O Produto Interno Bruto (PIB), indicador de formação de riqueza do país, ficou estável no terceiro trimestre e variou 0,1% na margem (na comparação com os três meses anteriores), na série com ajuste sazonal, graças aos gastos do governo que foram o que mais cresceram no período, conforme dados divulgados nesta quinta-feira (4/12).
Em valores correntes, o PIB somou R$ 3,2 trilhões. O IBGE revisou o crescimento dos trimestres anteriores, elevando de 1,4% para 1,5%, o avanço do primeiro trimestre; e de 0,2% para 0,3% para 0,2%, no segundo, na mesma base de comparação. Com isso, os dados confirmam as projeções dos analistas ouvidos pelo Blog que haveria uma desaceleração mais acentuada na atividade econômica de julho a setembro, refletindo o impacto da política monetária restritiva do Banco Central.
Do lado da oferta, a agropecuária e a indústria avançaram 0,4% e 0,8%, na margem, e o setor de serviços, que mais pesa na atividade econômica, andou de lado com variação de 0,1% no mesmo período, contribuindo para a estagnação do PIB. E, do lado da demanda, o consumo das famílias também parou de crescer, com variação tímida de 0,1% na margem.
Enquanto que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) avançou 0,9%, enquanto que o consumo do governo saltou 1,9%, refletindo o impacto dos estímulos fiscais da União, que segue com as contas desequilibradas e as autoridades perseguindo o piso da meta fiscal para evitar corte de gastos, o que contribuiu para evitar uma queda na margem por conta do ajuste para cima do PIB do segundo trimestre.
A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2025 foi de 17,3% do PIB, o que representa uma ligeira redução em relação ao mesmo período de 2024 (17,4%), de acordo com o órgão. Já a taxa de poupança foi de 14,5% do PIB, igualando a taxa (14,5%) do mesmo período de 2024.
No setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 3,3%, enquanto as importações tiveram variação positiva de 0,3%, na comparação com o segundo trimestre de 2025.
Na comparação com o mesmo trimestre de 2024, o PIB avançou 1,8%, com crescimento mais expressivo na agropecuária, de 10,1%. Na indústria e nos serviços, a expansão foi de 1,7% e de 1,3%, respectivamente.
Repercussão
A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), destacou que a revisão dos dados anteriores do PIB feita pelo IBGE deixou o primeiro semestre mais forte, com isso, ela elevou a previsão do PIB deste ano de 2% para 2,2%, por conta desse ajuste.
“Mas do ponto de vista da política monetária, o PIB está mostrando desaceleração mais forte do consumo das famílias. O número agregado é mais alto, por conta do consumo do governo e do agronegócio”, lembrou. A analista, que previa variação de 0,1% no PIB do terceiro trimestre manteve em zero a previsão para o PIB dos últimos três meses do ano.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ressaltou que a desaceleração medida pelo PIB
segue seu curso. Na avaliação deles, o crescimento de 1,8% no PIB na comparação interanual só não foi menor porque as commodities ajudaram. “Cerca de metade do crescimento em 2025 decorrerá da agropecuária e da indústria extrativa, o que reforça o papel desses setores no crescimento da economia, não só de agora. Dos 2,1% de crescimento esperado em 2025, cerca de 1,1 ponto percentual será por conta das commodities”, afirmou.
Pelas projeções de Vale, o PIB da agropecuária e da indústria extrativa devem ter o melhor resultado esse ano, com expansão de 11,3% e 7,3% respectivamente. “O PIB da indústria, na margem, foi o que mais cresceu no terceiro trimestre, mas praticamente por conta da indústria extrativa, que expandiu 1,7%, no mesmo período enquanto a indústria de transformação aumentou apenas 0,3%”, acrescentou o economista. Ele manteve em 2,1% a previsão de avanço do PIB neste ano e reduziu de 1,6% para 1,5% a estimativa para o ano que vem.
Leonardo Costa, economista do ASA, avaliou que o resultado do PIB confirmou um quadro de desaceleração gradual da atividade doméstica, em linha com os indicadores antecedentes do período e também destacou que a safra recorde e o desempenho da indústria extrativa foram fundamentais para o avanço de 1,8% na comparação anual. “O setor externo continuou exercendo papel relevante no desempenho da economia, com as exportações avançando 7,2% na comparação com o trimestre anterior, impulsionadas por petróleo e gás, veículos automotores, produtos agropecuários, celulose e químicos, enquanto as importações cresceram 2,2%, na mesma base de comparação, com destaque para minerais não metálicos, químicos, máquinas e equipamentos de transporte, itens ligados ao ciclo de investimentos”, destacou.
Costa lembrou ainda que, apesar da forte injeção de renda via pagamento de precatórios, o estímulo fiscal gerou “uma resposta moderada” na atividade econômica. “Isso mostra que a economia vem perdendo tração, especialmente no consumo das famílias, onde o efeito defasado de uma política monetária significativamente mais apertada já aparece com mais clareza”, afirmou.
“A dinâmica continua sustentada por agronegócio e petróleo, enquanto indústria de transformação e serviços ligados à demanda doméstica exibem sinais crescentes de cansaço. A revisão das séries indica que o início de 2025 foi mais forte do que inicialmente divulgado, mas isso não altera o quadro: o ano segue marcado por arrefecimento ao longo dos trimestres”, acrescentou.
Olhando para o quarto trimestre, na avaliação de Costa, os indicadores antecedentes “sugerem que outubro foi um mês de atividade mais fraca, coerente com o padrão observado no terceiro trimestre. “Por outro lado, novembro dá sinais ainda incipientes (muitos baseados em notícias de varejo e relatos do setor) de uma retomada parcial, favorecida pela Black Friday. Ainda assim, esse impulso é pontual e não altera, por ora, a tendência predominante de moderação da atividade ao entrar no final de 2025”, afirmou. Segundo ele, a equipe do Asa está revendo a projeção do PIB deste ano, após as revisões do IBGE, mas ele não crê que haverá mudanças na atual estimativa de 2,2%.
Na avaliação do economista e consultor André Perfeito, a estagnação do PIB no terceiro trimestre gera um certo clamor pelo corte de juros, “o mais rápido possível”, e, provavelmente, o mercado deverá revisar as projeções para 2026 da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ao ano. “Mas, data vênia, irei discordar. O Copom (Comitê de Política Monetária) já deixou claro que olha as expectativas de inflação. Eles não vão fazer nada antes que o mercado revise as expectativas de IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que mede a inflação oficial), e os economistas não vão revisar o IPCA, porque dão sobrepeso aos aspectos fiscais pendurados no pleito presidencial do ano que vem”, afirmou.