A resiliência da economia brasileira no primeiro trimestre do ano, apesar do forte aperto monetário que vem sendo conduzido pelo Banco Central desde setembro de 2024, tem feito governo e instituições financeiras revisarem para cima a projeção do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) rencentemente. Nesta segunda-feira (30/6), foi a vez do Bradesco elevar de 1,9% para 2,1% a estimativa de avanço do PIB deste ano, em linha com as novas projeções do Banco Central divulgadas no Relatório de Política Monetária (RPM), na semana passada, e com a mediana das estimativas do mercado coletadas pelo BC no boletim Focus, de 2,1%.
Contudo, a equipe de economistas liderada por Fernando Honorato reforçou a previsão de desaceleração do PIB no segundo trimestre para 0,4% após o avanço de 1,4% no primeiro trimestre. Para 2026, o Bradesco revisou a previsão de alta do PIB de 1,3% para 1,5%, abaixo da mediana das estimativas do mercado, de 1,87%.
As novas estimativas do Bradesco para a inflação oficial deste ano, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), recuaram de 5,4% para 5%, ainda acima do teto da meta de 4,50%. E, para 2026, aumentou de 3,7% para 3,8%. No Focus, as medianas das projeções do mercado estão em
Os analistas do Bradesco reconhecem que há espaço para a queda de juros ainda neste ano. No relatório divulgado aos clientes, Honorato destacou a equipe liderada por ele aposta em um corte na taxa básica da economia (Selic) na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, apesar de o Banco Central sinalizado a interrupção do ciclo de aperto monetário, mas afirmando que a Selic, atualmente em 15% ao ano, deverá permanecer em patamar elevado por um período “bastante prolonogado”. Pelas projeções do Bradesco, os juros, no fim deste ano, podem recupar para 14,50% anuais – antes de 14,25% –, passando para 11,75%, em 2025, mesma projeção do relatório anterior.
“Na nossa visão, caso o cenário de atividade e inflação evoluam como antecipamos, haverá espaço para início de cortes em dezembro, começando com 0,5 ponto percentual. Essa conclusão deriva da nossa réplica do modelo do Banco Central: ao manter a Selic estável, até lá, acreditamos que o modelo do BC aponta inflação ao redor ou abaixo da meta no horizonte relevante daquele período, tudo o mais constante”, escreveu Honorato. Ele, no entanto, admitu que a comunicação recente do Banco Central, com foco na convergência das expectativas, é um risco para essa projeção. “Se o corte ocorrer apenas quando as expectativas do Focus estiverem no centro da meta, então, o tempo e o espaço para ajustes podem demorar mais e ser bastante menor”, disse.
Com as novas projeções, o banco estima um juro real (descontada a inflação) ao redor de 7,5% ao ano – patamar restritivo uma vez que a taxa neutra estimada pelo mercado varia entre 5% e 5,5%.
No boletim Focus, a mediana das estimativas para a taxa Selic no fim deste ano está 15% anuais, e, para o fim de 2026, em 12,50% ao ano.
Intecerteza no quadro fiscal
Pelas projeções do Bradesco, o quadro fiscal permanece incerto, mas o banco manteve a expectativa de cumprimento do arcabouço em 2025 e em 2026, apesar de reconhecer que a discussão em torno da derrubada dos decretos de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo Congresso “tenha dificultado o cumprimento da meta em 2026”.
“Acreditamos que o governo conseguirá alcançá-la com medidas extraordinárias. Essa sempre foi uma hipótese fundamental para consolidar os elementos de nosso cenário, em particular, o do câmbio e o da taxa de juros”, destacou o relatório de Honorato.
Na avaliação dele, o debate mais estrutural, entretanto, deve ficar apenas para o Orçamento de 2027, “em que vários ajustes serão necessários para que não haja compressão das despesas discricionárias do governo, a ponto de paralisar a máquina pública, e alteração nos prêmios de risco associados à dinâmica futura da dívida”. Por ora, ele espera um deficit primário de 0,4% do PIB, neste ano, e saldo negativo de 0,3% do PIB, em 2025.
Enquanto isso, as projeções para a dívida pública bruta — que vem sendo monitorada pelo mercado financeiro de forma geral — ficaram praticamente estáveis em comparação com as do mês anterior, sendo de 80,2% do PIB, neste ano, e de 85,3%, no seguinte.
Pelas projeções do Bradesco, o dólar, que vem desabando globalmente devido, em grande parte, à piora do quadro fiscal dos Estados Unidos, deverá encerrar o ano cotado a R$ 5,50, abaixo dos R$ 5,70 previstos no relatório anterior. “Desde o fim do ano passado, houve alteração na percepção de riscos do cenário doméstico. Chegando à metade do ano, há uma clara apreciação da taxa de câmbio, refletindo, majoritariamente, a fraqueza do dólar vinda das incertezas tarifárias e fiscais nos EUA. Em paralelo, seguimos em um ambientede expectativas de desaceleração global e de cortes de juros mundo à fora, o que compõe um quadro de apetite a risco para países emergentes”, destacou o documento.
Segundo os analistas do Bradesco, para o Brasil, essa combinação tem contribuído para reduzir as pressões inflacionárias e sobre a expectativa de taxa de juros, com alguma compressão da estrutura a termo e dos prêmios de risco e , como a economia brasileira manteve forte dinamismo na primeira metade do ano, as projeções de crescimento do PIB foram ajustadas para cima.
Veja algumas das atualizações das estimativas macroeconômicas do Bradesco:
