O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou, nesta quarta-feira (29/10), novo corte de juros, de 0,25 ponto percentual, reduzindo o intervalo da taxa básica para 3,75% a 4% ao ano, em uma decisão que não foi unânime. Ao mesmo tempo, sinalizou uma pausa em dezembro para avaliar os impactos das duas reuniões.
“A incerteza sobre as perspectivas econômicas permanece elevada. O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e considera que os riscos de queda para o emprego aumentaram nos últimos meses”, afirmou o comunicado do Fomc, o comitê de política monetária do Fed.
Além do presidente do Fed, Jerome Powell, votaram a favor do corte de 0,25 ponto percentual nos juros básicos: John C. Williams, vice-presidente; Michael S. Barr; Michelle W. Bowman; Susan M. Collins; Lisa D. Cook; Austan D. Goolsbee; Philip N. Jefferson; Alberto G. Musalem; e Christopher J. Waller. O recém empossado no banco Stephen I. Miran defendeu um corte maior, de 0,5 ponto percentual, como na reunião anterior. E, por último, Jeffrey R. Schmid, votou pela manutenção.
No comunicado, os membros do colegiado reconheceram que a atividade econômica continua crescendo, “mas em ritmo moderado”. Segundo a instituição, os dados de emprego apresentaram desaceleração na criação de empregos em agosto e a taxa de desemprego permaneceu baixa, contudo, a inflação subiu desde o início do ano “e permanece um pouco elevada”.
De acordo com analistas, a decisão de novo corte de 0,25 ponto percentual era esperada, e, com isso, essa expectativa contribuiu, em grande parte, para a queda do dólar frente ao real nos últimos dias. Pouco antes da decisão, a divisa norte-americana era negociada a R$ 5,34, com desvalorização de 0,28%, mas voltou a subir e a ficar acima de R$ 5,35 após as declarações de Powell.
Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, apontou que a principal novidade do discurso do Fed é de que não há garantia de queda de juros em dezembro. “Por isso, o dólar voltou a subir um pouco”, destacou. Segundo ele, frente a outras moedas, o dólar ainda apresentava uma leve alta, em torno de 0,2%, em relação ao conjunto de seis moedas de maior liquidez e consideradas fortes – euro, iene, dólar canadense, dólar australiano, libra esterlina, coroa sueca e franco suiço – que compõem o Índice DXY. “Houve um pequeno no mercado ajuste após a decisão”, disse.
O economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, ressaltou que o mercado ainda tem uma expectativa do mercado para mais um corte de juros na próxima reunião do Fed, em dezembro, mas Powell afirmou na coletiva que “dezembro não está garantido”. Uma das surpresas na decisão foi a divergência dupla, com o último indicado de Trump, Miran, pedindo corte maior. “Isso até estava no radar, mas um dos dirigentes pediu para manter a taxa de juros”, afirmou.
Na avaliação de Jason Vieira, economista-chefe da Lev Intelligence, o Fed tentou passar uma mensagem de confiança no arrefecimento da economia, “porém os dados podem ainda não corroborar com esta visão”. Ele destacou o fato que o BC norte-americano, finalmente, “colocou um ponto final no aperto quantitativo (Quantitative Tightening)”.
“O mercado vinha cobrando há meses. Isso marca o fim do processo de drenagem de liquidez iniciada em 2022, que se arrastou além do razoável (deveria ter sido finalizado muito antes), com impacto desnecessário sobre as condições financeiras globais e o excesso de liquidez”, acrescentou.
Para Vieira, o problema é que os indicadores de demanda e investimento dos EUA ainda mostram ritmo mais forte do que o desejado, especialmente nos serviços e consumo das famílias. “Se essa dinâmica persistir, o risco do Fed é precisar reverter o corte ou postergar novos”, alertou. Para ele, a dissidência dentro do Fomc foi outro ponto relevante no comunicado. “Tal contraste ainda não reforça a falta de consenso sobre o estágio do ciclo monetário e evidencia a incerteza quanto à força da economia, especialmente pela figura polêmica de Miran”, afirmou.