A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) bateu novo recorde, nesta sexta-feira (19/9), ao encerrar o pregão com alta de 0,25%, aos 145.865 pontos, a quarta máxima histórica apenas nesta semana. Ao longo do dia, o Índice Bovespa, principal indicador da B3, chegou a atingir a máxima de 146.399 pontos ao avançar 0,62%. Na semana, a B3 acumula alta de 2,53%. No mês, a valorização foi de 3,14% e, no ano, de 21,27%.
Esse movimento da Bolsa é um tanto atípico após o Banco Central reforçar, na quarta-feira (17/9), que pretende manter a taxa básica da economia (Selic) em 15% ao ano por um período prolongado e ainda sinalizou que pode até subir os juros se for necessário.
De acordo com analistas, esse novo recorde da Bolsa está mais relacionado com o cenário externo e a perspectiva de queda nos juros dos Estados Unidos. Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) reduziu os juros básicos em 0,25 ponto percentual, após 9 meses de estabilidade, para 4% a 4,25%, e essa mudança contribuiu para a queda do dólar no mundo e animou os investidores brasileiros também.
Apesar de ter rompido o piso de R$ 5,30 na véspera da decisão do Fed, o dólar a subir marginalmente, nesta sexta-feira, encerrando o pregão cotado a R$ 5,32, para a venda, com alta de 0,03%, em um dia considerado tranquilo. Em Nova York, o Índice Dow Jones subiu 0,37% e a Nasdaq, bolsa das empresas de tecnologia, avançou 0,57%.
Na B3, empresas do setor de planos de saúde lideraram as altas da B3. Na quinta-feira, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) tomou uma decisão favorável às operadoras de planos de saúde, que deixaram de ser obrigadas a cobrir tratamentos que não estão no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). As ações da Qualicorp encerraram o dia com valorização de 9,48%.
Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Way Investimentos, acredita que tudo o que está acontecendo na Bolsa e no câmbio está relacionado com o cenário externo, pois mais quase 60% dos investidores da B3 são estrangeiros. “Esses investidores é que estão ditando os grandes investimentos na Bolsa e isso vai continuar assim, a não ser que venha mais alguma punição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”, afirmou.
Neste mês, conforme os dados da B3, o percentual de investidores não residentes está em 58,1%, acima dos 55,8% contabilizados em 2024. Na semana, a Bolsa acumula alta de 2,53%.
Outro dado que tem animado os investidores locais é o tal “pacote Tarcísio”, uma aposta dos operadores na candidatura do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos). “O mercado está animado com essa possível candidatura, mas ela foi negada por ele na última quarta-feira”, destacou Santo.
Mudança de paradigma
O problema, segundo os analistas, é que o mercado financeiro está tendo um comportamento fora do comum quando os juros acabam ficando mais altos, o que afugenta o investidor do mercado de ações. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central brasileiro, deixou claro que não pretende baixar os juros tão cedo, e, mesmo assim, a bolsa acabou subindo, na contramão do esperado nesses momentos, pois juros mais altos deixam a renda fixa mais atrativa e não os investimentos na renda variável, como é o caso da Bolsa, que tem mais risco para o aplicador.
“A renda fixa é mais atrativa quando os juros estão elevados, como atualmente. Mas a questão da Bolsa em alta é explicada também por conta de alguns fatores, como a atividade econômica que ainda continua aquecida, apesar da desaceleração em curso. Ou seja, o pior do cenário esperado com o tarifaço dos Estados Unidos não aconteceu”, destacou Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
“O Fed sinalizou que vai continuar cortando os juros e isso atrai investidores estrangeiros para a Bolsa brasileira. Além disso, as ações também estão pagando bons dividendos apesar de todo esse quadro mais incerto na economia doméstica. Isso atrai mais gente interessada na Bolsa”, explicou. Contudo, ele lembrou que, de um modo geral, tecnicamente, quando os juros sobem, beneficia a renda fixa e prejudica a Bolsa. “Agora, está ocorrendo o contrário”, destacou.
Para Alexandre Espirito Santo, da Way, o mercado de risco está tendo um comportamento bastante estranho nesses 38 anos que ele acompanha a Bolsa. “Há uma mudança de paradigmas e a forma de precificação das ações. É tudo inteligência artificial, com o dólar mais fraco no mundo e todo mundo apostando nisso. Isso é perigoso, porque se algo mudar, não vai dar tempo de fazer nada”, alertou.