Bradesco faz ajustes pontuais e aposta em fim de aperto monetário

Banco eleva de 1,8% para 1,9% estimativa de alta do PIB deste ano, mas mantém em 1,3% a de 2026. Além disso, aposta que ciclo de alta da Selic terminou

Apesar das dúvidas no ambiente doméstico e dos recentes ajustes do cenário externo, por conta das idas e vindas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na guerra tarifária, o banco Bradesco fez pequenos ajustes nas projeções macroeconômicas.

A instituição revisou de 1,8% para 1,9% a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, e, para 2026, manteve em 1,3% a projeção de avanço do PIB. Além disso, aposta que o ciclo de aperto monetário iniciado pelo Banco Central, em setembro de 2024, chegou ao fim e os juros vão parar de subir, devendo se estabilizar no patamar atual, de 14,75% até o fim deste ano.

O cenário traçado pela equipe liderada pelo economista-chefe Fernando Honorato, é baseado na hipótese de que a desaceleração das economias norte-americana e chinesa terá efeitos na atividade global. Com isso, a projeção de crescimento do PIB mundial foi revisada de 3,1% para 2,3% em 2025. 

O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, reconheceu que os ajustes foram pontuais, reagindo a Trump. Na avaliação da equipe de economistas da instituição financeira, o acordo recente entre EUA e China pode reduzir o ímpeto da desaceleração global, mas não impede que ocorra.

“O constante vai e vem da política comercial norte-americana dificulta a distinção entre sinal e ruído na comunicação do novo governo. No entanto, dois eventos recentes colocam limites ao que podem ser as tarifas aplicadas pelos EUA ao final das negociações”, acrescentou o relatório divulgado nesta sexta-feira (16/5), para clientes. O texto destacou que, no acordo com o Reino Unido, foi criado um piso de 10% para as tarifas e, com a China, foi instaurado um teto de 40%. 

‘Diante da maior clareza sobre a política comercial dos EUA, ao menos por ora, revisamos novamente nossas projeções para o PIB global. Com isso, voltamos a projetar crescimento de 1,9% da economia doméstica neste ano e mantivemos expansão de 1,3% em 2026, até termos um pouco mais de clareza sobre a intensidade do funcionamento da política monetária, que virá somente com os dados dos próximos meses”, acrescentou.

Fim do ciclo de alta de juros

Os analistas do Bradesco mantiveram em 14,75% a previsão para a taxa básica da economia (Selic), em 14,75%. E as novas estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, passaram de 5,6% para 5,4% e a projeção para o dólar de R$ 5,80 para R$ 5,70, tanto para o fim de 2025 quanto para o fim de 2026. E, para o IPCA, a projeção para o fim de 2026, manteve-se estável de 3,7%, assim como a da taxa Selic, de 11,75% anuais. 

“Embora as tarifas tenham viés inflacionário para os Estados Unidos, acreditamos que o excesso de oferta de bens industriais chineses resultará em uma ligeira desaceleração inflacionária no Brasil”, destacou Honorato.  Na avaliação do economista e sua equipe, o ciclo de alta da taxa básica da economia (Selic), iniciado pelo Banco Central em setembro de 2024, encerrou na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 6 e 7 deste mês. E a perspectiva é de que “a desaceleração da economia e da inflação no segundo semestre levarão o BC a começar os cortes em dezembro”.

“A hipótese de desaceleração da atividade também condiciona a descompressão do IPCA. O índice cheio deverá continuar pressionado pelos preços dos alimentos e, em 12 meses, fará pico apenas em agosto. No entanto, prevemos que os serviços comecem a desacelerar na margem, acompanhando o desempenho da economia”, informou o documento.