Ata do Copom reforça alertas sobre fiscal e eleva a taxa de juros neutra para 4,75%

Em ata do Copom, Banco Central reconhece cenário mais desafiador e reforça preocupação com desancoragem das expectativas e com a questão fiscal

Crédito: Raphael Ribeiro/BC divulgação
Em ata do Copom, Banco Central faz novo alerta sobre a importância do cumprimento de metas para evitar

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), divulgou, nesta terça-feira (25/6) a ata da reunião da semana passada, reconhecendo que o cenário ficou mais “desafiador” e reforçou a preocupação com com piora nas projeções de inflação e com o equilíbrio das contas públicas. No documento, o BC fez um alerta de que “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia”, e, nesse sentido elevou a taxa de juros neutra de 4,5% para 4,75% anuais.

“O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, destacou um dos trechos da ata que, em relação a anterior, de maio, foi mais curta, com uma página e um parágrafo a menos.

Na reunião dos dias 18 e 19 de junho, o Banco Central decidiu, por unanimidade, interromper o ciclo de queda da taxa básica da economia (Selic) e manteve os juros básicos em 10,50% ao ano e continuou sem dar sinalização futura para as próximas reuniões. O Comitê destacacou que, unanimemente, avalia que se deve perseguir a reancoragem das expectativas de inflação “independentemente de quais sejam as fontes por trás da desancoragem ora observada”. Além disso, ressaltou que “a reancoragem das expectativas de inflação é vista como elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta”

De acordo com o documento, o Comitê avalia que a redução das expectativas de inflação “requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”. E, nesse sentido, informou que o Copom “não se furtará de seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação”.

Nova taxa neutra

O Copom ainda informou que debateu sobre as estimativas sobre a taxa neutra de juros que seriam utilizadas como hipótese para as projeções a serem analisadas. Segundo o documento, essa taxa foi elevada “marginalmente” para 4,75% anuais, após várias simulações. A taxa neutra é a que o mercado e o BC estimam em termos reais (descontada a inflação) que não interfere na atividade econômica.

“A taxa neutra é uma variável não observável, sujeita a grande incerteza na estimação. Observa-se tanto um debate doméstico quanto global sobre a dinâmica corrente da taxa neutra de juros”, informou a ata “Em função da incerteza intrínseca e da própria natureza da variável, o Comitê reforçou que a taxa neutra não é uma variável que deve ser atualizada em frequência alta e que tampouco deveria ter movimentos abruptos, salvo em casos excepcionais. 

Conforme os dados do documento, as projeções de inflação do mercado, apuradas pelo boletim Focus, do BC, passaram de 3,7%, em 2024, e de 3,6%, em 2025, para 4% e 3,8%, respectivamente. No cenário base de referência do Banco Central, considerando o dólar a R$5,30 e não mais a R$ 5,15 como na ata anterior, as projeções de inflação do Copom situam-se em 4%, para 2024, e 3,4% para 2025. Já as projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4%, para 2024, e de 4%, para 2025.

O Comitê ainda ressaltou que o cenário externo mantém-se adverso, “em função da incerteza com relação ao ciclo de queda de juros norte-americano e à persistência do processo desinflacionário nas principais economias”. “No período mais recente, alguns países desenvolvidos postergaram o ciclo de queda, enquanto outros optaram por um início cauteloso do processo de distensão monetária”, completou a ata.

Preocupação com o Rio Grande do Sul

De acordo com a ata, alguns membros mostraram maior preocupação com a inflação de alimentos no curto prazo, “destacando não só o efeito das enchentes do Rio Grande do Sul, como também revisões nos preços de alimentos em outras regiões”. Além disso, o documento destacou que a inflação de serviços seguiu sendo um tema de muito escrutínio, analisando-se suas diferentes dimensões, defasagens e perspectivas. “Parte do debate se concentrou na trajetória mais recente da inflação, em que a inflação de bens industriais e de alimentação no domicílio deixa de contribuir para a desinflação nesse estágio do processo desinflacionário. Concomitante a isso, a inflação de serviços, que tem maior inércia, assume papel preponderante na dinâmica desinflacionária no estágio atual”, acrescentou o texto.

A Ata ressaltou na sua conclusão que “o Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou
mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada” e, por isso, foi concluído optar por uma “política monetária mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária”.