Haddad cancela viagem à Europa e focará em “temas domésticos”

Em nota, Ministério da Fazenda informa que, a pedido do presidente Lula, o ministro Haddad ficará em Brasília, ao longo da próxima semana

Após o dólar disparar e alcançar a segunda maior cotação da história, em grande parte, devido ao aumento da desconfiança do mercado no comprometimento do governo em fazer um ajuste fiscal, que ainda está sem data, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cancelou uma viagem para a Europa, prevista para esta semana.

Em nota divulgada na manhã deste domingo (3/11), a assessoria de Haddad informou que o cancelamento da viagem foi um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para que o chefe da equipe econômica se dedicasse “a temas domésticos”. O ministro faria um rodada por vários países, passando por Londres, Paris, Berlim e Bruxelas, segundo fontes da Esplanada.

Na sexta-feira (2), a divisa norte-americana fechou o dia cotada a R$ 5,689, a segunda maior cotação desde maio de 2020, de R$ 5,90, acumulando alta de quase 21% no ano, não apenas por conta das eleições nos Estados Unidos. A piora do quadro fiscal tem pesado muito nessa escalada do dólar. E analistas reconhecem que o câmbio mais forte implica em uma pressão adicional à inflação que, pelas projeções do mercado, já vai estourar o teto da meta, de 4,50%, neste ano, e segue acima do centro da meta, de 3% nos anos seguintes.

A mediana das estimativas dos economistas coletadas pelo Banco Central no boletim Focus está em 4,55% e não para de ser ajustada para cima há quatro semanas seguidas. Essa piora na projeção é reflexo da percepção dos analistas de que o ajuste fiscal que o governo havia prometido para começar no segundo ano do mandato de Lula fique apenas em 2026, um ano pouco provável que isso ocorra, porque nenhum governo corta gastos em ano eleitoral. Com isso, as apostas de em um aperto monetário maior pelo Banco Central para compensar a perna manca do fiscal estão crescendo.

A dúvida agora entre os analistas é de qual será o novo patamar da taxa básica da economia (Selic) no fim do novo ciclo de alta de juros, iniciado na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro, quando a Selic passou de 10,50% para 10,75% ao ano. Alguns previam que os juros básicos subiriam até 12% ou 12,50% ao ano no começo de 2025, e, depois, voltaria a cair, chegando a 11,25% no fim de 2025. Mas agora, os modelos indicam que será preciso juros mais elevados para que a inflação volte para o centro da meta em 2026. Por enquanto, as projeções no Focus para o IPCA no fim de 2026 estão em 3,60%. Nesta semana, o Copom se reúne novamente e a expectativa é de nova alta dos juros, que deverão subir para 11,25% ao ano.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, lembrou que a viagem de Haddad em plena semana do Copom e com o mau humor do mercado em relação à falta de uma sinalização do pacote de corte de gastos seria mais um sinal ruim do governo para o mercado. “Mas foi mau sinal de que não há uma boa ideia sobre o ajuste fiscal. Vai ser difícil o governo sair com algo realmente relevante nos gastos”, afirmou. Para ele, o governo a chance de um ajuste deverá ocorrer apenas em 2027.

Veja a íntegra da nota do Ministério da Fazenda:

NOTA À IMPRENSA

A pedido do presidente Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará em Brasília ao longo da próxima semana, dedicado aos temas domésticos.

Por essa razão, a viagem à Europa, prevista para segunda-feira (4), não será realizada neste momento. A agenda em questão será retomada oportunamente.