O Banco Central reduziu mais uma vez a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 2,1% para 2% e manteve as estimativas de inflação acima da meta, conforme Relatório de Política Monetária (RPM) divulgado nesta quinta-feira (25/9) .
A projeção é mais pessimista do que a do Ministério da Fazenda que, recentemente, reduziu a estimativa de expansão da economia neste ano de 2,5% para 2,3%, e abaixo da mediana das estimativas do mercado, de 2,16%.
De acordo com o relatório do BC, a ligeira redução do PIB deste ano decorre dos efeitos, ainda incertos, do aumento das tarifas de importação pelos Estados Unidos (EUA), “bem como de sinais de moderação da atividade econômica no terceiro trimestre”. “Esses fatores foram parcialmente compensados por prognósticos mais favoráveis para a agropecuária e para a indústria extrativa”, acrescentou.
O BC manteve a perspectiva de moderação da atividade econômica ao longo do segundo semestre deste ano, tendência que deve se estender para o ano seguinte, como reflexo da política monetária restritiva, com a taxa básica da economia (Selic), de 15% ao ano, seguir elevada por período bastante prolongado, conforme indicação da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada.
A atividade ainda aquecida e o mercado de trabalho com o desemprego em patamares abaixo do que o esperado estão pesando na decisão de manutenção da Selic na última reunião do Copom. “A taxa de desocupação, que já se encontrava em patamar baixo, voltou a recuar no trimestre encerrado em julho, com dinamismo da ocupação, especialmente a formal”, destacou o documento ao ressaltar que o desemprego em julho ficou no mínimo histórico, de 5,7%, e que a renda salarial segue acelerando.
De acordo com o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, os exercícios da instituição indicam que o avanço das plataformas digitais de transporte por aplicativo e entregas foram responsáveis pelo aumento da força de trabalho entre 0,3 a 0,6 ponto percentual na taxa de ocupação. Ele ainda destacou o forte aumento da inadimplência, tanto da pessoa física quanto da pessoa jurídica, “por conta de mudanças regulatórias”, principalmente.
A previsão inicial no relatório para o PIB de 2026 é de crescimento de 1,5%. “A projeção considera a manutenção da política monetária em campo restritivo, o baixo nível de ociosidade dos fatores de produção, a perspectiva de desaceleração da economia global e a ausência do impulso agropecuário observado em 2025”, destacou o documento, que prevê redução no ritmo de crescimento da produção agrícola de 9%, neste ano, para 1%, em 2026.
“A forte base de comparação deve limitar o crescimento da agropecuária em 2026. A safra recorde de grãos em 2025 contou com condições climáticas bastante favoráveis, que podem não se repetir em 2026”, destacou o relatório. Além disso, de acordo com o BC, o aumento nos preços relativos de defensivos e fertilizantes tende a reduzir o seu uso, com impacto negativo sobre a produtividade. A instituição projeta moderação no abate de bovinos, “reflexo da crescente participação de fêmeas nos abates dos últimos anos, fator que pode reduzir a disponibilidade de animais”.
No relatório, o BC destacou que, apesar de algum recuo desde o relatório de junho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da inflação oficial, permaneceu acima do teto da meta, de 4,5%, passando de 5,32%, no acumulado em 12 meses até maio, para 5,13%, em agosto na mesma base de comparação.
“Nas projeções do cenário de referência, a inflação se mantém acima do limite superior do intervalo de tolerância nos próximos meses e depois, mesmo seguindo o movimento de queda iniciado no segundo trimestre, ainda permanece acima da meta”, ressaltou o documento.
De acordo com o diretor do BC, a inflação de alimentos e bens industriais acabaram desacelerando, mas os preços de serviços continuam pressionando mais o indicador. Ele ainda destacou a “surpresa benigna” para a inflação por conta do crédito do bônus de Itaipu na conta de energia de agosto, mas reconheceu que as projeções mensais indicam manutenção acumulada da inflação acima do teto da meta neste ano.
Pelas projeções do Banco Central, o IPCA deverá encerrar o ano em 4,8%, e seguindo acima do centro da meta, de 3%, nos anos seguintes, passando para 3,6%, em 2026, e 3,2%, em 2027. Logo, a inflação deverá seguir acima do centro da meta até o primeiro trimestre de 2028, conforme as estimativas do BC. No horizonte relevante monitorado pelo BC, que é o primeiro trimestre de 2027, a inflação projetada está em 3,4%.
Segundo Guillen, os principais fatores para o aumento das projeções no horizonte relevante são as seguintes: dinamismo do mercado de trabalho, em contexto de hiato positivo, em torno de 0,5% na nova projeção, e aumento da projeção de energia elétrica residencial. E, para a redução do indicador, os principais fatores são: a valorização do real frente ao dólar e a redução das expectativas de inflação.