Belém — As mudanças climáticas provocaram R$ 31 bilhões de perdas de janeiro a junho, em 10 eventos identificados pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg) no “Radar de Eventos Climáticos e Seguros”, lançado oficialmente, nesta sexta-feira (14/11), em Belém, na Casa do Seguro, em evento paralelo à 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP30). Esses dados, contudo, ainda não incluem eventos recentes como o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito das Garças, no Paraná, no último fim de semana.
Elaborado pela CNSeg em parceria com a Ernst & Young (EY) com coleta de dados junto às seguradoras associadas, o Radar identificou as perdas com 67 eventos significativos entre 2022 e 2024, somaram R$ 184 bilhões nos últimos três anos. Com isso, a média anual foi de aproximadamente R$ 60 bilhões por ano, conforme antecipado pelo presidente da CNSeg, Dyogo Oliveira, na quarta-feira (12/11).
Em 2024, por exemplo, o total das perdas somou R$ 60,4 bilhões e foram pagos R$ 7,3 bilhões em indenizações relacionadas a eventos climáticos, o equivalente a 13%, sobretudo nos ramos patrimonial (58%), automóvel (19%), rural (15%) e habitacional (6%).
Além disso, o Radar integra o primeiro módulo do Hub de Inteligência Climática da CNseg que, segundo o presidente da CNseg, a ferramenta vai fornecer dados relevantes que permitirão ampliar o diálogo técnico entre o setor segurador e outros setores importantes da economia.
“A partir do Radar, é possível ter um mapa que efetivamente vai dizer, em cada evento climático, quanto isso custou em indenização paga pelo setor de seguros, sendo possível calcular qual é a lacuna de proteção e o impacto direto na economia, permitindo propor políticas públicas, parcerias com outras instituições, sejam elas públicas ou privadas, e subsidiar a interlocução de alto nível com o governo”, afirmou.
O presidente da CNSeg lembrou que os desastres climáticos, que estão cada vez mais frequentes, acabam impactando as contas públicas, porque geram aumento de custos nas contas públicas que não estavam programados no Orçamento, como aconteceu em 2024, com as enchentes do Rio Grande do Sul, que provocaram R$ 35,6 bilhões em perdas diretas, afetando 2,4 milhões de pessoas e causando 182 mortes.
Lacunas de proteção
O estudo será atualizada anualmente com o objetivo de colaborar para o entendimento do cenário e as perdas provocadas por desastres provocados por mudanças climáticas. A ideia é criar uma série histórica nacional comparável aos relatórios internacionais da Swiss Re e da Howden, ampliando a capacidade do Brasil de monitorar riscos e planejar políticas de adaptação.
Conforme os dados do Radar, estima-se que cerca de 9% das perdas econômicas dos desastres climáticos são cobertas pelo mercado segurador brasileiro. Em 2024, essa média atingiu 13%, principalmente em função das enchentes no Rio Grande do Sul. Mas, em comparação à experiência de países desenvolvidos, a cobertura média estimada varia entre 20% e 55%, a depender da metodologia no período analisado pelo estudo.
Embora chuvas extremas e inundações sejam os episódios mais frequentes, as secas são os eventos climáticos que geram os maiores danos financeiros nos períodos analisados, uma vez que atingem vastas áreas e de forma prolongada, de acordo dados do estudo. O documento de quase 90 páginas expõe desigualdades regionais na capacidade de enfrentamento aos eventos climáticos: o Sul do país concentrou as maiores perdas econômicas, mas o Norte e o Nordeste apresentaram os menores níveis de proteção, com menos de 2% das perdas seguradas.
A partir de estudo realizado pela CNseg junto às suas associadas, estima-se que cerca de 9% das perdas econômicas dos desastres climáticos são cobertas pelo mercado segurador brasileiro. Em 2024 essa média atingiu 13%, principalmente em função das enchentes no Rio Grande do Sul). Mas, em comparação a experiência de países desenvolvidos, a cobertura média estimada varia entre 20% e 55%, a depender da metodologia, período analisado e recorte considerado pelo estudo.
Luciana Dall’Agnol, superintendente de sustentabilidade da CNseg, destacou que o radar lançado pela entidade indica que, além das perdas financeiras, o estudo indica perdas indiretas e impacto socioeconômico identificadas pelo radar. “Há um incremento acentuado na quantidade de eventos climáticos ao longo do tempo e, obviamente, há uma frequência maior em outros anos, a depender da previsibilidade“, afirmou.
De acordo com a executiva, a meta da entidade é aumentar em 30% o acesso ao seguro, e, por conta disso, a CNSeg trabalha na criação do seguro catástrofe e, em conjunto com a Superintendência Nacional do Seguro Privado (Susep), participa de um grupo de trabalho para desenvolver o modelo de um fundo para desastres climáticos, a fim de criar uma cobertura para fazer o atendimento às pessoas impactadas por esses eventos.
“O objetivo é criar espaço para o acesso ao seguro dos mais expostos ao risco climático e que não possuem nenhum tipo de cobertura e que precisam de uma ajuda imediata do governo”, afirmou a executiva da CNSeg. Ela informou que os indivíduos pretos, pobres e moradores de periferia são os mais afetados pelos efeitos climáticos, e, portanto, uma das funções do impulsionamento de seguros é atender comunidades periféricas.
Além disso, a executiva lembrou que não existe atualmente cobertura para estruturas do governo federal. “E quando falamos em aumentar a cobertura, é preciso ampliar o seguro para obras públicas também. No caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, o aeroporto de Porto Alegre tinha uma cobertura mínima, que não cobriu todos os prejuízos provocados pelas enchentes no ano passado”, destacou Luciana Dall’Agnol.
*A jornalista viajou a convite da CNSeg