O Banco Central revisou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, de 1,9% para 2,3%. Além disso, a autoridade monetária elevou as previsões para a inflação oficial deste ano, de 3,5% para 4% e do próximo, de 3,2% para 3,4%, ambas acima do centro da meta, de 3%, conforme dados que já constavam na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta semana.
As novas estimativas estão no Relatório de Inflação (RTI) de junho, divulgado, nesta quinta-feira (27/6), em novo formato, mais alinhado aos bancos centrais das principais economias globais. De acordo com o documento, a probabilidade de a inflação oficial ultrapassar o teto da meta em 2024 e em 2025 aumentou. Já as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2026 foram mantidas em 3,2%.
Conforme os dados do RTI, o aumento da projeção de inflação no horizonte relevante “resultou principalmente da atividade econômica mais forte que o esperado, que levou a uma elevação no hiato do produto estimado, mas foi contido pela subida da taxa de juros real”. “Contribuíram ainda para a elevação da projeção o aumento das expectativas de inflação, a depreciação cambial, a inércia do aumento da projeção de curto prazo e a utilização de taxa de juros neutra maior”, acrescentou o texto.
De acordo com o RTI, o aumento da taxa de juros real “foi fundamental para evitar um aumento mais significativo na projeção”, mas a instituição reconheceu que o cenário segue “mais desafiador”. De acordo com o texto, o Copom, ao manter a taxa básica da economia (Selic) em 10,50% ao ano, analisou e comunicou um cenário alternativo com a Selic constante ao longo do horizonte relevante, as projeções para a inflação situam-se em 4,0% e 3,1% para 2024 e 2025, respectivamente.
“Refletindo a elevação da projeção, a probabilidade de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo
de tolerância aumentou para 2024 e 2025″, alertou o RTI. Segundo o texto, a probabilidade estimada, construída a partir dos intervalos de probabilidade, passou de 19% para 28%, no caso de 2024, e de 17% para 21%, no caso de 2025. A revisão do PIB, segundo o documento, “foi bastante afetada por surpresas positivas no primeiro trimestre, notadamente em impostos, nos componentes mais cíclicos da oferta, no consumo das famílias e na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)” .
A instituição informou que a projeção também incorpora os indicadores mensais disponíveis para o segundo trimestre, que apontam, de modo geral, para desaceleração da atividade econômica , inclusive pelo impacto das enchentes no Rio Grande do Sul. “Espera-se que os esforços para a reconstrução do RS contribuam positivamente para o crescimento do PIB no segundo semestre, somando-se ao impacto defasado da redução do grau de aperto monetário ocorrido ao longo do último ano”, destacou o documento.
Na avaliação do BC, o impacto líquido das enchentes no RS resultado do PIB do ano tende a ser negativo em alguns setores, como na agropecuária e em outros serviços (que inclui serviços prestados às famílias, como alojamento e alimentação fora de casa e atividades de lazer) e positivo para a construção e para a produção de alguns tipos de bens que podem ter sido perdidos.
A projeção da autoridade monetária para o desempenho da agropecuária passou de -1% para -2%, refletindo, principalmente, a piora nos prognósticos para a produção agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), principalmente a de soja e a de milho. Na indústria, a perspectiva de crescimento foi elevada de 2,2% para 2,7%. E, para o o setor de serviços as previsão de alta aumentou de 2% para 2,4%. “As principais contribuições para a alta vieram de previsões mais favoráveis para comércio e para ‘outros serviços’, bastante influenciadas pela perspectiva de crescimento mais forte do consumo das famílias”, destacou.
De acordo com o documento, a tragédia no RS ainda deve pressionar o resultado primário do governo neste ano. “O governo federal já adotou uma série de medidas para ajudar na reconstrução do estado e dar suporte a empresas e famílias. Algumas dessas medidas têm impacto no resultado primário, enquanto outras afetam apenas a dívida pública federal”, informou o texto. Segundo o relatório, a estimativa mediana dos analistas para o impacto da calamidade sobre o resultado primário do governo central é de R$ 25 bilhões, dos quais R$ 20 bilhões já estariam incorporados nas projeções.