Em ata do Copom, Banco Central aumenta o uso da palavra risco e deixa porta aberta para alta de juros

Banco Central amplia ata em sete parágrafos, para 29, usa palavra risco 11 vezes e reconhece piora do cenário. Além disso, afirma que "não hesitará em elevar a taxa de juros" se julgar apropriado

Banco Central do Brasil/Foto: Raphael Ribeiro/BCB

ROSANA HESSEL

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a reunião realizada nos dias 30 e 31 de julho, divulgada nesta terça-feira (6/8), deixa claro a preocupação dos diretores com a piora do cenário inflacionário. Por conta disso, o colegiado foi mais duro do que no comunicado da semana passada e deixou a porta aberta para aumento na taxa básica da economia (Selic), pois afirmou que “não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”. 

A decisão do Copom pela manutenção da taxa Selic em 10,50% foi unânime e, na ata, com sete parágrafos a mais do que a ata da reunião de junho, o Comitê reiterou que o processo desinflacionário está mais lento e, além disso, aumentou o uso da palavra risco, passando de seis para 11. O colegiado ressaltou na ata que “o momento corrente é de ainda maior cautela e de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras”. “À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, destacou o documento.

“Como usual, as estratégias adotadas pelo Comitê refletirão o compromisso com o cumprimento da meta de inflação, visando também a reancoragem das expectativas de inflação de modo a minimizar o custo da desinflação. O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, destacou o texto da ata.

O Copom também reforçou a preocupação com a questão fiscal e destacou que a percepção dos agentes financeiros sobre o aumento dos gastos públicos. De acordo com ata, “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e,  consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.  “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, alertou. A ata repetiu o trecho que destaca o fato de que “políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”.

Cenários

No cenário de referência para a trajetória da taxa de juros, o Comitê elevou a taxa de câmbio para o dólar de R$ 5,30 para R$ 5,55 e adotou a “hipótese” de volta da bandeira tarifária verde entre  dezembro de 2024 e de 2025. O colegiado ainda destacou na ata que manteve o entendimento usual, sem qualquer alteração, “de que o horizonte relevante para a política monetária é de seis trimestres à frente, correspondendo, agora, ao primeiro trimestre de 2026”, e reconheceu que a inflação segue acima do centro da meta, de 3%.  

“Em ambos os cenários apresentados, de referência e alternativo, há um processo de desinflação ao longo do horizonte, mas a projeção para o horizonte relevante está acima da meta de inflação de 3%”, destacou o texto. No cenário de referência, a projeção da inflação acumulada em quatro trimestres para o primeiro trimestre de 2026 é 3,4% e, no cenário alternativo, a projeção é de 3,2%. As projeções de inflação do Copom para o ano-calendário, no cenário de referência, situam-se em 4,2% para 2024 e 3,6% para 2025. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 5% em 2024 e 4% em 2025. No cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,2% para 2024 e 3,4% para 2025. 

“O Comitê avalia que o cenário externo se mantém adverso. A menor sincronia nos ciclos de queda dos juros, já iniciados em alguns países avançados e ainda por iniciar em outros, contribui para a volatilidade de variáveis de mercado”, ressaltou o texto.