FMI reforça alerta sobre aumento de riscos fiscais globais

Pelas projeções do Fundo, dívida pública global pode chegar aos níveis da Segunda Guerra em 2027. Enquanto isso, endividamento do Brasil segue piorando e retornará a patamares de 2020 no ano que vem

crédito: Rosana Hessel/DAPress

Incerteza elevada e mudanças políticas significativas no cenário global estão remodelando as perspectivas econômicas e fiscais, que tendem a piorar, em meio à escalada da guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O organismo multilateral alerta para o fato de que, se houver piora no cenário atual, o nível de endividamento global poderá chegar aos níveis da Segunda Guerra Mundial.

A instituição projeta que, neste ano, a dívida pública global aumentará 2,8 pontos percentuais — mais que o dobro das estimativas para 2024, elevando os níveis de endividamento de 92,3% do Produto Interno Bruto (PIB), no ano passado, para 95,1%, em 2025. “Essa tendência de alta provavelmente continuará, com a dívida pública se aproximando de 100% do PIB até o final da década, superando os níveis da pandemia”, destacou o relatório Monitor Fiscal, divulgado pelo FMI nesta quarta-feira (23/4).  

As projeções do FMI indicam crescimento contínuo ao longo dos próximos anos, até a dívida pública alcançar a taxa de  99,6% do PIB global em 2030. Esse percentual é superior aos 98,9% do PIB contabilizados em 2020, em meio à pandemia da covid-19.

Conforme os dados do relatório do Fundo, em um cenário severamente adverso, a dívida pública global poderá chegar a 117% até 2027. “Isso representaria o nível mais alto desde a Segunda Guerra Mundial, superando as projeções de referência em quase 20 pontos percentuais”, destacou o documento. 

Os Estados Unidos, que chegaram a ter uma dívida pública bruta de 132% do PIB em 2020, por exemplo, devem registrar uma taxa de 122,5%, neste ano, chegando a 128,2% em 2030.  As projeções do Fundo indicam que a China também vai registrar forte aumento do endividamento público, que passará de 96,3% do PIB, neste ano, para mais de 100% do PIB a partir do ano que vem, chegando a 116% do PIB em 2030. O Japão segue com taxas acima de 200% do PIB, mas em ritmo decrescente nos próximos anos. 

De acordo com o FMI, os riscos para a perspectiva fiscal aumentaram ainda mais com a perspectiva de avanço da guerra tarifária deflagrada pelos EUA. “Os níveis de dívida podem aumentar ainda mais do que as estimativas de dívida em risco se as receitas e a produção econômica caírem mais significativamente do que as previsões atuais devido ao aumento de tarifas e à redução das perspectivas de crescimento.”

Endividamento crescente do Brasil

Enquanto isso, pelas projeções do FMI, o Brasil seguirá com rombos expressivos nas contas públicas nos próximos anos, e, por conta disso, deve continuar com o endividamento crescente nos próximos anos. Neste ano, a taxa de dívida pública bruta passará para 92% do PIB, mesma estimativa prevista no relatório de outubro.

E, a partir de em 2026, a tendência é de piora, tanto que, no próximo ano, a expectativa do Fundo é que essa taxa alcance 96% do PIB — mesmo patamar de 2020, no meio da pandemia da covid-19. Pelas projeções do relatório o endividamento público do país chegará ao pico de 99,4% do PIB entre 2029 e 2030, dado acima das previsões anteriores para esses anos, de 97,4% e 97,6% do PIB, respectivamente.

A metodologia de cálculo da dívida pública bruta do Fundo é diferente da do Banco Central, pois inclui na conta os títulos públicos do Tesouro Nacional na carteira da autoridade monetária.

O Monitor Fiscal tem como base as projeções do Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês), divulgado pelo FMI na véspera, considerando os impactos do aumento de tarifas de importação aplicadas pelos Estados Unidos e outros países que fizeram retaliação, como a China. 

No WEO, o Fundo reduziu as projeções de crescimento econômico de forma generalizada, inclusive as do Brasil, que passaram de 2,2% para 2%, neste ano e no próximo. O Fundo reduziu de 3,3% para 2,8% – pior desempenho desde a pandemia – a previsão de crescimento global neste ano, e de 3,3% para 3%, no ano que vem.