apenas dois dias, o Banco Central injetou no mercado nada menos do que US$ 15 bilhões, o equivalente a R$ 91 bilhões, considerando o valor do fechamento do dólar hoje, de R$ 6,07.

Logo, o valor das intervenções do BC no mercado de câmbio nesses dois dias é superior aos pouco mais de R$ 70 bilhões de corte de gastos previstos no pacote fiscal aprovado pelo Congresso para os próximos dois anos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou os ministros da da área econômica – Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Rui Costa (Casa Civil) para uma transmissão ao vivo nas redes sociais, na tarde de hoje, ao lado de Galípolo escolhido por Lula para suceder o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Na breve transmissão, o chefe do Executivo afirmou que “o Brasil é guiado por instituições independentes” e sobre o novo presidente do BC afirmou que é de extrema confiança dele e de toda a equipe do governo. “Ele será o mais importante presidente do Banco Central, com mais autonomia que o BC já teve”, disse o petista. “E, pela qualidade profissional, experiência de vida, ele, certamente, vai dar uma lição de como é que se governa um banco central com a verdadeira autonomia”, acrescentou. 

A transmissão de Lula com Galípolo e os ministros ocorreu poucas horas depois de o ministro Fernando Haddad admitir, em um café da manhã com jornalistas, que existe problema de comunicação do governo e esse é um dos motivos para a forte alta do dólar que, desde o anúncio atabalhoado do pacote fiscal, que foi feito junto com a divulgação de uma renúncia do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil – algo que vai custar cerca de R$ 40 bilhões aos cofres públicos, e, portanto, precisará de uma medida compensatória do lado da receita.

“Houve um fortalecimento da moeda norte-americana no mundo inteiro, e, aqui, foi maior. Temos que corrigir essa escorregada que o dólar deu aqui. Não no sentido de buscar um nível de dólar, uma meta. Na minha opinião, o BC deveria atuar, mas é atribuição dele, para buscar equilíbrio sempre que houver uma disfuncionalidade”, afirmou Haddad, aos jornalistas. 

Pouco antes da entrevista coletiva do ministro na sala de reuniões do Conselho Monetário Nacional (CMN), alguns secretários participaram de um papo descontraído com os jornalistas. O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, apareceu com uma travessa cheia de cookies feitos por ele mesmo, que se revelou um chef. “Fiz a massa ontem à noite e assei hoje de manhã “, contou ele apresentando os biscoitos nos sabores de pistache e red velvet.