No mesmo dia de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu, nesta quarta-feira (17/9) reduzir os juros básicos pela primeira vez em nove meses. A moderação da atividade econômica foi o argumento para o início do novo ciclo de flexibilização da política monetária que seguirá nos próximos meses, conforme o esperado pelo mercado, e ainda sinalizou um corte em 2026.
O corte foi de 0,25 ponto percentual no intervalo da taxa básica, para 4% a 4,25% anuais, como o esperado pela maioria do mercado. Contudo a decisão não foi unânime, pois houve um voto para um corte maior, de 0,50 ponto percentual do Stephen I. Miran, recém-empossado na autoridade monetária. A sinalização de que haverá novos cortes, como o esperado pelo mercado, fez o dólar atingir novo piso, de R$ 5,28, por volta das 15h30, logo após o anúncio, mas a divisa voltou a se valorizar no fim da tarde e terminou o dia com leve alta de 0,05%, cotado a R$ 5,301 para a venda, diante da falta de surpresas após a decisão.
Em entrevista coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que não houve apoio generalizado para que o corte fosse maior e sinalizou que o ritmo dos novos cortes será moderado. “Fizemos aumentos e cortes muito grandes nos juros nos últimos cinco anos, e tendemos a fazê-los quando sentimos que a política monetária está fora do lugar e precisa mudar rapidamente para um novo patamar”, afirmou.
No comunicado, o Fed reforçou que “indicadores recentes sugerem que o crescimento da atividade econômica moderou-se no primeiro semestre”. “O crescimento do emprego desacelerou e a taxa de desemprego subiu ligeiramente, mas permanece baixa. A inflação subiu e permanece relativamente elevada”, destacou o documento.
O Comitê busca atingir o máximo de emprego e inflação a uma taxa de 2% no longo prazo, mas a inflação segue pressionada em 2,9% no último mês. “A incerteza quanto às perspectivas econômicas permanece elevada. O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e avalia que os riscos negativos para o emprego aumentaram”, acrescentou a nota.
A decisão de corte era como esperado pelo mercado e a, agora, a expectativa dos analistas são de mais dois cortes nos juros básicos norte-americanos de mesma magnitude, para 3,75% a 4% ao ano até dezembro, lembrou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “O Fed ainda sinalizou que pode realizar mais um corte no início de 2026, mas como temos visto que o banco central norte-americano tem mudado bastante ao longo deste ano, ainda poderá haver um corte a mais para os juros chegarem a 3% até 2027”, destacou.
Na avaliação de Cruz, nas próximas reuniões, provavelmente, haverá novos diretores como Stefen Miran, defendendo cortes maiores e as pressões podem aumentar. Para ele, o comunicado do Fed não apresentou grandes mudanças em relação às anteriores além das novas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) e para o mercado de trabalho.
“O Fed revisou de 1,4% para 1,6% a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, e de 1,6% para 1,8% a previsão para 2026. A taxa de desemprego, acho que foi a surpresa, que eles deixaram em 4,5%, neste ano, e revisaram para baixo a do ano que vem, de 4,5% para 4,4%. Mas para quem acompanha o mercado de trabalho dos EUA vemos que ele está parando de criar vagas, mas que dificilmente vai conseguir apresentar uma taxa de desemprego muito alta por conta da diminuição no número de imigrantes entrando nos Estados Unidos”, explicou Cruz.
O economista da RB destacou também que o banco central norte-americano ainda manteve em 3% a previsão para a inflação deste ano e elevou a estimativa para o indicador no ano que vem de 2,4% para 2,6%. “Ou seja, em resumo, o Fed fez um corte com tudo piorando para o seu cenário, que principalmente é controlar a inflação. Eles justificam, obviamente, no comunicado sobre o mercado de trabalho, que já dá sinais de piora, mas a gente tem visto que não vai dar grandes motivos para ele fazer esses três cortes”, afirmou.
Para ele, vai ser desconfortável para o Fed manter o ciclo de corte de juros se a inflação persistir elevada. “Agora, é esperar para ver realmente qual vai ser o ritmo dos novos cortes, para ver se eles vão conseguir cortar ainda mais, ou se, eventualmente, vão ter que subir os juros novamente, dependendo do que acontecer no ano que vem”, acrescentou.
Roberto Simioni, economista-chege da Blue3 Investimentos, por sua vez, avaliou que, ao reduzir os juros, o Fed sinaliza ao mercado seu compromisso com a sustentação do ciclo econômico e com a prevenção de uma recessão mais profunda. “Essa sinalização pode ajudar a estabilizar os mercados financeiros, a curva de rendimentos e os investimentos privados, mesmo que o efeito direto da redução seja modesto”, afirmou. Para ele, decisão de corte de juros pelo Federal Reserve se justifica por uma combinação da desaceleração da atividade, convergência da inflação à meta, aumento do desemprego, necessidade de preservar expectativas e atuação preventiva diante de riscos futuros. “O Fed adotou uma postura preventiva, reduzindo os juros como forma de mitigar choques adversos antes que se materializem plenamente. Essa abordagem é coerente com o princípio da ‘política monetária preemptiva’, defendida por economistas como Ben Bernanke”, afirmou ele, citando o ex-presidente do Fed.
Ao avaliar as declarações de Powell, Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, considerou que o ritmo de cortes para as próximas reuniões será de 0,25 ponto percentual. “Powell indicou que o ritmo de 25 pontos parece adequado dado o cenário atual, com uma economia ainda saudável, mas enfatizou que o mercado de trabalho parece estar de fato desacelerando de forma contundente, o que diminui os riscos altistas à inflação. Este posicionamento corrobora, na nossa opinião, a visão de uma continuidade do ciclo de cortes no ritmo atual”, destacou.
Andressa Durão, economista do Asa, ressaltou que a decisão de hoje “confirma que o novo equilíbrio de riscos levou o Fed a antecipar o ciclo de queda dos juros, ainda que sua projeções não indiquem uma deterioração”. Ela também prevê que os dois próximos cortes das próximas reuniões será de 0,25 ponto percentual.