A mediana das estimativas dos economistas do mercado para a taxa básica da economia (Selic) coletadas pelo Banco Central no relatório Focus segue sendo revisada para cima, e, nas projeções para os juros futuros. Mesmo com o BC anunciando mais uma intervenção extraordinária no câmbio, o dólar segue valorizado em um novo patamar, diante de um quadro fiscal incerto.
As novas projeções do mercado para a taxa básica da economia (Selic) sinalizam que ela poderá ficar acima de 16% ao ano, em 2025, devido ao maior esforço da política monetária para que a inflação retorne para o centro da meta, de 3%, na primeira metade de 2026, segundo analistas.
Nesta segunda-feira (16/12), o BC realizou um leilão extraordinário de dólares, injetando US$ 1,6 bilhão – a maior venda à vista em pouco mais de quatro anos — e ainda realizou uma oferta de US$ 3 bilhões em leilão de linha — modalidade com compromisso de recompra anunciada na sexta-feira passada, quando vendeu US$ 845 milhões de dólares em um leilão à vista, um dia após a venda US$ 4 bilhões em dois leilões de linha. Apesar da nova intervenção inesperada, a divisa norte-americana continuou sendo negociada acima de R$ 6, com alta de 0,36%, no início da tarde de hoje.
“Tudo indica que o dólar atingiu um novo patamar e, provavelmente, deverá ficar em torno de R$ 6 por um período mais prolongado”, afirma Fernando Honorato, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Os economistas do banco liderados por ele estão debruçados sobre as planilhas refazendo as projeções macroeconômicas.
A mediana das projeções para o dólar neste ano passaram de R$ 5,95 para R$ 5,99, entre o boletim Focus da semana passada e o desta semana, e, para os anos seguintes, o novo piso dessa moeda passou para R$ 5,70. Em 2025, a previsão para a divisa norte-americana no fim do ano passou de R$ 5,77 para R$ 5,85. As estimativas para o resultado primário das contas públicas seguem no vermelho até 2027 e rompendo o piso inferior da meta fiscal, que permite um rombo de até 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB).
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, lembrou ainda que o dólar segue valorizado por conta da expectativa do mercado com a reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), que começa amanhã e termina na quarta-feira. “O dólar está mais forte no mundo hoje, com investidores aguardando o Fed. O banco central dos EUA deve revisar para cima as projeções de juros adiante, o que impacta o nosso câmbio também”, explicou.
De acordo com Cruz, as falas do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Brasil, afirmando que aqui se taxa demais, pode sinalizar que o país também pode ser alvo do republicano. Ele lembrou que a taxa de juros para os contratos futuros com vencimento em 2027 está em 15,4% ao ano.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 100 pontos-base, elevando-a para 12,25% ao ano, e informou que haverá mais duas altas da mesma magnitude. Isso indica que a taxa básica deverá subir para 14,25% ao ano, até março de 2025, o que impactou nas projeções para a Selic nos próximos anos. A mediana das projeções do mercado passou de 13,50% para 14% ao ano no fim de 2025 e, pelas novas estimativas, os juros básicos seguirão acima de 10% até dezembro de 2027. Para 2026, por exemplo, as perspectivas para a Selic no fim do exercício subiu de 11% para 11,25% anuais.
Pelas novas perspectivas da Tendências Consultoria, as probabilidades de concretização dos cenários pessimista e básico passaram para 30% e 60%, respectivamente. Em ambos os cenários, as estimativas indicam piora no quadro fiscal. Pelas estimativas da consultoria, no cenário pessimista, por exemplo, a taxa Selic ficará acima de 12% ao ano até 2034.
Inflação em alta
Apesar do choque de juros prometido pelo Banco Central, as expectativas de inflação seguem acima do teto da meta, de 4,50%, neste ano e em 2025, em grande parte, devido à valorização do dólar, que deverá continuar em patamar elevado, em grande parte, devido à piora do quadro fiscal e também pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca no próximo ano.
A mediana das estimativas no Focus para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024, subiu de 4,84% para 4,89%. E, para o fim de 2025, a mediana das estimativas para o IPCA passou de 4,59% para 4,60%. Além disso, o mercado continua projetando a inflação acima do centro da meta, de 3%, até 2027.
Já a mediana das estimativas para o crescimento do PIB brasileiro em 2024 subiu de 3,39% para 3,42% – quarta alta consecutiva no boletim Focus. Um mês antes, a projeção era de 3,10%. Considerando as 31 previsões atualizadas nos últimos cinco dias úteis, a projeção de do mercado passou de 3,44% para 3,49%.
Nos anos seguintes, as perspectivas são de desaceleração da atividade econômica, com o PIB crescendo em torno de 2% até 2027.