Dólar bate novo recorde e fecha o dia cotado a R$ 5,989. Bolsa cai novamente

Frustração com pacote fez dólar bater novo recorde desde o início do Plano Real e Bolsa cai 2,4% e segue abaixo de 125 mil pontos

This ilustration shows a man counting US dollars in Caracas on January 28, 2019. Venezuela devalued its currency by almost 35 percent on Monday to bring it into line with the exchange rate of the dollar on the black market. The exchange rate is now fixed at 3,200 bolivars to the dollar, almost matching the 3,118.62 offered on the dolartoday.com site that acts as the reference for the black market. / AFP / YURI CORTEZ

Um dia após o governo anunciar o pacote fiscal prevendo R$ 70 bilhões em cortes de gastos nos próximos dois anos e R$ 327 bilhões até 2030, o dólar comercial voltou a subir e bater novo recorde do Plano Real, nesta quinta-feira (28/11). A divisa norte-americana encerrou o dia cotado a R$ 5,989 para a venda, refletindo a frustração do mercado com o pacote fiscal, que foi anunciado junto com a mudança da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil, uma medida de aumento de despesas a partir de 2026.

A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) operou no vermelho ao longo do dia, com feriado nos Estados Unidos. Perto do fim do pregão, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, apresentava queda de 2,46%, a 124.531 mil pontos. O tombo diminuiu um pouco e o IBovespa encerrou o pregão a 124.610 pontos, 2,40% abaixo da véspera.

A queda da Bolsa e a escalada do dólar deram sequência ao mau humor do mercado em relação ao anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em rede nacional na noite da véspera, quando a moeda norte-americana bateu o recorde anterior, cotada a R$ 5,91, com a expectativa de que haveria o pacote de ajuste fiscal acompanhado de medidas de aumento de despesas. No ano, o dólar acumula alta de pouco mais de 23%.

Analistas indicam que o custo do benefício vai consumir grande parte do pacote, de R$ 70 bilhões até 2026, mas que ainda não havia sido enviado ao Congresso no formato de Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

As estimativas para o impacto da mudança no IR variam entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões e o mercado não acredita que o governo conseguirá neutralizar esse custo com a compensação de aumento de imposto de quem ganha mais de R$ 50 mil.

Ao longo do dia, a divisa norte-americana chegou a ultrapassar a barreira dos R$ 6 em meio às repercussões negativas do pacote fiscal junto ao mercado. Pelos cálculos do especialista em contas públicas, Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, o impacto das medidas anunciadas por Haddad, devem ser menores do que os R$ 70 bilhões previstos, chegando a pouco mais da metade: R$ 45,1 bilhões no acumulado de 2025 e 2026.

O consenso entre analistas é de que o pacote é modesto e insuficiente para equilibrar as contas públicas e conter a trajetória de expansão da dívida pública, porque o governo vai cada vez mais precisar emitir títulos do Tesouro Nacional para cobrir os rombos fiscais.

“O pacote é decepcionante, muito difuso, de rendimento incerto e excessivamente carregado. Além disso, adicionar uma medida estimulante que reduz a receita do Imposto de Renda, juntamente com uma carga tributária maior e incerta sobre os que ganham alta renda. Isso consolida a visão de que o governo continua a adotar uma estratégia de impostos e gastos em vez de se concentrar diretamente fazer um ajuste fiscal, dada a deterioração da dinâmica da dívida pública e o aumento do prêmio de risco fiscal”, destacou o economista Alberto Ramos, chefe para a América Latina do Goldman Sachs.