Fed mantém os juros básicos e reforça preocupação com a inflação

Em dia de Copom, Federal Reserve afirma que inflação permanece elevada e e decide manter taxa básica de juros norte-americana no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano, como o esperado pelo mercado

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu, nesta quarta-feira (18/6), por unanimidade, manter a taxa básica de juros norte-americana entre 4,25% e 4,5% ao ano, como o esperado pelo mercado, sem fazer menções ao novo conflito no Oriente Médio.

De acordo com a instituição, embora as oscilações nas exportações líquidas tenham afetado os dados, indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a se expandir a um ritmo sólido. “A taxa de desemprego permanece baixa e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação permanece relativamente elevada”, disse o colegiado na nota.

Em mais uma “super quarta”, dia de decisões dos comitês de política monetária dos bancos centrais do Brasil, Copom, e dos Estados Unidos, Fomc, o Fed, sob o comando de Jerome Powell, destacou que, ao considerar a extensão e o momento de ajustes adicionais à meta para a taxa básica de juros, avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspectivas e o balanço de riscos.

“O Comitê continuará reduzindo seus investimentos em títulos do Tesouro, títulos de dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências. O Comitê está fortemente comprometido em apoiar o emprego máximo e retornar a inflação à sua meta de 2%”, acrescentou.

Conforme o comunicado do Fomc, o colegiado continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. “O Comitê está preparado para ajustar a orientação da política monetária, se necessário, caso surjam riscos que possam impedir o cumprimento de seus objetivos”, disse o órgão,  reforçando que segue monitorando a ampla gama de informações, “incluindo dados sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, bem como desenvolvimentos financeiros e internacionais”.

“A decisão do Fed veio como esperada, e a expectativa do mercado estava no material de projeções, que mostra uma piora nas estimativas de inflação dos Estados Unidos, passando de 2,7% para 3%, neste ano, e de 2,2% para 2,4%, no ano que vem”, explicou Gustavo Cruz estrategista-chefe da RB Investimentos. Ele lembrou que, nas projeções de juros, ainda são esperados dois cortes no segundo semestre. “Quando a gente olha ponto por ponto, dois dirigentes que não queriam mudança de juros subiram a sua expectativa para nenhuma mudança de juros neste ano. Acho que essa talvez seja uma das grandes mudanças do material anterior para esse”, destacou Cruz.

Na avaliação do economista, para o ano que vem, uma mudança um pouco mais significativa no comunicado do Fed foi que a maior parte dos integrantes do Comitê sinalizam apenas um corte nos juros em 2026, o que levaria os juros norte-americanos para em torno de 4%, neste ano, e, entre 3,50% e 3,75% ao ano no próximo. 

O economista e consultor André Perfeito lembra que o dólar vem desvalorizando no Brasil por conta do diferencial da taxa de juros e, principalmente, pela posição relativamente melhor do Brasil no meio desta crise tarifária e o novo conflito no Oriente Médio. “Vale relembrar que tudo mais constante o Brasil não foi taxado por Trump, mas no fundo recebeu um desconto em relação aos demais países. Já no caso do Oriente Médio o Brasil tem um hedge natural contra isso, afinal produzimos petróleo”, destacou.

Decisão do Copom

Apesar de o mercado estar dividido sobre a decisão do Copom de hoje, na avaliação dele, os esforços do Banco Central em controlar a inflação “estão dando frutos” e os úktimos dados monstram uma certa desaceleração do custo de vida, que pode fazer com que BC brasileiro seja menos agressivo com a política de juros e mantenha a taxa básica da economia (Selic), em 14,75% ao ano.

Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, destacou que esse diferencial dos juros brasileiros pode ter segurado o dólar, “mas ainda há probabilidade de revisões para cima da inflação dos itens administrados de curto prazo (como conta de luz) e dos custos fiscais nas próximas semanas”. “A despeito da desaceleração do varejo e indústria nos EUA, a inflação ainda encontra-se em níveis elevados, e Fed reiterou o discurso hawkish (mais duro com a inflação) ”, afirmou Velho, que manteve em 15% ao ano a previsão para a nova taxa Selic pelo Copom.

Segundo Velho, a derrubada dos vetos do Executivo pelo Congresso, promete mais despesa pública e uma inflação maior de curtíssimo prazo pelo item energia elétrica e portanto, tende a criar uma rigidez do dólar no curtíssimo prazo na faixa de R$ 5,50. “Entretanto, se confirmar a alta da Selic para 25 pontos-base, os DIs futuros de juros curtos (pois o mercado não está 100% precificado) devem ajustar para alta na sexta-feira, e, portanto, limitam a intensidade desse movimento de recuperação do dólar, além da influência do leilão de títulos prefixados do Tesouro Nacional”, acrescentou.