Fed mantém juros e segue preocupado com inflação mais elevada nos EUA

Em decisão com um voto contrário, Fed mantém juros básicos entre 4,25% e 4,50% ao ano e indica piora de cenário para inflação e PIB

Em mais uma superquarta de decisões dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos, o Fomc, comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), decidiu, nesta quarta-feira (19/3), manter a taxa básica de juros no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano, refletindo maior preocupação do impacto da atual política econômica do presidente dos EUA, Donald Trump, especialmente na inflação. A decisão que não foi unânime, mas era aguardada pelo mercado.

De acordo com o comunicado do Fomc, os indicadores recentes “sugerem que a atividade econômica continuou a se expandir em um ritmo sólido”, o desemprego segue estável e a inflação continua um pouco elevada, mas as projeções indicaram piora nos índices mais à frente. O Comitê reforçou que está “fortemente comprometido em apoiar o emprego máximo e retornar a inflação ao seu objetivo de 2%”.

Ao avaliar a condução da política monetária, o Fomc informou na nota que “estaria preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado se surgirem riscos que possam impedir a obtenção das metas”. O órgão também indicou que seguirá reduzindo as participações em títulos do Tesouro norte-americano e de títulos lastreados em dívidas de agências e hipotecas de agências.

“A partir de abril, o Comitê diminuirá o ritmo de queda das participações em títulos, reduzindo o limite de resgate mensal em títulos do Tesouro de US$ 25 bilhões para US$ 5 bilhões”, destacou o documento. “Comitê manterá o limite de resgate mensal em títulos de dívida de agência e títulos lastreados em hipotecas de agência em US$ 35 bilhões. acrescentou.

Votaram pela manutenção o presidente do Fed, Jerome Powell, o vice-presidente, Michael Barr, assim como Michelle W. Bowman; Susan M. Collins; Lisa D. Cook; Austan D. Goolsbee; Philip N. Jefferson; Adriana D. Kugler; Alberto G. Musalem; e Jeffrey R. Schmid.  Apenas o Christopher J. Waller, não apoiou nenhuma mudança para a faixa de meta dos fundos federais, mas preferiu continuar o ritmo atual de declínio nas participações em títulos.

Mais tarde, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá manter o ritmo de alta da taxa básica da economia (Selic) em 1,0 ponto percentual, para 14,25% ao ano, conforme as expectativas do mercado.

Repercussão

O estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, considerou que, uma das grandes mensagens do Fed foi que existe uma divisão dentro da instituição sobre o que priorizar nesses primeiros efeitos que estão sendo notados pela política econômica de Trump: atividade econômica ou inflação.

“A tendência, pelas projeções do Fed, é que a atividade econômica vai ficar mais enfraquecida e a inflação mais alta. Uma parcela relevante do Comitê acha que a inflação mais alta é o mais importante, mas, do outro lado, a maioria, e muito provavelmente com o presidente Powell estão mais preocupados com a atividade”,  afirmou ele, que aposta em, pelo menos, uma queda dos juros neste ano. “Ainda acho que o Fed vai fazer sim algum corte de juros, em breve, mesmo que seja só um, o que responderia a minoria que acredita que a inflação tem que ser muito bem cuidada, mas, de qualquer forma, com essa tese de que a atividade está enfraquecendo, essa é a grande probabilidade agora, pelo que eles colocaram na mesa de números”, afirmou Cruz.

Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, avaliou que a manutenção da taxa de juros pelo Fed era amplamente esperada, e, assim como no comunicado de janeiro, o de hoje “destacou a estabilidade nas condições econômicas nos últimos meses, com o desemprego em níveis baixos e a inflação ainda em patamar um pouco elevado. Por outro lado, reconheceu que as incertezas em torno do cenário econômico se elevaram desde a última reunião”.

“Mais importante do que as decisões e o próprio comunicado, hoje, foram divulgadas as novas projeções dos membros do Fomc para indicadores e decisões sobre juros. De um lado, foi mantida a expectativa de mais dois cortes de 0,25 ponto percentual em 2025, levando as taxas de juros para o intervalo entre 3,75% e 4%. De outro, ocorreram alterações nas projeções para inflação e desemprego, refletindo uma piora nas expectativas”, alertou Igliori. Ele lembrou que a previsão do Fed de dezembro para o índice de preços PCE passou de 2,5% para 2,7% e que a taxa de desemprego deve subir de 4,3% para 4,4% na projeção de dezembro. Além disso, houve uma “redução no crescimento do Produto interno Bruto (PIB) “mais substantiva”, de 2,1% para 1,7%.

Ao comentar sobre a entrevista de Powell explicando a piora dos indicadores de confiança e nos potenciais impactos das tarifas sobre as importações que estão sendo aplicadas por Trump, em ambos os caso, o presidente do Fed “reconheceu que a incerteza cresceu, mas que é muito cedo para antecipar os resultados sobre os indicadores econômicos objetivos (atividade e inflação em particular), mas admitiu que parte dos ajustes nas projeções são sim expectativas sobre efeitos das tarifas”.

“Não houve surpresas na decisão de hoje e o Fomc seguiu o protocolo de não oferecer pistas sobre os próximos movimentos de política monetária. No entanto, embora tenha repetido que o mercado de trabalho está forte e que a inflação permanece acima da meta, o colegiado destacou que a incerteza sobre o cenário econômico aumentou”, destacou. “A vida dos membros do Fomc ficou mais difícil, mas até o momento os ajustes nas perspectivas para a política monetária foram bastante parcimoniosos. Até a próxima reunião muita coisa pode mudar”, afirmou Igliori.