BRB passa a ofertar títulos isentos de IR a 115,5% do CDI

Uma semana após a liquidação do Banco Master, papéis do BRB, como LCI e LCA pagam, são negociados a taxas acima da média do mercado, de 90% a 96% do CDI. Banco público nega problema de liquidez

Uma semana após a derrocada do Banco Master, que foi liquidado no último dia 18 pelo Banco Central, o Banco de Brasília (BRB) passou a ofertar títulos com remunerações muito acima da média do mercado.

De acordo com uma fonte de uma corretora de um banco privado, investidores de papeis do BRB querem se desfazer desses títulos, porque estão preocupados com a instituição após a liquidação do Master, cujo dono, o banqueiro Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal na noite da véspera da intervenção do BC.

Papeis do BRB, como Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e Letra de Crédito Imobiliário (LCI), que são isentos do Imposto de Renda, estavam sendo negociados com remuneração de 115,5% do Crédito de Depósito Interbancário (CDI) — que acompanha a taxa básica da economia (Selic), atualmente de 15% ao ano.

É o caso da XP Investimentos, que, na tarde desta segunda-feira (24/11), tinha mais de 280 ativos do BRB com vencimentos de janeiro a outubro de 2026 remunerando a 115,5% do CDI — taxa acima da média de grandes bancos, que gira em torno de 90% a 96% do CDI. A aplicação mínima desses títulos de LCI e LCA era de pouco mais de R$ 1 mil.

“Quando um banco começa a oferecer papéis com taxas acima da média do mercado, sempre há algum problema”, alertou o professor de Economia do Insper Otto Nogami.

Procurada, a assessoria do BRB negou qualquer crise de liquidez no banco e afirmou que a instituição é “sólida” e “opera normalmente”. “O BRB refuta qualquer especulação sobre suposta crise de liquidez. A instituição é sólida e opera normalmente, assegurando todos os serviços financeiros, incluindo crédito, investimentos e atendimento em canais digitais e presenciais”, informou a nota do BRB enviada ao Blog. Segundo a instituição, o BRB não está emitindo novos títulos com essa remuneração, mas, no mercado secundário, esses papeis estão sendo renegociados com uma remuneração acima da média do mercado. As emissões do BRB desse tipo de papel tem girado em torno de 96% do CDI.

“O Distrito Federal é o principal acionista do BRB, o que realça o papel estratégico da instituição no desenvolvimento econômico e social da região. Essa prioridade orienta as decisões do Banco. O BRB mantém o seu compromisso com a ética e com transparência e tem adotado medidas que possam assegurar ainda mais a proteção da instituição e dos seus clientes”, acrescentou a nota.

De acordo com o comunicado da instituição, “as operações mencionadas se referem ao mercado secundário, ou seja, trata-se de títulos emitidos em datas anteriores e que estão sendo negociados entre investidores sem intervenção do BRB”. “Atualmente, não há emissão primária de LCA, e as emissões atuais de LCI estão sendo realizadas a 97% do CDI”, destacou a nota.

O banco também informou que “emite CDB sem liquidez, com rentabilidade entre 112% e 113% do DI, remuneração compatível ao mercado para os prazos de emissão”. “A instituição, portanto, não está ofertando títulos com remuneração acima da média”, complementou.

Em março deste ano, o BRB fez uma oferta de compra do Master que foi vetada pelo Banco Central em setembro. E, após a liquidação do banco decretada pelo BC em meio à deflagração da Operação Compliance Zero, da Polícia Federal, o então presidente do BRB Paulo Henrique da Costa foi afastado e o conselho de administração escolheu novo presidente: Nelson Antônio de Souza. A instituição, agora, aguarda a conclusão do rito de governança previsto e a aprovação da indicação pela Câmara Legislativa do Distrito Federal.