ROSANA HESSEL
Apesar da expectativa de um novo ciclo de redução da taxa básica da economia (Selic), a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) opera no vermelho, nesta quarta-feira (2/8), devido ao mau humor do mercado global após o rebaixamento dos Estados Unidos pela Fitch Rating. A agência de classificação de risco norte-americana retirou o triplo A dos títulos da dívida de longo prazo do governo norte-americano e a nota da maior economia do planeta passou de AAA para AA+.
As bolsas europeias fecharam em queda superior a 1%, diante da perda de apetite por risco. Em Londres, o FTSE 100 registrou queda de 1,36%, mesma queda registrada em Frankfurt, na Alemanha, o Índice Dax; Em Madri, o índice Ibex 35 caiu 1,92%, enquanto o PSI, de Lisboa, tombou 1,67%.
Por volta das 13h30, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, recuava 0,81%, a 120.301 pontos. Os papeis da Cielo liderando as perdas, com desvalorização em torno de 8%. Enquanto isso, em Nova York, o Índice Nasdaq, das empresas de tecnologia, escorregava 2,25%. Já o Índice Dow Jones recuava 0,67%.
Copom à vista
Apesar de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, achar que o Copom vai ouvi-lo e reduzir a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, isso dificilmente acontecerá. As apostas do mercado indicam um corte menor e gradual em meio ao aumento de incertezas externas e também sobre a expectativa de piora no quadro fiscal a partir da segunda metade do ano. As pressões do Centrão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) podem sair bem caras para o contribuinte, que sempre paga a conta dos aumentos de gastos desenfreados dos governos da vez.
De acordo com o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, as boas notícias do governo Lula já podem ter acabado e, daqui para frente, o tempo pode fechar nesta segunda metade do ano. Os desafios não serão poucos, a começar pelo novo arcabouço fiscal, que depende do aumento de arrecadação para ser factível, e da reforma tributária que está confusa e poderá ser inóqua se a aliquota ficar em torno de 30% se houver muitos setores fora da reforma, como algumas projeções já apontam para isso. Ele estima a necessidade de um aumento da carga tributária em torno de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para que o governo consiga cumprir as metas fiscais do arcabouço até 2026.
“Essas incertezas afastam a hipótese de que poderemos recuperar o grau de investimento. As agências de rating melhoraram as notas recentemente pelo esforço conjunto de anos de aperfeiçoamento da política econômica, sendo que o governo atual mantve minimamente uma trajetória que evita riscos mais graves. Mas isso não é suficiente para retornamos a ter o selo de bom pagador”, escreveu Vale, em relatório enviado para os clientes hoje. Ele lembra que, quando o Brasil conquistou o grau de investimento, o país registrava superavit primário de 4% do PIB e a dívida pública bruta era cadente, de 60% do PIB. “Certamente, neste governo, não haverá tempo hábil para voltarmos ao investiment grade”, frisou.
Pelas estimativas de Vale e da maioria dos analistas de mercado, hoje, o Banco Central deverá reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual, para 13,50% ao ano. O analista está mais pessimista do que o mediana das estimativas coletadas pelo BC no boletim Focus para a taxa básica no fim do ano (de 12%), pois prevê a Selic fechando o ano em 12,25%. “É possível que a Selic caia mais”, disse ele, ao Blog.