A decisão polêmica do governo de aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) visando mais arrecadação neste ano afetou em cheio o desempenho do mercado segurador, especialmente no setor de previdência privada, que puxou para baixo o desempenho do setor como um todo em 2025, tanto que a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg) revisou para baixo as projeções de crescimento neste ano. Em dezembro de 2024, a entidade previa expansão de 10,1% no setor segurador com um todo, incluindo a área de saúde suplementar, para menos de 2%, ou seja 1,9%, para um volume arrecadado de R$ 765,5 bilhões.
De acordo com o presidente da CNSeg, Dyogo Oliveira, os planos de previdência no regime Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) foram os mais afetados e devem registrar queda de 19,4% na captação em 2025. De janeiro a agosto, esse segmento faturou quase R$ 180 bilhões, em 2024, e representa cerca de 30% do setor como um todo,encolheu quase 16%, levando o desempenho do setor segurador, menos saúde, para uma queda de 2,8% nos primeiros oito meses do ano.
“O setor de seguros está muito bem neste ano, exceto aqueles impactados por decisões externas ou decisão do governo”, afirmou Oliveira, nesta terça-feira (4/11), a jornalistas, durante a apresentação da revisão das projeções da entidade. Contudo, ele demonstrou otimismo com outros segmentos do setor. “Temos visto a demanda por por seguros crescendo e o interesse e muitos produtos se mostram do ponto de vista econômico”, afirmou. Ele citou como exemplo o seguro de automóveis, que avançou 5,38% em receita, de janeiro a agosto.
Outros destaques saõ os seguros de vida e patrimonial, que cresceram 11,28% e 12,62%, respectivamente, no mesmo período. E, pelas novas projeções da CNSeg, os destaques positivos para este ano vão para os seguros de automóvel, que deve crescer 6,4%, habitacional (+12,9%), risco de engenharia (+34,6%) e de vida (+11,6%).
Além dos setor de previdência privada, outro segmento que contribuiu para a revisão para baixo nas estimativas da CNseg foi o seguro rural. Segundo Oliveira, a redução de recursos do governo federal para o seguro rural, previsto no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), neste ano, em função do contingenciamento de gastos afetou a contratação desse serviço por produtores médios e pequenos. Conforme os dados do executivo, apenas 2,3% dos 97 milhões de hectares plantados no país possuem cobertura de seguro rural, que apresentou queda de 6,7% de janeiro a agosto deste ano, enquanto as indenizações cresceram 7,5%.
“Grande parte dos recursos previstos sequer é executada, o que compromete a proteção dos pequenos e médios produtores, justamente os mais vulneráveis a perdas. É preciso ampliar os mecanismos de cobertura, pois, sem expansão e maior previsibilidade dos fundos, o setor agropecuário corre sérios riscos nos próximos anos”, afirmou Oliveira.
De acordo com ele, contudo, a expectativa é retomar a normalidade dentro do programa do governo no próximo ano. A expectativa do setor é pela aprovação de um projeto de lei proposto pela senadora Teresa Cristina (PL-MS), que torna o recurso do seguro rural não contingenciável, e também cria um fundo de estabilização do seguro rural, que ajudará a manter a dinâmica do setor e criar um colchão de perdas que pode reduzir o custo para o agricultor. “Temos uma expectativa de normalização do produto e se houver aprovação desse PL, esperamos expectativas mais positivas para o seguro rural”, afirmou Oliveira.
O presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), Edson Franco, também participou da entrevista e reforçou que “não há precedente” a incidência de imposto sobre aportes destinados à acumulação de recursos, inclusive pelo fato de serem recursos que já sofreram tributação do Imposto de Renda, como salários, saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e venda de imóveis, que costumam ser alocados em um VGBL.
“Ao analisarmos o histórico de aportes superiores a R$ 600 mil, na última década, 78% deles ocorreram uma única vez, reforçando nossa tese de que é um aporte pontual, de herança ou venda de um bem, por exemplo. O VGBL é um instrumento de proteção financeira da classe média, do microempreendedor, do trabalhador que não pode ser penalizado por ter uma atitude previdente em relação ao seu futuro”, disse Franco. Os dois executivos disseram ainda que continuarão tentando sensibilizar o governo sobre o impacto do aumento do IOF.
Veja o quadro com as novas projeções da CNSeg:
| SEGMENTOS | Arrecadação 2024 | Projeção – Variação Nominal 2025/2024 | |||
| (em R$ Bi) | em dez/24 | em out/25 | |||
| (em R$ Bi) | (em Var %) | (em R$ Bi) | (em Var %) | ||
| DANOS E RESPONSABILIDADES | 134,41 | 145,45 | 8,2% | 144,09 | 7,2% |
| Automóveis | 57,66 | 60,14 | 4,3% | 61,35 | 6,4% |
| Patrimonial | 28,06 | 32,00 | 14,0% | 31,09 | 10,8% |
| Massificados | 11,24 | 13,03 | 15,9% | 12,58 | 11,9% |
| Grandes Riscos | 8,79 | 10,08 | 14,7% | 9,67 | 10,0% |
| Risco de Engenharia | 1,10 | 1,21 | 9,8% | 1,48 | 34,6% |
| Outros Patrimonial | 1,16 | 1,21 | 4,2% | 1,16 | 0,1% |
| Habitacional | 7,16 | 7,97 | 11,3% | 8,08 | 12,9% |
| Transportes | 6,12 | 6,78 | 10,8% | 6,35 | 3,8% |
| Riscos Financeiros | 8,96 | 9,98 | 11,4% | 10,28 | 14,7% |
| Garantia | 5,08 | 5,83 | 14,7% | 5,99 | 17,9% |
| Rural | 14,16 | 15,01 | 6,0% | 13,78 | -2,7% |
| COBERTURAS DE PESSOAS | 269,35 | 295,01 | 9,5% | 240,53 | -10,7% |
| Seguros de Pessoas | 75,03 | 82,05 | 9,4% | 80,96 | 7,9% |
| Vida | 34,13 | 37,30 | 9,3% | 38,09 | 11,6% |
| Prestamista | 20,70 | 22,83 | 10,3% | 21,67 | 4,7% |
| Previdência Aberta | 194,33 | 212,97 | 9,6% | 159,74 | -17,8% |
| Família VGBL | 178,26 | 195,73 | 9,8% | 143,68 | -19,4% |
| Família PGBL | 15,31 | 16,50 | 7,8% | 15,34 | 0,2% |
| CAPITALIZAÇÃO | 32,04 | 33,80 | 5,5% | 35,02 | 9,3% |
| Setor Segurador (s/ Saúde) | 435,80 | 474,27 | 8,8% | 419,68 | -3,7% |
| SAÚDE (Arrecadação) | 315,47 | 349,78 | 10,9% | 345,76 | 9,6% |
| Setor Segurador | 751,28 | 827,16 | 10,1% | 765,55 | 1,9% |