Como esperado pelo mercado, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu reduzir a taxa básica dos títulos públicos dos EUA em 0,25 ponto percentual, nesta quarta-feira (10/12), que também terá decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central brasileiro.
Assim o intervalo dos juros básicos norte-americanos passa para 3,50% e 3,75% ao ano. Foi o terceiro corte consecutivo nos juros feito pelo Fed. A decisão do colegiado, contudo, não foi unânime, pois houve três divergências.
Votaram a favor da medida: o presidente do Fed, Jerome Powell, o vice-presidente, Michael Barr, e os diretores Michelle W. Bowman; Susan M. Collins; Lisa D. Cook; Philip N. Jefferson; Alberto G. Musalem; e Christopher J. Waller. Como na última reunião, Stephen I. Miran, votou contra, porque preferia um corte maior, de 0,50 ponto percentual. Já os dirigentes Austan D. Goolsbee e Jeffrey R. Schmid, defenderam a manutenção dos juros no patamar anterior, de 3,75% a 4% ao ano.
De acordo com o comunicado do comitê de política monetária do Fed, o Fomc, os indicadores disponíveis sugerem que a atividade econômica tem se expandido em ritmo moderado. “A criação de empregos desacelerou neste ano e a taxa de desemprego subiu ligeiramente até setembro. Indicadores mais recentes corroboram esses desenvolvimentos. A inflação subiu desde o início do ano e permanece em níveis relativamente elevados”, acrescentou.
O comunicado do Fed reforçou que mantém a busca para atingir o pleno emprego e uma inflação de 2% no longo prazo. “A incerteza sobre as perspectivas econômicas permanece elevada. O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e considera que os riscos de queda para o emprego aumentaram nos últimos meses”, destacou.
O Fed ainda destacou que estará preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance das metas do Comitê. “As avaliações do Comitê levarão em consideração uma ampla gama de informações, incluindo dados sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, bem como desenvolvimentos financeiros e internacionais”, afirmou a nota. “O Comitê está firmemente comprometido em apoiar o máximo emprego e o retorno da inflação à sua meta de 2%”, reforçou.
De acordo com Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, a expectativa é que o Fed mantenha um tom mais cauteloso, uma vez que os dados do mercado de trabalho mostraram um movimento mais forte do que o esperado. “A economia dos Estados Unidos segue resiliente, mas a inflação continua mais perto de 3% do que da meta, de 2%”, alertou. A expectativa dele é de que o banco central norte-americano deverá realizar mais dois cortes nos juros ao longo de 2026, o que será positivo para os mercados emergentes.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, ressaltou a divergência maior entre os dirigentes do Fed como um ponto a ser observado, pois Stephen Mirren, que foi indicado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, tem falado em taxa juros em 2%, algo que Trump tem dito também e aumenta a expectativa para 2026, quando o republicado poderá trocar o comando do Fed. A princípio, Trump sinalizou para o conselheiro dele, Kevin Hassett. O mandato de Powell termina em maio.
“Independente de quem for o presidente do Fed, a partir do próximo ano, o BC norte-americano poderá passar a ter um discurso mais parecido com o de Trump. Mas isso não quer dizer que os juros podem cair para 2%. Muito provavelmente, é possível que mais dirigentes votem por cortes, além do que estamos vendo hoje, mas as projeções de inflação para este ano e o próximo ainda seguem elevadas, de 3,6%, neste ano, e de 3,4%, no ano que vem”, destacou.
Cruz ainda ressaltou que as projeções do Fed para o crescimento da economia dos EUA mudaram, passando de 1,6% para 1,7%, neste ano, e de 1,8% para 2,3%, no ano que vem. “Muito provavelmente, o que estamos vendo ao longo deste segundo semestre vai ser uma tendência em 2026, com dois grupos distintos no Fed: um querendo manutenção de juros ou até falando em aumento e falando que a inflação está muito descontrolada, que é um risco reduzir tanto assim. E o outro grupo dizendo que não, que dá para reduzir bastante a taxa de juros, que a gente está com uma situação semelhante à década de 1990, onde tem altos ganhos de produtividade com a inteligência artificial, como foi com a internet, e isso é suficiente para você deixar a taxa de juros bem mais baixa, mesmo com a inflação um pouco mais alta, porque essa inflação não vai se manter com os ganhos de produtividade que virão”, destacou.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, também destacou a divergência entre os dirigente do Fed. “Isso mostra uma maior dificuldade do comitê na tomada de decisões em meio ao balanço de riscos que continua delicado, com inflação longe da meta e atividade desacelerando”, afirmou. Para 2026, o analista destacou que o Fomc sinalizou que projeta apenas um corte de 0,25 ponto percentual, o que fará com a os juros passem para 3,25% e 3,5% ao ano, “sem alterações em relação ao último documento de projeções divulgado em setembro”. Segundo ele, o movimento atual do Fed tende a ser considerado “hawkish” (menos tolerante com a inflação) e os índices de ações norte-americanas subiam levemente após a divulgação da decisão.