Um dia após o governo anunciar o pacote fiscal prevendo R$ 70 bilhões em cortes de gastos nos próximos dois anos e R$ 327 bilhões até 2030, o dólar comercial voltou a subir e bater novo recorde do Plano Real, nesta quinta-feira (28/11). A divisa norte-americana encerrou o dia cotado a R$ 5,989 para a venda, refletindo a frustração do mercado com o pacote fiscal, que foi anunciado junto com a mudança da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil, uma medida de aumento de despesas a partir de 2026.
A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) operou no vermelho ao longo do dia, com feriado nos Estados Unidos. Perto do fim do pregão, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, apresentava queda de 2,46%, a 124.531 mil pontos. O tombo diminuiu um pouco e o IBovespa encerrou o pregão a 124.610 pontos, 2,40% abaixo da véspera.
A queda da Bolsa e a escalada do dólar deram sequência ao mau humor do mercado em relação ao anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em rede nacional na noite da véspera, quando a moeda norte-americana bateu o recorde anterior, cotada a R$ 5,91, com a expectativa de que haveria o pacote de ajuste fiscal acompanhado de medidas de aumento de despesas. No ano, o dólar acumula alta de pouco mais de 23%.
Analistas indicam que o custo do benefício vai consumir grande parte do pacote, de R$ 70 bilhões até 2026, mas que ainda não havia sido enviado ao Congresso no formato de Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
As estimativas para o impacto da mudança no IR variam entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões e o mercado não acredita que o governo conseguirá neutralizar esse custo com a compensação de aumento de imposto de quem ganha mais de R$ 50 mil.
Ao longo do dia, a divisa norte-americana chegou a ultrapassar a barreira dos R$ 6 em meio às repercussões negativas do pacote fiscal junto ao mercado. Pelos cálculos do especialista em contas públicas, Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, o impacto das medidas anunciadas por Haddad, devem ser menores do que os R$ 70 bilhões previstos, chegando a pouco mais da metade: R$ 45,1 bilhões no acumulado de 2025 e 2026.
O consenso entre analistas é de que o pacote é modesto e insuficiente para equilibrar as contas públicas e conter a trajetória de expansão da dívida pública, porque o governo vai cada vez mais precisar emitir títulos do Tesouro Nacional para cobrir os rombos fiscais.
“O pacote é decepcionante, muito difuso, de rendimento incerto e excessivamente carregado. Além disso, adicionar uma medida estimulante que reduz a receita do Imposto de Renda, juntamente com uma carga tributária maior e incerta sobre os que ganham alta renda. Isso consolida a visão de que o governo continua a adotar uma estratégia de impostos e gastos em vez de se concentrar diretamente fazer um ajuste fiscal, dada a deterioração da dinâmica da dívida pública e o aumento do prêmio de risco fiscal”, destacou o economista Alberto Ramos, chefe para a América Latina do Goldman Sachs.