Depois de bater recordes seguidos e ultrapassar a barreira de 160 mil pontos pela primeira vez na história, nesta semana, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) experimentou a maior queda desde 2021, nesta sexta-feira (5/12), em meio à realizações de lucro e frustração do mercado financeiro com o cenário político. O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, desabou 4,31% para 157.369 pontos, e fez as empresas listadas na Bolsa perderem mais de R$ 180 bilhões em valor de mercado, por conta do anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), nome escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses de cadeia pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da trama golpista.
O senador anunciou a escolha do ex-capitão pelo nome dele para concorrer como candidato do PL nas eleições presidenciais de 2026 nas redes sociais. Bolsonaro está inelegível e cumpre pena na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, desde 25 de novembro, após danificar a tornozeleira eletrônica quando estava em prisão domiciliar.
Com esse tombo expressivo no Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, uma vez que o candidato do mercado financeiro para ser ungido por Bolsonaro era o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), as empresas listadas na B3 perderam R$ 182,7 bilhões em um único dia, somando R$ 4,74 trilhões o valor total de mercado, de acordo com levantamento da consultoria Elos Ayta.
“O pregão desta sexta-feira trouxe um movimento expressivo de correção na B3, com as maiores empresas do índice devolvendo valor de mercado de forma significativa”, avaliou Einar Rivero, sócio da Elos Ayta. Conforme os dados levantados por ele, o Itaú Unibanco liderou as quedas do dia ao perder R$ 19,1 bilhões em valor de mercado. Em segundo lugar, ficou a Petrobras, que desvalorizou R$ 17,7 bilhões em um único dia. “Ambos, líderes históricos em capitalização na Bolsa, foram responsáveis por cerca de 20% de todas as perdas registradas no pregão”, destacou Rivero.
Logo após o anúncio da pré-candidatura de Bolsonaro, o dólar disparou 1,46%, e encerrou o pregão cotado a R$ 5,432, com valorização de 2,29%, na comparação com o dia anterior. “A reação do mercado foi automática. Ainda é cedo para cravar, mas a decisão “implode” possíveis alianças entre centro e direita para o ano que vem”, afirmou Perfeito. Ele lembrou que o mercado apostava em Tarcísio para construir essas alianças e pavimentar a vitória da direita em 2026. “Mas, agora, cabe avaliar se Flávio Bolsonaro consegue reunir esse amplo espectro político”, destacou.
De acordo com o chefe de análise política da Warren Investimentos, Erich Decat, a eventual candidatura de Flávio Bolsonaro “ainda precisa decantar antes de ser tratada como um movimento concreto”. “Há ‘muita água para passar debaixo da ponte’ até o início oficial do ciclo eleitoral, e o ambiente político segue altamente volátil. No cenário atual, esse gesto, claramente antecipado, parece muito mais uma mensagem política do que um passo real rumo à sucessão de Jair Bolsonaro. Trata-se de um recado direto ao Centrão, que vinha ocupando o vácuo deixado pelo enfraquecimento do ex-presidente e avançando na articulação de uma candidatura própria de centro-direita, com Tarcísio de Freitas despontando como principal nome”, acrescentou, em nota aos clientes da corretora.
Para ele, o anúncio é uma sinalização do clã Bolsonaro de que ele ainda pretende influenciar a montagem do campo da direita, e que não aceitará ser alijado da condução desse processo. “É, portanto, menos sobre lançar Flávio agora e mais sobre marcar território, preservar relevância e evitar que outros atores consolidem hegemonia antes da hora”, complementou.
Veja o quadro elaborado com as maiores perdas da B3:
